16.12.03

Empório Celestial de Conhecimentos Benévolos

Os animais se dividem em:

a) pertencentes ao imperador
b)embalsamados
c) adestrados
d) leitões
e) sereias
f) fabulosos
g) cães soltos
h) incluídos nesta classificação
i) que se agitam como loucos
j) inumeráveis
k) desenhados com um pincel finíssimo de camelo
l) etc
m) que acabam de quebrar o jarro
n) que de longe se parecem com moscas

JORGE LUIS BORGES

20.11.03

A GRANDE METÁFORA

el fútbol es popular porque la estupidez es popular
Jorge Luis Borges

Tá. Eu certamente sou o único apreciador das metáforas do “dignífimo” Presidente. Podem me atirar os ovos e tomates, pois nessa época de crises o omelete com catchup será bem vindo. Mas, admito, eu acho todas as metáforas presidenciais lindas, claras e cristalinas. Com a simplicidade de um sólido euclidiano. Gosto muito das metáforas botânico-agrárias e também das de economia doméstica, todas muito simpáticas. Mas aprecio principalmente as metáforas futebolísticas. Tenho certeza que quase tudo na economia e política pode ser explicado e entendido por metáforas futebolísticas. E todo o resto que não pode ser explicado pela metáfora futebolística ou não vale a pena ser compreendido ou é só embromação mesmo.

E não é só política e economia, não. Se examinarmos com cuidado veremos que todas as grandes problemáticas humanas são encenadas por atores de caneleiras. A técnica, a tática, a malícia, a sorte, a superação do limite, a relação do Homem com as leis, sua interpretação e aplicação estão todas embutidas no Futebol. Está tudo lá dentro das quatro linhas de cal, nos estádios, nas concentrações, nas intermináveis e aparentemente irrelevantes discussões mesas-redondas. Uma dúvida banal: escalar o jogador talentoso ou aquele que cumpre bem as determinações táticas? É retomar a questão do Individual X Coletivo, qual é o mais importante? Ao se discutir a última escalação do Parreira estamos revivendo o eterno embate entre Hobbes e Locke. O Futebol é definitivamente a Grande Metáfora.

O Futebol pode ser entendido pelo prisma opaco da fofoca, ou seja, da mera comparação de modelos de comportamentos quando julgamos o caráter de um jogador, treinador ou dirigente. Porém ele pode ser compreendido também, como fez Nelson Rodrigues, no seu sentido épico-literário, em que mais que a cartase de teatro grego, são recriadas constantemente no gramado verdadeiras Ilíadas com Aquiles, Heitores e Rovilsons, seja num Maracanã lotado ou num campo da várzea.

Existem também críticas sérias ao exagero da metáfora futebolística. O Umberto Eco, que não é nenhum entusiasta do esporte bretão, tem um texto no Viagem na Irrealidade Cotidiana que conta como as discussões sobre futebol na Itália - corria 1978 - iam substituindo as discussões sobre os ataques das Brigadas Vermelhas e as verdadeiras querelas políticas. Nas mesas-redondas sobre futebol se permitiria brincar de gerir a Coisa Pública sem os dilemas da discussão política. É o lado ruim da alegoria futebolístia: quando a metáfora acaba eclipsando o metaforizado. O que é extremamente comum.

No entanto, curiosamente também neste texto, Eco relata a sua primeira ida a um estádio de futebol com seu pai. Ele diz que ao ver um estádio com dezenas de milhares de pessoas sentadas em torno de um gramado onde um punhado de pessoas se esforçava para dar um pontapé em uma bola, ele teve a sua primeira crise religiosa e duvidou da existência de Deus. Sob a luz enregeladora do sol do meio-dia se desenrolava um "espetáculo cósmico sem sentido", aquilo que Ottiero Ottieri teria chamado de Sentimento da Irrealidade Cotidiana. E, curiosamente, também para nosso caro semiólogo, o futebol, em seu avesso, serviu para um momento de total epifania Lispectoriana.

Enfim, para resumir: creio que o importante é saber que ao discutir o futebol, estamos sempre discutindo uma Outra Coisa. Seja como tragédia épica, pantomima ou um caótico balé niilista, o futebol está sempre nos representando de alguma forma. Digníssimo presidente, o senhor tem toda a razão: O Futebol é, sem dúvida, a Grande Metáfora. E bola pro mato, que o jogo é de campeonato!

4.11.03

Casos e Acasos Virtuais

Recebi um e-mail do Ratapulgo e fiquei sensibilizada.

Insatisfeito com meus 18 cm de pinto acabei me inscrevendo em diversos programas de aumento de pênis. Experimentei vários deles. Simultaneamente. Gastei muito tempo. Torrei muita grana. E pareciam todos não dar resultado algum. Extremamente frustrado acabei desistindo das massagens, sucções, pílulas e fétidos ungüentos.

No entanto - qual não foi minha surpresa, Fata - eis que numa bela manhã acordo com uma ereção de 57cm! Realmente todos os programas funcionaram e ainda tiveram resultados cumulativos! Era só questão de ter paciência! Fiquei absolutamente extasiado e liguei para uma amiga que certamente adoraria usufruir da minha nova condição anatômica.

Mas qual! Logo na primeira tentativa reparei que apenas uma parte do pênis mantinha o contato com a minha parceira pois o resto do corpo ficava muito longe, tornando difícil qualquer tipo de manifestação carinhosa como abraços e beijos, que deveriam ser lançados à distância apenas. E esse era o menor dos problemas.

O problema maior passou a ser que em cada relação sexual eu não apenas acabava atingindo o útero da parceira como freqüentemente chegava a perfurar os pulmões da pobrezinha. Não eram poucas as que terminavam nas madrugadas sangrando na maca de um pronto-socorro qualquer.

O que para mim começara como felicidade terminou como uma maldição, pois meu pênis não parava de se prolongar mesmo em estado de não excitação. Como o espaço útero-vaginal não era o suficiente para minha estrovenga que já atingira 89 cm, passei a me dedicar apenas às penetrações anais. Também sem resultados satisfatórios. Para meu desespero uma amiga muito estimada acabou por falecer, engasgada com meu próprio pênis que percorreu todo o sistema digestivo pelo lado contrário e ao chegar na garganta a sufocou até a morte sem que eu percebesse. Assim, uma a uma fui perdendo todas as parceiras que se dispunham a enfrentar a tão longa labuta de envolver sexualmente o meu mastruço.

Hoje sou um monstro que tem que andar por ai com um balde para carregar o que outrora foi meu orgulho e que hoje só me traz a vergonha e a infâmia. E o que é mais difícil de confessar é que agora o único modo que posso obter algum prazer sexual é introduzir (arduamente) meus 468cm pelo cano de esgoto do vaso sanitário e ficar apertando a descarga até atingir o orgasmo. Eu me pergunto: isso é vida? Terá valido a pena tanta ambição?

Por isso, minha querida Fatamorgana, lanço por você um apelo à todos que pensam em se utilizar desses métodos e técnicas de aumento peniano:
Sim, eles realmente funcionam. Mas se vocês tem amor às suas parceiras, não os utilizem! Não faça de seu pênis uma arma, a vítima pode ser você!

Obrigado.

Informou o serviço de utilidade ratapúlgica.

Casos e Acasos Virtuais

29.10.03

Funciona assim:

Quando você ataca os outros é Guerra.
Quando os outros te atacam é Terrorismo.

Quando você invade a terra dos outros é Ocupação.
Quando os outros ocupam sua terra é Invasão.

Funciona assim. Sempre funcionou.

24.10.03

Socoooooorro!

desculpem gentes,
mas tá tão difícil manter isso aqui atualizado.
além do trampo comendo 145% do tempo
o Speedy não está colaborando em nada
e até sem linha fiquei

tá foda, tá foda...
mas volto asim que possível para atormentá-los mais um pouco

beijos esparsos,

10.10.03

ADMIRACUNDO

Ele (Ratapulgo) arrepiara o couro da testa, mas admiracundo, o que deveria de ter sido à boa menção — de lisonja, tarabiscoito, propina.

(Guimarães Rosa - Estas Estórias)

7.10.03

Os bêbados equilibristas

"Brasil e Argentina parecem dois bêbados cambaleantes a cabecear nos postes. Só que, enquanto a Argentina parece estar a caminho da economia de mercado, o Brasil parece estar de volta ao bar."
(Roberto Campos)

Me espanta a sobriedade da economia de mercado de nuestros hermanitos após ter se embriagado de neoliberalismo. A Economia Argentina foi a queda do muro de Berlim do Bob Fields.

6.10.03

O Indivíduo

Não é curioso que as pessoas que mais pretendem defender a instância do "Indivíduo" são justamente as que mais gostam de classificar as outras em determinados padrões?

Defender o Indivíduo e a individualidade do total desaparecimento é muito lindo, é daquelas coisas que ninguém é contra e tal. Porém a impressão muito forte que eu tenho desse movimento pró-Indivíduo é que ele tenta salvar o capim ou as pedras ou as nuvens. Não adianta. O Indivíduo vai nascer, crescer, desabrochar do mesmo jeito - quer você faça uma força desesperada ou deixe pra lá. Fiquem tranqüilos, meus caros, o Indivíduo brota sozinho.

29.9.03

O segundo orifício

Todos os grandes escritores têm um segundo orifício anal na cabeça.

Pode começar com apenas uma simples covinha no queixo, mas a medida em que o escritor vai melhorando o estilo e se aperfeiçoando nas letras, esse segundo anus começa a tomar forma, chegando até a desenvolver cólon, reto e a pilosidade característica em torno desse segundo orifício.

– Repare como boca de Oscar Wilde foi com o passar do tempo se transformando em um anus. O que não lhe desagradou realmente.

– Dostoievsky tinha muita vergonha de sua condição e escondia o segundo orifício sob a vasta barba.

– Clarice Lispector tinha seu esfíncter facial dentro da pupila direita que se contraía vigorosamente a cada epifania.

– Jorge Luis Borges possuía até dois orifícios anais na face – um em cada narina.

– A cara inteira de George Bernard Shaw foi se modificando até transformar em uma enorme hemorróida.

E essa será uma dúvida que sempre acachapará o bom escritor: impedir seu talento de desabrochar ou andar por aí ostentando sua indelével cara de cu.

25.9.03

Paga e não bufa

Encheu o saco essa ladainha pseudo-liberal que vive reclamando da excessiva carga tributária brasileira (36% segundo consta). Que a classe média está em extinção. Que o governo malvado se mete demais na economia cobrando impostos enormes sobre tudo e nhenhenhé e blublublu. Tá, tá, tá, ninguém gosta disso. Mas e daí?

A questão é a seguinte: Só este ano o Brasil deve pagar pelo "serviço" de sua dívida a singela quantia de 47 bilhões de doletas. É uma sangria de recursos desgraçada - não é troco de feira não! Esse dinheiro vai ter que sair de algum lugar, meu caro. E é o do seu bolso mesmo, ô Juvenal. Ou você vai querer que o Brasil pare de pagar essa grana? Que dê um belo calote na dívida pública? Não é feio e deselegante deixar de pagar os credores, principalmente os internacionais? Pois então, bagual, paga aí e não enche o saco.

Ou vocês começam a apoiar um projeto de restruturação da dívida do terceiro mundo ou então vão chorar lá as suas lamentações de Jeremias nos pântanos de Mato Grosso.

24.9.03

Cabra Bão

“A função da ONU não deve ser remover os escombros dos conflitos que ela não pode evitar”

23.9.03

Carmina Burana

Brog que é brog tem que ter uma letrinha de música, né?
Pois então enchamos as canecas e cantemos juntos esse Crássico do Roquenrou do século XIII. Um, dois, três e já!

"IN TABERNA..." - Tradução de Jorge de Sena

Na taberna quando estamos,
De mais nada nós curamos,
Que do jogo que jogamos,
Mais do vinho que bebemos.
Quando juntos na taberna,
Numa confusão superna,
Que fazemos nós por lá?
Não sabeis? Pois ouvi cá.

Nós jogamos, nós bebemos,
A tudo nos atrevemos.
O que ao jogo mais se esbalda
Perde as bragas, perde a fralda,
E num saco esconde o couro,
Pois que um outro conta o ouro.
E a morte não val' um caco
Pra quem só joga por Baco.
Nossa primeira jogada
É por quem paga a rodada.
Depois se bebe aos cativos,
E a seguir aos que estão vivos.
Quarta roda, aos cristãos juntos.
Quinta roda,,aos fiéis defuntos.
Sexta, às putas nossas manas,
E sete às bruxas silvanas.

Oito, aos manos invertidos.
Nove, aos frades foragidos,
Dez, se bebe aos navegantes,
Onze, é para os litigantes,
E doze, dos suplicantes,
E treze, pelos viandantes.
Pelo Papa e pelo Rei
Bebemos então sem lei.

Bebem patroa e patrão,
Bebem padre e capitão,
Bebe o amado e bebe a amada,
Bebem criado e criada,
Bebe o quente e o piça fria,
Bebe o da noite e o do dia,
Bebe o firme, bebe o vago,
Bebe o burro e bebe o mago.

Bebe o pobre e bebe o rico,
Bebe o pico-serenico,
Bebe o infante, bebe o cão,
Bebem cónego e deão,
Bebe a freira e bebe o frade,
Bebe a besta, bebe a madre,
Bebem todos do barril,
Bebem cento, bebem mil.

Nenhuma pipa se aguenta
Com esta gente sedenta,
Quando bebe sem medida
Quem de beber faz a vida.
E quem de nós se fiou,
Sem cheta s'arrebentou.
E quem de nós prejulgava,
Se quiser, que vá à fava.


Prost!

Ziriguidum

entre nazistas eu sou judeu
entre judeus eu sou palestino
entre palestinos eu sou cristão
entre cristãos eu sou budista
entre budistas eu sou ateu
entre ateus eu sou o Sargentelli

gente, como eu sou mala!

20.9.03

Ignorâncias

Há dois tipos básicos de Não Sei: o do Sócrates e o do Biro-Biro.
A ignorância socrática é aquela "Só sei que nada sei".
A ignorância birobirótica é aquela "Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe".
Qual a melhor? Não Sei.

18.9.03

É assim mesmo...

Não adianta você ser Inteligente, Rico, Sofisticado e Elegante.
Mais cedo ou mais tarde você vai acabar completamente bêbado, pendurado no ar-condicionado.

11.9.03

EUA X Terrorismo, a peleja

Um texto véio, nessa data comemorativa (?!?)

- Boa tarde, amigos do esporte. Estamos de volta no intervalo do jogo EUA X Terrorismo, aqui direto do Afeganistão. Por enquanto o placar está 4.000 a 400 para o Terrorismo. Para você que está ligando agora e está surpreso com o placar, a gente explica. Os EUA se vangloriavam de ter a defesa menos vazada e foram pegos de calça curta logo no começo do jogo e, com poucos minutos de jogo, já estavam tomando uma goleada histórica do Terrorismo. Mas aos poucos os EUA começaram a fazer prevalecer seu jogo e estão tentando reverter o placar. O que você acha, Kissinger? Será que EUA conseguem reverter a situação?

- Veja bem, Cláudio, apesar do forte apoio da sua grande torcida, os EUA preferem sempre jogar na casa do adversário. Agora os EUA tentam colocar muita pressão na saída de bola do Terrorismo, mas esse Taleban faz muito bem o meio de campo e sabe esconder muito bem a bola. Os EUA pressionam, pressionam, mas têm muita dificuldade em ampliar o marcador. Para mim a partida ainda está totalmente indefinida já que o Terrorismo tem um contra-ataque perigosíssimo e pode, a qualquer momento, ampliar o marcador.

- Cláudio?

- Fala Silveira.

- O problema também está na finalização, viu, Cláudio. Os números mostram que enquanto os terroristas têm um ótimo aproveitamento, os americanos chutam de qualquer jeito e já mandaram a bola fora do estádio acertando até um prédio da ONU e outro da Cruz Vermelha. Os EUA precisam melhorar a pontaria, senão não sei não.

- E esse garoto, o Antraz, que está agora infernizando a defesa americana?

– É verdade! Embora o Antraz não seja muito eficaz nas finalizações, ele dribla muito, e cumpre sua função, que é deixar o time americano em polvorosa.

- Agora, ô Cláudio, deixa eu falar uma coisa: Esse Antraz não é garoto, não. Pode ser um rosto desconhecido para a maioria dos torcedores. Mas ele foi formado nas próprias categorias de base dos EUA, já rodou vários países e agora está fazendo o nome vestindo a camisa dos Terroristas.

- Então vamos ver o retrospecto dos dois times em seus últimos confrontos:

- Olha, o Afeganistão vai sempre muito bem quando joga em casa. Ganhou do time Inglês quando a seleção inglesa era a mais forte do mundo. E no último confronto contra a respeitável seleção soviética, apesar de ter sido dominado quase o tempo todo, acabou fazendo os russos saírem com o rabo entre as pernas.

- E os EUA, Kissinger? Eles tinham até então uma boa campanha, não é mesmo?

- Certamente. Olha, Cláudio, em termos de matança indiscriminada de civis, não tem pra ninguém não. É o melhor ataque do campeonato. Apesar de estar sofrendo esse revés agora, as últimas partidas os EUA ganharam de goleada. Foram cerca de 130.000 civis só na última partida com o Iraque, quando quem comandava era o pai do técnico atual.

- Isso sem falar em Hiroshima e Nagazaki, hein, Kissinger?

- É isso aí, Cláudio, foi uma goleada histórica com centenas de milhares de civis pulverizados. Mas isso foi no tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça, como diz o outro.

- E aí no gramado, Silveira?

- Os dois times estão voltando a campo de batalha. Estamos aqui com o atacante e artilheiro dos EUA, o capitão Colin Powell. É conhecido como o Canhão Ianque, não pode ver uma brecha na defesa adversária que solta a bomba. Como é que você está vendo esta partida Colin? Vai dar para reverter esse placar?

- É como eu sempre digo: a guerra contra o terrorismo é uma caixinha de surpresas. Nós estamos cumprindo a determinação do professor Bush e vamos continuar impedindo o jogo aéreo dos caras. E vamos partir para cima deles e impor nosso jogo.

- E o Bin Laden? Tá muito difícil de marcar o homem?

- É, a gente não tá conseguindo fazer uma marcação eficiente. Tá difícil cercar o homem em campo, ele é muito liso, né? Mas a gente ainda pega o cara de jeito.

- Parece que vocês ficaram muito irritados com a comemorações deles nos primeiros gols...

- Pô, comemorar tudo bem. Mas fazendo fazendo aviãozinho, não! A galera ficou irritada e veio abaixo.

- É isso aí Collin, boa sorte pra vocês. Muita pressão e impedir o jogo aéreo do Terrorismo - é essa a determinação do técnico W. Bush para essa segunda etapa! É com você Cláudio!

- E o Bin Laden, você consegue entrevistar?

- Não vai dar não. Ele foi pro vestiário e sumiu, não sei se volta, não.

- E para o segundo tempo? Quem os EUA têm no banco?

- Olha os EUA têm um banco forte, tem o Stanley Fischer, o Michel Candessus, o Horst Koehler... mas o técnico americano parece que vai voltar com a mesma formação para a segunda etapa.

- Bem. Nós vamos dar uma paradinha para o Ramadan, mas voltamos daqui a pouco com os melhores momentos do confronto EUA X Terroristas. Fique conosco, a gente volta já-já.

11 de setembro

Foi o dia em que ocorreu aquele triste atentado terrorista. O Palacio de La Moneda, sede do governo chileno, foi bombardeado pelos xiitas. Salvador Allende, líder de esquerda eleito no voto, foi suicidado para Pinochet poder ditadurar tranqüilamente. Um estádio de futebol se transformou em campo de concentração. Fazem 30 anos hoje. E a Al Qaeda-1973 continua formando seus terroristas - dos dois lados.

Em que cavernas Kissinger andará se escondendo e jogando biriba com Bin Laden?

10.9.03

Harém de papel

Vocês já leram várias vezes isso em vários lugares. Pois está aqui também.

Libere um LIVRO!

Na manhã de 11 setembro 2003 não se esqueça de sair munido de um livro que seja importante para você.
Um livro que tenha mudado sua maneira de ver o mundo. Ou que você acredite que possa mudar a vida de alguém, de alguma forma. Escreva uma dedicatória... e o libere!
Libere-o na via pública, sobre um banco, no metrô, no ônibus, em um café... a mercê de um leitor desconhecido.
E você? Adotará um livro que esteja em seu caminho, caso ele surja.
O dia 11 setembro agora não será mais um aniversário fúnebre, e sim um dia de troca de energia e doação. Juntos, transformaremos esta data em um ato de criatividade e generosidade.
A mobilização será geral em Bruxelas, Paris, Florença e São Francisco.
Vamos fazer isso também em nossas cidades aqui no Brasil.
Nas cidades citadas,um grupo de escritores, leitores e amantes dos livros em geral, liberará seus livros, em lugar público.
Engaje-se nessa idéia também! E faça circular essa informação!


Puxa vida. Eu fiquei bastante chateado com esse texto. Nunca havia pensado nos livros como prisioneiros mesmo. Isso é muito deprimente. Coitados! Esmagados e amontoados nas estantes superlotadas. Carandirus de papel impresso. É verdade que eu imaginava uma outra coisa: um harém de livros - o que não deixa de ser uma espécie de presídio perfumadinho.

Gosto de me imaginar escolhendo os livros como aquele sultão seleciona do harém a concubina que compartilhará seu leito aquela noite. Sabe como é a técnica? Joga-se um balde de água em todas as mulheres e a escolhida será aquela da qual sair mais vapor. Pois é assim que escolho nas estantes o livro que está mais quente e provocante. Aquele que exala as emanações mais sensuais tem a honra de ser o escolhido.

Acaricio suas lombadas. Abro com delicadeza as páginas que se oferecem escancaradas, arreganhadas diante de mim. Meus olhos percorrem lascivamente o texto de cada página, satisfazendo os mais torpes impulsos. Depois de saciado o coitado do livro é amelicamente devolvido às promíscuas celas das estantes abarrotadas.

Pobres livrozinhos. Hoje sei o que eles sofrem. No dia 11, num gesto simbólico de grandeza, um deles, um belo espécime, será libertado.

Um que eu já tenha mais de uma cópia, claro!

4.9.03

Paulo Francis, o Jornalista

"Freud, claro, é a maior influência intelectual da minha vida" - also spracht Paulo Francis (FSP, 9/11/80).

Poderia até ser verdade. Provavelmente era. Porém quando procuramos textos em que ele cita diretamente a teoria freudiana nos deparamos com algumas barbaridades gengiskanianas. Para Francis Ego e Consciente eram sinônimos, assim como Id e Inconsciente. É um erro Crasso, Pompeu e César até para um estudante de primeiro ano de psicologia das Faculdades Cristina. Outra coisa que nosso caro Francis também não conseguiu entender direito foi o conceito freudiano de Pulsão de Morte, por exemplo. São famosos outras centenas de equívocos, maiores e menores, em diversas áreas, que podem até serem explicados por uma confiança demasiada em sua paquidérmica memória, pela preguiça de ir até a estante ou por pura arrogância mesmo. E se com Sigmund Freud, sua maior influência intelectual, Francis se permitia tamanho descaso, vocês podem imaginar o que sofreram as menores influências.

Paulo Francis foi um monumento. Um iceberg caçador de Titanics - o que quer que isso signifique. É hoje uma Caaba inatingível para onde rezam os inúmeros que se propõem polemistas. O sarcasmo amargurado, a empáfia e uma grande amplitude cultural são o legado sagrado de Sir Francis, "O" jornalista. Que como a maioria dos jornalistas conhece um pouco de tudo e, no entanto, se aprofunda, de tudo, em muito pouco. Do jornalista não se exige que conheça a fundo cada assunto de que fala, mas que possa saltitar com a graciosidade de um hipopótamo de Disney pelos variados e floridos campos culturais. Paulo Francis era, definitivamente, um jornalista.

3.9.03

Prêmio Desestímulo

Levei quinze anos a descobrir que não tinha talento para escrever, mas nada pude fazer, porque nessa altura já era demasiado famoso.
Robert Blenchey

O austríaco Karl Kraus achava que os prêmios literários só atrapalham e prestam um desserviço às Belas-Artes e um prêmio de dissuasão seria uma verdadeira bênção. Eu também acho. Quem escreve mesmo não precisa de prêmios. Escreve em blog, papel de pão, margem de jornal ou com um estilete em cima da pele se for o caso. Quem escreve mesmo o faz por que não há outra alternativa. Não será uma tartaruga na estante que vai mudar alguma coisa; nem aquele milhãozinho vindo de um cara que inventou a dinamite.

Pois o que falta mesmo é esse prêmio desestímulo à literatura. Pensei em chamar, sei lá, "Prêmio Diogo Mainardi de Falta de Autocrítica Literária". US$ 150.000 para certos escritores não escreverem mais uma linha sequer na vida e fazerem algo útil dela. Dedicado a autores que são fracasso de crítica e público e mesmo assim não desistem por pura e genuína vaidade. Inscrições abertas.

(Tá. Sei que foi um post bem no estilo direitinha-festiva. Tentarei futuramente me reabilitar destruindo – de uma vez por todas – a reputação do Paulo Francis em apenas dois parágrafos)

30.8.03

Cinema Iraniano

Uma idéia na cabeça e uma tâmara na mão.

27.8.03

flatterers look like friends, as wolves like dogs

Aduladores podem ser o pior inimigo. É certo que as costas sebentas dos opositores podem servir de escada. Mas também é verdade que a malta que agarra a barra da calça e se dependura nos sapatos de camurça dificultam a subida.

– Ei, Alexandre, fale-nos dos ateus novamente!
– Ah, de novo?! Tem certeza? Claro, claro, sweeties. Então deitem-se que Tio Alexandre vai contar de novo pra vocês a história dos Ateus-com-dentes-de-aço. Era uma vez...
– Oba! É verdade que eles devoram criancinhas?
– Sim, com suas bocarras repletas de cimitarras sarracenas envenenadas, sim. Bom... Era uma vez um velho muito mau, de barbas brancas e bigode preto, que queria acabar com toda a felicidade e riqueza do mundo por que ele era muito muito mau. Já disse que ele era mau? Pois então, ele era muito mau.
– Por que ele era tão mau?
– Alguma coisa que ele comeu, eu acho. Teve uma azia muito forte, daí ele ficou mau pra sempre e resolveu se vingar na humanidade. Escutem a historinha.
Os Ateus-com-dentes-de-aço foram criados pelo Velho Mau aos milhões num obscuro país soviético cujo nome até hoje ninguém civilizado conseguiu pronunciar. Eram híbridos de trabalhadores escravos, cachorros de Pavlov e restos defeituosos da produção siderúrgica local. Foram alimentados com fetos recém-abortados e doses maciças de haxixe.
– Que horror! E eles eram feios?
– Sim, como uma Maria da Conceição Tavares ao acordar. Enfim.. um dia quando derrubaram a Cortina de Ferro a praga dos Ateus inadvertidamente alastrou-se por todo planeta.
– Uhhh! Que medo!
– Pois é bom ter medo mesmo! Eles podem estar estar em qualquer lugar, no telhado, no porão, no armário, em baixo da sua cama... BOOO!
– AAHHH! Pára, Tio Alexandre!
– Pronto! Agora cubram-se bem e coloquem esse santinho do Escrivá debaixo do travesseiro que nada vai acontecer com vocês. Que já é tarde e o Tio Alexandre precisa ir trabalhar.
– Ah, Tio Alê, conta mais uma vez a história dos Ateus! Por favor! Por favor!
– Pfffff, outra vez?! Claro, pumpkin pies, claro. Era uma vez...

25.8.03

Seria uma vez...

numa órbita não muito distante

quando a Terra não fosse mais que um brilhante pontinho azul
nós sairíamos de nossas cápsulas espaciais

no escuro silêncio do vácuo sideral
apenas nossa respiração ofegante
e o som de nossos corações
pulsaria ritmado em nossos ouvidos

nos olharíamos como os primeiros e os últimos
desligaríamos os cabos que nos ligam à nave
cortaríamos o último cordão umbilical
a derradeira despedida à civilização
e seríamos apenas nós dois
flutuando no Nada ao redor

nossos corpos orbitariam um em torno do outro
num lento balé de estrelas duplas

- Amo seus olhos como cinco luas geladas orbitando num gigante gasoso.
- Amo seus cabelos negros ondulando aos ventos solares.
- Desejo o Sol incandescente da sua boca.
- Desejo me perder em seu sorriso de constelações.
- Quero sentir a potência do seu propulsor.
- Quero me envolver nos braços de sua galáxia.
- Anseio sentir toda a massa de sua estrela de primeira grandeza
sendo sugada para meu buraco negro.
- Ah. Pois sou um escravo de sua gravidade. Deixe-me mamar na sua Via Láctea.
- Ai. Acopla agora. Acopla.
- Está sentindo o meu Pulsar?
- Sim, sim. Ejeta, meu amor, ejeta agora.

Nossas línguas se procurariam sedentas
se esfregando no vidro de nossos capacetes espaciais

E, no vácuo, abriríamos nossos trajes prateados
e numa ínfima fração de segundo
a tensão interna de nossos corpos latejantes
nos transformaria em pequenas partículas
diminutas moléculas
que enfim vagando juntas
poderiam se misturar livremente
se esparramariam por todo o Cosmos
e finalmente preencheríamos o Universo inteiro

24.8.03

Frases Dilapidares 2

A arte é uma resposta a procura de uma pergunta.

18.8.03

vida de blog

póde ser um trabalho muito desgastante ter um blog

você faz uma biópsia da alma ao vivo na frente de uma audiência
que come pipocas e não pára de tagarelar
num ambiente que não é lá muito antisséptico

e no final o público – que não desembolsou um tostão – ainda sai fazendo Pfffui
e se dirige para tenda ao lado para ver quem mais está se apresentando

enquanto isso você vai colocando de novo pra dentro as víceras da alma,
costura, passa um algodãozinho com álcool,
para amanhã começar a auto-cirurgia tudo de novo

13.8.03

Pretzels

O post abaixo me lembrou de um dos cartazes dos "pacifistas" antes da guerra do Iraque. Ele tinha a foto do Bush e os dizeres: "EAT ANOTHER PRETZEL ASSHOLE". Que por sua vez me lembrou do incidente em que o Dirigente-Supemo-do-Mundo-Livre quase morreu engasgado comendo um pretzel.
O nosso presidente pode ser até iletrado mas ainda tem Q.I. suficiente pra conseguir comer um biscoito.

6.8.03

A mensagem de Saddam

Depois de inúmeros "Nós ainda não sabemos se Saddam está vivo...", o próprio Saddam resolveu escrever uma carta a Bush pra dizer que ainda estava no jogo.
Bush, ao abrir a carta, leu o que parecia ser uma mensagem em código:

370HSSV - 0773H

George W. não conseguia entender, então digitou o código e mandou por e-mail para Colin Powell. Colin e seus colegas não tinham a menor idéia do que aquilo significava, então enviaram à CIA para ser analizado. Ninguém lá foi capaz de resolver o enigma, então mandaram cópias para a NSA, NASA, MIT e o Serviço Secreto.
Meio à contragosto, mandaram também para o Mossad, em Israel. Lá, eles olharam a mensagem e prontamente responderam:
"Digam ao sr. Presidente que ele está lendo a mensagem de ponta-cabeça."

Was ist ein Bankraub im Vergleich zu einer Bankeröffnung?

Nunca senti tão adequada a notória frase do Brecht quanto nesse momento.
"O que é assaltar um banco comparado com fundar um banco?"

05/08/2003 - 20h37

Bancos mantêm lucros robustos apesar de desânimo da economia
Por Fatima Cristina

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os resultados dos dois maiores bancos privados do país no primeiro semestre não deixam dúvidas de que este ano será tão bom quanto o que passou. Pelo menos para o setor financeiro.

Apesar da apatia da economia brasileira e da pífia demanda por crédito, os bancos continuam a exibir lucros robustos graças a uma combinação de juros e spreads bancários elevados e ganhos de escala proporcionados por aquisições.

Nos primeiros seis meses do ano, o lucro líquido do Bradesco cresceu 13,6 por cento para 1,027 bilhão de reais, enquanto o Itaú registrou um salto de 42,2 por cento em seu lucro para 1,490 bilhão de reais.


Toda a economia parada, comércio falindo, fábricas fechando, todo mundo desempregado, um arrocho desgraçado, mas no setor financeiro um céu de brigadeiro.

Isso mesmo: no primeiro semestre só o Itaú aumentou o LUCRO para o patamar de 1,5 bilhão de reais. Enquanto isso todo mundo pendurado na extorsão dos juros cheque especial.

Mamãe, quando eu crescer eu também quero ser um agiota oficial!

19.7.03

Ai que meda!

Onde está você, Regina Duarte ?!?!?!?

8.7.03

The Secret Word for Today:

AAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrrrrgggghhhhhhh!!!!

7.7.03

a lâmina de ockham

preciso ir ao dentista
preciso ir ao barbeiro
preciso de um oculista
preciso ir ao banheiro

preciso de umas idéias
preciso de mais dinheiro
preciso de mais umas férias
preciso chamar o bombeiro

preciso mudar de país
preciso entrar no cemitério
preciso enfrentar o juiz
preciso derrubar um império

preciso construir esse muro
preciso diminuir o tempero
preciso desistir do futuro
preciso desamar quem eu quero

preciso fazer tudo isso
num único simples
sereno golpe

preciso

6.7.03

cardiologia comparada

Eu só sei que
Furacões tropicais
Tormentas inclementes
Incêndios nas savanas
Maremotos ancestrais
Calotas polares derretendo
Jorros de lava incandescente
Tem que caber no espaço apertado do meu ventrículo esquerdo

5.7.03

A brasilidadofobia

Houve um caso famoso em que um literato brasileiro sofria de profunda aversão à Literatura Brasileira. Foi internado em uma clínica para se curar de sua brasilidadofobia. O tratamento consistia em apresentar autores nacionais que contivessem pouco ou nada de brasilidade e ir, aos poucos, aumentando a dose.

Numa das fases iniciais do tratamento o Paciente B.T.T. já estava terminando de ler um dos livros do Isaias Pessotti.
O médico entrou no quarto e perguntou:

– E ai? Gostando do livro?
– É interessante. Não é fantástico. Mas pelo menos não se passa no Br... anh, em países de terceiro mundo, os personagens são todos cultos, refinados, e a paisagem da Toscana me encanta quase que lubricamente. Gostei muito da sofisticação dos detalhes com que ele descreve as refeições!
– Mas o sr. não se incomodou com nada no livro?
– Não. Como assim?
– Nem quando ele menciona, por exemplo, aqui na página 138, um sapoti.
– AAAAAAAAAHHHHHH! Não diga isso!!!!
– O quê? Sapoti?
– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH!! Não, por favor! Me deixem sair daqui!!! Eu quero ir emboraaaaaaaa!!!
– Calma! Está tudo bem, está tudo bem! Enfermeira! Traga urgente o chá de camomila e a Colette do sr. B.T.T., rápido, que ele está ficando azul de novo!

Nadazine em revista

O Tiago Soares lançou o Nadazine, que é uma espécie de Copy & Paste com figurinhas (!) animadas (!!!). Tudo em CopyLeft também.

Tem um texto meu lá, e também de vários outros autores que já passaram pelo garimpo do C&P.

Vão dar uma conferida. Eu curti bastante.

1.7.03

Dando nome aos bois

Quem inventou a escrita? Pelo menos duas pessoas. Primeiro foi aquele camarada que decidiu separar uma pedrinha para cada boi que ele possuia. Foi o primeiro passo. Uma pedrinha, um boi. Doze pedrinhas, doze bois.

Aí teve esse outro sujeito que bolou o seguinte: em vez de um saco de pedrinhas para representar o rebanho, por que não vários furinhos na argila, ou tracinhos entalhados na madeira? Muito mais prático. E, ao lado dos doze tracinhos, ele fez um desenhinho de uma cabeça triangular com uns chifrezinhos. Pronto: doze bois!

Pois bem. Dizem que ele foi contar para o amigo da sua invenção. Mostrou a tabuleta de argila:
- O que é isso, cara?
- Olhaí! Doze bois! Tá vendo? Doze tracinhos e um boizinho! Não é genial?
- Isso aqui não tá parecendo um boi!
- Como não? Olha aqui os chifres, pô!
- Sei lá! Tá parecendo mais um carrinho de mão. E esses tracinhos, você me desculpe, estão todos tortos!
- Pronto! Só o que me faltava! Eu invento a escrita e quem me aparece? O primeiro crítico literário!

30.6.03

Glub glub

Submerso no oceano de subentendidos as palavras ficam apenas como bolhas flutuando em torno de nossas cabeças enquanto a gente revolve em redemoinhos rotineiros de frases flutuantes que perdem a gravidade sob a água pesada e as bolhas dançam rodopiando e voltam às bocas sem que explodam nos ouvidos um do outro. Eu berro pra você e o pulmão se enche de água e eu não me importo por que quero que as bolhas bulam com sua cabecinha ondule seus cabelos e entrem pelos ouvidos e narinas e olhos e todos orifícios abertos e ocultos e abram caminho até o cerebelo ou a medula ou aos ovários e desobstruam as pedras e arrebentem os arames e abracem você por dentro como eu te envolvo por fora e como toda essa água que inunda o apartamento nos engole. E você grita de volta a grande bolha muda que flutua espelhada como uma lupa convexa entre nossos rostos e eu te enxergo pequena de ponta cabeça com o sorriso de moluscos felizes boiando no meio de nossos olhos de ogros ciclópicos e a bola brilhante apenas brinca e rebola e implode em bilhões de pequenas bolhinhas prateadas que se pregam ao espesso vidro do nosso aquário. O meu peito arde e os pulmões explodem e eu só sei que te quero meu peixe mais precioso mais colorido e mais lindo e eu só sei que não quero mais respirar o ar eu quero apenas que a água que me invade os brônquios me corroa e me dilua que essa água me lave o sal e me leve a alma que essa água me emprenhe e despolua que sua barriga me embrenhe e que eu possa me degelar me liquefazer e por fim me transbordar por você.

29.6.03

Doppelganger

Hoje no espelho descobri que um dos dois não sou eu.
A Incrível Húlkula

Diferentemente do Incrível Hulk, que vira um monstro enorme e verde, a Incrível Húlkula, quando irritada, fica toda vermelha e seus músculos vão se contraindo tanto que ela vai ficando bem pequenininha, cada vez menor, até o formato de uma minúscula cerejinha nervosa, antes de desaparecer completamente.

17.6.03

A Argentina é o Muro de Berlin do Neoliberalismo.

Era o que tinha para dizer hoje. Obrigado.

14.6.03

Hora da Trova
ou Putaria também é Cultura

Martim Soares foi um grande trovador português da primeira metade do século XIII. Na Espanha relacionou-se com os poetas provençais durante o reinado de Fernando III, e absorveu a estética dos trovadores occitânicos. Versado nas Cantigas de Escárnio e Maldizer, de Martim Soares diziam "que trovou melhor do que todos que trovaram e assim foi julgado entre os outros trovadores".
Esta é uma singela homenagem ao grande putanheiro.


Cantiga a Pero Rodrigues
(Cuja mulher era acusada de um atraiçoar)

Pero Rodrigues, da vossa mulher
Não acrediteis no mal que vos digam.
Tenho eu a certeza que muito vos quer.
Quem tal não disser quer fazer intriga.
Sabei que outro dia quando eu a fodia,
enquanto gozava, pelo que dizia,
muito me mostrava que era vossa amiga.

Se vos deu o céu mulher tão leal,
que vos não agaste qualquer picardia,
pois mente quem dela vos for dizer mal.
Sabei que Ihe ouvi jurar outro dia
que vos estimava mais do que a ninguém;
e para mostrar quanto vos quer bem,
fodendo comigo assim me dizia

(C.V. 976, CBN 1319)
 

Cantiga a Afonso Enes de Coton

Meu Nosso Senhor, ando eu molestado
com todos os vícios que me foste dar.
Sou dos putanheiros o mais porfiado;
não menos me apraz os dados jogar;
e é grande o prazer que sinto em errar
por estas vielas, do mundo apartado

Se de melhor vida fora venturoso,
lograra mais preço e mais honras ter.
Mas deste foder mais me apraz o gozo;
e o destas tabernas, e o deste beber.
Já que outra virtude não posso valer,
vale-me viver contente e viçoso.

Se não valho nada e não alimento
esperança de alguma virtude alcançar,
não quero perder este arreitamento,
tão pouco estas putas e este disputar.
Por outras fronteiras não quero eu andar,
trocando o meu viço por agastamento.

E muitos mais vícios acrescentaria,
que cúmplices são do meu desmerecer.
Nunca frequentei a tafularia,
sem ali desordens, distúrbios fazer;
e, cobardemente, ponho-me a mexer
buscando agasalho entre a putaria.

(C.V. 966, CBN 1309)

12.6.03

Sei Lá

Sei Lá
parte do princípio que eu sei,
mas não aqui,
eu sei em outro lugar,
eu sei lá.

Lá sei eu. Lá eu sei.

Pois existe um lugar em que a compreensão é possível.
Mas esse lugar não é aqui, é lá.
Lá é um lugar onde você alcança a sabedoria absoluta.
Aqui não. Esta é uma terra de ignorantes completos.

Porém lá eu sei. Lá eu saberei.

O problema é:
onde o lá estará?

Eu sei lá.

11.6.03

Não são chatos, os ateus?

Poucos são os ateus militantes que insistem em vender seu produto. Mas quando eles vêm bater na sua porta, as 7 da manhã do Sábado, e abrem a sua maletinha, é um grande desapontamento. O que eles querem te vender é basicamente um Nada.
Não tem cheiro, não tem gosto, não toca musiquinha, nem luzinhas coloridas, não é super-fofo e não enfeita a sala. É um produto totalmente desinteressante.

Os crentes são em muito maior número, muito mais chatos, insistentes - tudo bem - Mas que produtos! Que produtos!
As criações dos crentes são incomparavelmente melhores, não há dúvida! Cada crente tem um Deus completamente diferente do outro. São quantos? Uns 4, uns 5 bilhões hoje? Sem contar todos os Deuses imortais que já se foram. É Deus pra dedéu! E cada um mais interessante que o outro. Um Deus é um mar cósmico. Outro é de verdade, dá até pra puxar a barba. Outro é apenas um Princípio Gerador. Outro Deus dança eternamente e dá cambalhotas. Outro é do tamanho de várias galáxias. Outro é apenas um sentimento sutil. Outro é uma luz interior. Outro é uma estrela da Ursa Maior. Outro são formulas matemáticas, todas as Leis do universo. Outro Deus são vários, todo um panteão com tramas incestuosas de novelas guatemaltecas. Temos um Deus para cada gosto. Você pode comprar o livro sagrado de sua preferência e montar o seu agora mesmo!

E os rituais? São todos fantásticos! Sangue humano para que o Sol não pare no meio do céu e calcine a Terra. Diversas mutilações corpóreas, em si mesmos e nos outros adeptos. Filas de peregrinos de joelhos. Catedrais retumbando cantos gregorianos. Cavalos que se estrebucham ao som de atabaques. Filipinos se pregando na cruz. O culto a relicários em igrejas medievais que ostentam uma traquéia semi-apodrecida. Isso sem contar todas as guerras e chacinas que foram e são cometidas em nome do seus Deuses verdadeiros. Tudo isso é muitíssimo mais interessante e divertido que um insosso Nada.

Pergunte ao ateu qual seu ritual. Eu não vou à missa aos domingo, ele responderá. Muito, muito sem graça. O problema básico é que os ateus são gente muito sem imaginação.

7.6.03

Sofismas e Prestidigitação

O respeitável público aplaude o mágico que transforma laranjas em pombas coloridas.
Com os olhos mareados os espectadores assistem os lenços infinitos, a bela moça que levita e desaparece. Na platéia alguns apreciam a destreza do prestidigitador, a habilidade com que ele multiplica as cartas de baralho, a engenhosidade dos espelhos estrategicamente colocados. Outros, porém, acham que é tudo um milagre. Acreditam realmente que do espaço vazio se materializou um coelho de monóculo.

- Você gostou do truque do mágico?
- Foi maravilhoso... Pera aí... Como assim, truque? Não tem truque nenhum!

E, embasbacados, quando voltam para casa serram o coitado do cachorro.

4.6.03

Quem diria...

04/06/2003 - 15h51 - da Folha Online

Vice de Rumsfeld diz que razão de guerra no Iraque foi petróleo

O vice-secretário da Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz, afirmou que "nadar em petróleo" foi a principal razão para a ação militar no Iraque, segundo o jornal alemão "Der Tagesspiegel".

Questionado sobre a razão de haver diferença nas negociações dos EUA com a Coréia do Norte e com o Iraque, o vice de Donald Rumsfeld respondeu:

"A principal diferença é que no caso do Iraque, economicamente falando, nós simplesmente não tínhamos escolha. O país [Iraque] nada em um mar de petróleo".

Os comentários foram feitos por Wolfowitz em uma declaração a delegados em uma cúpula de segurança asiática em Cingapura no final de semana.

Os comentários seguem outra declaração polêmica de Wolfowitz, feita em uma entrevista à revista americana "Vanity Fair" no mês passado. Ele disse à revista que "por razões que estão muito ligadas à burocracia do governo dos EUA, estabelecemos como ponto principal algo com que todos poderiam concordar: armas de destruição em massa".


Mas que o Iraque tem armas biológicas, isso tem. Mr. Bush tem todos os recibos pra comprovar.

3.6.03

O Mundo gira e a Macedônia roda

No século IV a.C. Alexandre Magno invade a Ásia para dar um belíssimo couro em Dario III da Pérsia. Eu não consigo deixar de ver os diversos paralelos com a recente guerra do Iraque. Alexandre vai à Pérsia explicitamente em busca de Vingança e Riqueza. Reparem que quase nada mudou. A diferença é que, nos tempos sem CNN, Alexandre podia ser mais sincero.


Carta de Alexandre a Dario III

Vossos ascendentes invadiram a Macedônia e a Grécia e causaram devastações em nosso país, embora nada tivéssemos feito para provocá-los. Como comandante supremo de toda a Grécia, invadi a Ásia porque queria punir a Pérsia por esse ato - ato cuja responsabilidade vos deve ser inteiramente atribuída.

Mandastes ajuda ao povo de Perinto em sua rebelião contra meu pai; Ochus enviou um exército para a Trácia, que era parte dos nossos domínios; meu pai foi morto por assassinos que, conforme abertamente alardeastes em vossas cartas, vós próprios contratastes para cometer tal crime; tendo matado Arses com a ajuda de Bagoa, injusta e ilegalmente vos apoderastes do trono, com isso cometendo um crime contra o vosso país; mandastes aos gregos falsas informações a meu respeito, na esperança de torná-los meus inimigos; tentastes fornecer dinheiro aos gregos, dinheiro que somente os lacedemônios estavam dispostos a aceitar. Vossos agentes corromperam meus amigos e tentaram quebrar a paz que eu estabelecera na Grécia - foi então que iniciei campanha contra vós; mas fostes vós que começastes a briga.

Primeiramente derrotei em batalha vossos generais e sátrapas; agora vos derrotei, e ao exército que comandais. Mercê da ajuda de Deus, sou dono de vosso país e tornei-me responsável pelos sobreviventes de vosso exército, que acorreram a mim em busca de refúgio: Longe de estarem sendo detidos pela força, servem-me por sua livre e espontânea vontade.

Vinde a mim, portanto, como viríeis ao Senhor do Continente da Ásia. Se temeis sofrer alguma indignidade às minhas mãos, mandai então alguns de vossos amigos, e eu lhes darei as garantias requeridas. Vinde, pois, rogar-me por vossa mãe, por vossa esposa, por vossos filhos e por tudo quanto desejardes; pois os tereis, assim como o mais que logrardes persuadir-me a dar-vos. E, de futuro, endereçai todas as comunicações que desejardes fazer-me ao Rei de toda a Ásia. Não me escrevei como o faríeis a alguém da vossa igualha. Tudo quanto possuís me pertence agora; assim sendo, se quereis algo, informai-me disso nos termos convenientes, ou tomarei medidas para disputar-me vosso trono, resisti e lutai por ele; não fujais. Onde que vos possais esconder, estarei certo de que vos desentocarei.

Grandes Cartas da História - José Paulo Paes - editora CULTRIX

2.6.03

Personal Trainer

Comprei a bicicleta ergométrica. Tá lá no canto da sala, quietinha, me espiando. Mas não era isso que eu queria.

O que eu queria mesmo era um saco de areia grande, desses de boxe, de prender no teto. E gastar a energia dando muita porrada no infeliz. Sem luvas mesmo. Porrada, cotovelada, cabeçada, joelhadas, principalmente joelhadas. Depois morder, arrancar o couro com os dentes, agarrar, encoxar, chacoalhar e esbofetear com gosto o desgraçado. Depois abraçá-lo, chorando e resfolegando, pedir mil perdões e dormir encolhido sobre a areia que derramou no carpete de madeira.

Isso sim é queima de calorias!

---

Cheguei a uma conclusão:
Bicicleta ergométrica é uma coisa que não te leva a lugar nenhum.

31.5.03

A Ilha de Boring

William Boring foi um Marinheiro Inglês que se perdeu durante uma calmaria no Pacífico. Acabou encontrando uma ilha com topografia chata, onde fundou a cidade de Dullsville. Como esta ilha se localizava na latitude do equador não havia diferença nas estações. O ano todo era insuportavelmente quente na ilha de Boring. Quase nunca ventava e os coqueiros cresciam eretos, todos iguais. E só haviam cocos.

Completamente isolado, William Boring viveu 78 anos nesta ilha deserta. Durante este tempo teve uma produção profícua que incluiu a invenção de vários jogos de paciência, roteiros completos de novelas das 8, vários sketches do Jô Soares, discursos do FHC, todas as músicas do Oasis e a concepção de um certo blog que costuma copiar as coisas dos outros.

William Boring morreu de tédio absoluto, foi canonizado e hoje é o padroeiro da TV Aberta.

...

Entre outras aptidões, William Boring também desenvolveu na Ilha de Boring seu talento como observador de aves. Assim escreveu em seu diário:

“O dia amanheceu quente. Aliás, como sempre. Nem uma nuvem no céu. Como sempre. Hoje, enquanto apagava e refazia as palavras cruzadas da única edição do Diário Oficial que trouxe para a ilha, avistei uma ave cinza e pernalta na lagoa de Boring. Eu a chamei de Ave-Cinza-e-Pernalta-da-Lagoa-de-Boring. O seu gorjeio é longo, estridente e bastante singular.

Ela costuma encolher uma perna e então faz: “Piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, huhu-huhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, huhu-huhu.

Ela, então, se apóia na outra perna e retoma o gorjeio com pequenas variações: “Piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, huhu-huhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, huhu-huhu.

Assim ela passa o dia inteiro. Excetuando o momento depois de se alimentar de besouros verdes, quando ela começa a piar: Huhu-huhu-huhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-uhuhu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, huhu-huhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-piu-uhuhu, piu-piu-uhuhu-piu-piu-piu-uhuhu, huhu-huhu.“

Amanhã planejo estudar como seria a variação do seu gorjeio quando alimentada por besouros marrons.

...

Tivemos acesso a outras páginas do Diário do náufrago William Boring, que contém 49 volumes, alguns deles dedicados apenas a descrição pormenorizada de suas técnicas de cortar as unhas.

“Hoje, dia 4673 na ilha. Muito calor. Aliás, como sempre. No horizonte observei que não havia nenhuma nuvem. O que também é bastante comum. Porém, mais tarde uma coisa incrivelmente inusual aconteceu. Uma pequena jangada trouxe outro náufrago para a ilha. Como não sei em que dia da semana estamos, chamei-o de 4673. Ele é baixinho, peludo e careca. Descobri que é corretor de seguros e também vendedor de enciclopédias.

Ele insistentemente tentou me convencer a comprar algum tipo de seguro, mas eu decidi que deveria primeiro explicar a ele como funciona o sistema previdenciário que elaborei para a Ilha de Boring. Aproveitei o ensejo e também lhe expliquei o melhor procedimento de coleta e empilhamento dos cocos baseado em seu diâmetro médio e coloração da casca. Acho que foi neste momento que 4673 disse que estava atrasado para um compromisso, retornou para sua jangada e começou a remar rapidamente de volta ao horizonte.

Sentirei saudades do bom e velho 4673.

Felizmente 4673 deixou na Ilha as enciclopédias. Ainda bem, pois já reli 7 vezes o catálogo telefônico de Londres, o único livro que temos na Biblioteca de Dullsvile. É uma leitura interessante, mas tem muitos personagens e pouco enredo. Essa enciclopédia está em Esperanto. Uma ótima oportunidade para aprender a língua. Deixe-me ver... Página 1, Aadvark...”

...

"Influenciado por certos caramujos que andei observando, pretendo inventar um estimulante jogo que chamarei de Baseball...”

30.5.03

Pra não dizer que não falei de Amor

O Amor não é um filme do Hugh Grant.
O Amor é o temporal que desaba sobre você na saída do cinema.

O Amor não é o sexo bucólico na praia deserta.
O Amor é ser arrastado pela correnteza até onde jantam os tubarões.

O Amor é um acidente de motocicleta com a barraquinha de cachorro-quente.
Com baço perfurado, traumatismo craniano e que ninguém acaba sobrevivendo.

29.5.03

Da Teoria da Inacessibilidade

Quando eu tinha 7 anos tudo o que eu queria era ser grande para poder comer quantos sonhos-de-valsa eu quisesse.

Hoje tenho um baleiro cheio de sonhos-de-valsa e tudo o que eu queria era ter 7 anos novamente.

28.5.03

Número Dois

Na bandeja do McDonalds dezenas de criancinhas sorridentes. O texto covida a encontrar as duas que são iguais. Mas o que realmente acompanha o quarterão com queijo é uma antiga revista relatando o campeonato brasileiro de Air Guitar. Ao final vão para o lixo as pequenas crianças que jamais se encontrarão.

26.5.03

Aquele que é Tudo de Bom

No Céu,
Finalmente me encontro com Aquele que é Tudo de Bom.

Cheguei aqui procurando o que era Bom e evitando o que era Mau. Primeiro com a razão. Quando esta não bastou, usei a intuição, e por fim segui apenas o coração. E agora aqui estou, recompensado. Ele oferece-me um lugar para sentar ao Seu lado. Ele acomoda-Se lentamente em uma poltrona branca, eu em uma confortável cadeira acolchoada.

Sua barba é branca e quase luminosa. Seu manto é alvo com intrincados bordados em prata. Seu silêncio irradia calor e bondade. Seu sorriso é paz e tranqüilidade. Sinto vontade de deitar em Seu colo para adormecer e curar todas minhas mágoas da vida terrena. Mas não tenho nem sinto mais sono ou dores. E estaria possivelmente rompendo inúmeros protocolos celestiais se deitasse em Seu colo. Decido, pois, permanecer sentado.

– Oh Altíssimo e Glorios... – tento dizer, mas sou interrompido.

Ele estende a mão espalmada e puxa de um alforje de camurça uma série de grossas fichas retangulares. Passeia com os dedos sobre suas bordas e me entrega uma com o número 1 estampado. "Não é mais necessário puxar o saco" está escrito em baixo-relevo com caracteres floreados. Ele me dá uma sutil piscadinha enquanto devolvo a ficha.

– Ah, compreendo, Senhor! Mas sempre tive cá uma dúvida: Foi o Senhor mesmo que determinou o que é Bom e o que é Mau no mundo?

Ele sorri e me estende mais uma ficha. A número 17. "A Filosofia não se faz mais necessária." Perguntas como essas devem ser bastante freqüentes, imagino. Ele não aparenta estar enfastiado e sorri gentilmente quando Lhe retorno a ficha.

Faz sentido, penso eu. Ele é a última resposta. Ele é a Origem, a Ordem, o Princípio e o Fim. Todas as perguntas a esse respeito podem ser agora definitivamente revogadas. Assim, observando o grosso volume de fichas numeradas em Sua mão, tento afastar da mente essa categoria de questões. E como não quero passar por estúpido, acabo me calando.

Não sei por quanto tempo permanecemos mudos. O recinto está praticamente vazio. Não há livros, revistas, TV, baralho, charutos ou brandy. Meu plano de passar a Eternidade relendo Proust, Tolstoy, Keats, bebendo xerez e fumando cigarrilhas estava se esvaindo.

– Senhor, e a música? Imaginei que aqui ouviria muitos dos Grandes Compositores.

Ele folheia absortamente as fichas. Depois coloca-as de volta ao alforje de camurça e desta vez responde com Sua própria voz solene e tranqüila.

– Bach, apenas. – levanta gravemente o indicador – mas nada de cravo! E só no Natal.
– E Beethoven? – pergunto ainda tímido. Ele franze a testa por um breve instante.
– Lud? Nós não estamos nos falando, no momento.
– Brahms?
– Brahms não conseguiu chegar. Sinto muito. Wagner também não.
– Wagner também não?
– Meu caro, não se preocupe. Não há mais a necessidade de Grandes Compositores aqui no Céu. Aquilo que todos procuravam através da música já encontraram. Em vez de passeios errantes e inúteis pela escala cromática agora temos uma única nota somente. Esta foi mais uma busca que se encerrou.

Apuro os ouvidos. Desde que cheguei ao Céu senti essa vibração. Um som grave como de uma nota longa produzida por muitos instrumentos em uníssono. Si bemol, se não me engano. Ele Se reclina na poltrona enquanto rege com uma batuta imaginária o si bemol e sorri novamente. Suas bochechas rosadas brotam brilhantes para fora da barba. Ele começa a examinar Suas cutículas com ar compenetrado.

Penso. Há outros mais santos e mártires do que eu. Onde estarão? Por que estamos apenas nós sozinhos nesse recinto? É a Onipresença. Claro, claro. Ele está agora em outros recintos com outros merecedores, é certo.

Reparo em Suas bochechas rosadas. Curioso. Ele tem exatamente a mesma aparência que sempre imaginei. Será que Ele é sempre o mesmo ou é diferente para cada um dos que O alcançam? Será que um negro O vê como um velho negro? Alguns poderiam vê-Lo como uma mulher? Uma velha? Uma velha negra? E se ele não fosse Ele? Poderia ele ser o Outro? No momento que penso nisso o velho pára de cortar as cutículas com o alicatezinho dourado. Ele olha fixamente para mim e arreganha mais um sorriso – me congelando a espinha – que vai se transformando numa enorme, longa e rouca gargalhada. Em si bemol.

22.5.03

Chega um momento em que há muitas últimas coca-colas geladas do deserto.
Na realidade, você olha e só vê coca-colas geladas por todos os lados.
É um autêntico mar de últimas coca-colas geladas em que você quase se afoga.

E tudo o que você deseja é um pedacinho de terra seca para por os pés.

19.5.03

Sou um pastor de fuscas. Todas as manhãs, com o dia ainda clareando, abro a porteira e os encontro com os parabrisas ainda úmidos de orvalho. Acaricio as suas arredondadas latarias, verifico a pressão de seus pneus, ponho 5 litros de gasolina no tanque de cada um e levo os meus fuscas para a colina.

Sou um pastor de fuscas. Sento com meu cajado no alto de uma pedra branca e os observo. Alegra-me vê-los com suas carrocerias luzidias, brilhando ao sol, capotando alegremente na relva. Gosto de vê-los dando cavalos-de-pau apenas para se exibirem. Os fuscas têm uma especial predileção por girar em torno da carcaça enferrujada de um velho Dodge Dart, buzinando inocentes.

Sou um pastor de fuscas. Ao final da tarde os arrebanho, cansados e elameados, para um banho de esguicho ao pé da colina, próximo a regato. Nos retrovisores o sol vermelho se espreguiça e vai se recostando no horizonte enquanto os fuscas aguardam as primeiras estrelas ronronando seus motores em marcha lenta.

22.4.03

Roleta Russa

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

– Alguém precisa morrer, Ivan.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

- Alguém sempre precisa morrer, Bóris.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

– Sempre. Desejos antagônicos só devem ser resolvidos pela anulação total do outro, Ivan.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

- Ou a anulação de si mesmo, Bóris.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

- Na esperança que a não-existência traga o não-desejo, Ivan.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

- Ou que a aleatoriedade do gesto de puxar o gatilho seja o modo definitivo de saciar todos os desejos. Como em uma novela em que o autor perdeu o rumo da trama: Alguém precisa morrer. Alguém sempre precisa morrer, Bóris.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

– Mas tem certeza que você colocou uma bala neste tambor, Ivan?

– Você está louco, Bóris? Alguém poderia acabar se machucando!

Na manhã seguinte o corpo de Ivan foi encontrado ao lado da arma. Morto a coronhadas.

20.3.03

Recebi esse texto da irmã Margaret Ormond, que é a superiora da Confederação de Irmãs Dominicanas (DSI) em Roma e de frei Enrique Sariego, secretário do CIDAL: dominicanos da América Latina.

Estou anexando a tradução que acabo de fazer do original da irmã Sherine, que muit@s de vocês tiveram a alegria de conhecer aqui ou no FSM.
Um abraço, Lília Azevedo.



14 de março 2003

Para todas as pessoas de boa vontade através do mundo,

O Amor e a Paz do Cristo estejam com vocês.

Estamos nos dirigindo ao Presidente Bush e a todo o povo norte-americano como seres humanos, e não como um presidente dos Estados Unidos. Presumimos que, como cristãos, vocês tenham o coração cheio de amor e compaixão. Terão piedade de nossas crianças iraquianas, nossos anciãos e anciãs, e nossa juventude que não tem nenhuma esperança de um futuro melhor e uma vida decente. Nós, irmãs e irmãos dominicanos que vivem no Iraque, estamos vivendo e partilhando com nosso povo, em seu sofrimento. Os iraquianos vêm passando por tempos difíceis há vinte e três anos, pois foram testemunhas de duas guerras desastrosas. Se o Presidente Bush iniciar outro ataque militar contra o Iraque, pensamos que será uma catástrofe. Acreditamos que vocês podem sentir o perigo que está ameaçando a população civil do Iraque. É por isso que milhões de pessoas, de diferentes países em todo o mundo estão fazendo manifestações, escrevendo cartas e tentando pressionar o Presidente Bush para que não comece um novo ataque militar.

O Presidente Bush defende os direitos dos animais. Será que nós valemos menos que os animais? Ele alega que está tentando defender os direitos humanos no Iraque. Ele está disposto a construir um novo Iraque. Tentou convencer o povo dos EUA e os povos em todo o mundo que só vai bombardear o exército e as armas no nosso país. Ele promete que não vai causar nenhum dano aos civís. Por acaso ele está jogando flores nas pessoas? Ele vai usar armas de destruição massiva, que vão causar grande dano à nossa cultura, nossa terra e história, a provocar a morte de milhares de pessoas iraquianas inocentes de todas as idades.

Como alguns e algumas de vocês que visitaram o Iraque devem saber, os acampamentos do exéricito estão localizados muito perto das casas das pessoas. Temos dois conventos: um no começo do acampamento do exército e outro no final. Será que o bombardeio vai matar os soldados, ou o povo? Estamos vivendo com um medo enorme, pânico, e extrema preocupação. Nós não estamos sofrendo apenas uma guerra militar, mas temos estado sofrendo por cause de uma situação psicológica muito difícil, desde que o Presidente Bush começou suas ameaças desumanas de iniciar nova guerra contra nosso povo. A incerteza destes momentos e os tempos difíceis que estamos atravessando nos têm feito esperar pela morte a qualquer instante. A cada dia damos graças a Deus por estarmos vivas e vivos, porque não sabemos o que o amanhã esconde para nós. O pesadelo da nova guerra está nos assombrando sempre e em todo lugar.

Deus nos deu a vida e a liberdade como seus dons preciosos. Por que é que o Presidente Bush quer tirar tudo isso e nos privar de nossa liberdade?
Vocês bem podem imaginar que até nossas crianças não agüentam mais essas ameaças e não conseguem mais suportar a tensão psicológica e o desespero. Elas perguntam: quando é que a guerra vai começar?

Vocês são enganados, e nós somos reféns dos seus meios de comunicação de massa, que são os maiores mentirosos. Nossas crianças, mulheres e as pessoas em geral estão morrendo de desnutrição e fome, devido às sanções desumanas. As sanções já causaram a morte de um milhão e meio de iraquianos, na maioria mulheres e crianças. Por que é que vocês querem acabar de vez com elas por meio de uma nova guerra?

Vamos perguntar aos jovens dos Estados Unidos, “Eles enfrentam ou esperam pela morte a cada momento? Se for assim, será que não vão explodir?”

Por que o povo americano tem o direito de viver em paz, segurança e prosperidade? Será que a vida deles tem mais valor que a vida de outros povos, por exemplo, o povo iraquiano?

Nossos estudantes universitários se despediram uns dos outros no sábado, dia 15 de março, e estão preparados para a guerra. Eles não têm disposição para estudar. Achamos que estão certos, porque estão decepcionados e para eles a esperança parece ser a coisa mais sem esperança.

Há uns dois dias, podíamos sonhar com segurança e paz, mas agora não sabemos mais o que essas palavras significam, porque a violência, o sofrimento e o medo estão nos envolvendo.

Finalmente, gueremos dizer que não estamos curados da guerra do Golfo. Como poderemos agüentar os efeitos da nova guerra, que serão ainda piores?

A guerra não é só desastrosa e destrutiva em seus efeitos diretos, mas também em seus efeitos duradouros. As pessoas inocentes não serão apenas vítimas dos bombardeios, mas serão também vítimas da água potável contaminada, do meio ambiente poluído, urânio empobrecido, suprimentos médicos inadequados e força elétrica danificada.

Pedimos a todos e todas vocês que têm um coração compassivo e amor pela humanidade, que levem o sofrimento e preocupação do povo iraquiano a todos os púlpitos, salas de aula e todo lugar onde a Palavra de Deus é pregada. Que todas as pessoas ouçam a verdade a respeito da dor do povo iraquiano. Por favor, ouçam os gritos das crianças iraquianas e redobrem seus esforços para impedir que essa nova guerra aconteça. Somente assim vocês poderão eliminar a angústia, acalmar os gritos das crianças iraquianas enquanto estão dormindo: “Eles estão aqui para nos bombardear e causar nossa morte.”

É justo estarmos passando por tudo isso? É aceitável? É crime nosso estarmos flutuando em cima de um enorme mar de ouro negro? Para quê serve, a não ser para pagar por nossa morte? Por que não conseguimos sonhar com um futuro alegre e uma vida decente?

Valorizamos muito seus esforços a nosso favor e também suas orações. O amor e as orações conseguem milagres.

Deus os abençoa a todos e todas,

suas irmãs dominicanas no Iraque.

15.1.03

Rápido. Preciso descrever a cena que estou vendo agora antes que eu fique muintho bêubado...

...droga.... tarde demaix.............

14.1.03

Todos estavam muito tristes, sentados em torno de um aparelho de TV sem tela, lamentando o falecimento de Julinho Botelho e Maurice Gibb.

Eis que o Maurício nos mandou este mot d'esprit pelo D-D-Drim:

"Ele não era filatelista mas queria sê-lo"

Então todos se rejubilaram e quebraram os lacres dos odres de vinho de tâmaras.

13.1.03

Mas devo confessar que os primeiros dias no balão foram curiosamente interessantes.

Cada dia eu acordava em uma cabeça. Tinha sede, mas quando bebia a água ia parar no estômago de outra pessoa e a secura continuava. Demorei algum tempo para acordar em mim mesmo. Quando acordei estava imundo e o braço não era o meu. Só tinha guaraná Taí e Colubiazol para tomar banho. Saí desinfetado da bacia. Nenhum germe sobreviveria ao guaraná Taí.

Zé Luiz pilotava o balão com seu Joystick e Anselmo com a telepatia do Lair Ribeiro. Cada um tinha a sua função. A minha era utilizar os óculos de Lewis Carroll para descobrir formas de vida inteligente no radiador principal.

12.1.03

db 29.

Que loucura. O Ratapulgo fez pacto com o Xico Chavier ou anda se consultando com
o Robério de Olodum. Bem que avisei à Selma que poderíamos sofrer intervenciones de hackers espirituais. Eis aí. Agora não adianta derrapar no leite jorrado. Estamos diante de um cara iluminado que lê psicografias bloguianas apagadas minutos depois de
publicadas. Cosa de lôco.

Depois dessa pedi ao Jorge que enrolasse um baseado mostruoso,
misturando ao cânhamo restos do entulho do muro de Berlim capturados
na nossa última parada. Jorge escolheu um pedaço de pedra com a
inscrição "Solange esteve aqui". Junto, dechavou um casal de prestobarba enferrujado doado por Anselmo, enrolando tudo numa página dos " Fragmentos de Sabonete" do Jorge Mautner. Escolheu a dedo o capítulo que trazia Jimmy Hendrix a caminho de Mozart, usando a prerrogativa heracliteana que os divergentes consigo mesmo concordam. Jorjão comprou a idéia, queria que fosse um baseado-kaos, que se fumado lembraríamos do tempo em que ficamos rodando em círculo - ou círculos, a gente ainda não descobriu isso - sobre os céus de Moçambique. Na hora de fechar deu a idéia de trocarmos a saliva pela mostarda, para que a coisa tivesse algum sabor. O grupo aceitou, acendendo a bagaça no fogo que saía de um dos bujões de gás do balão.

A coisa rodou na carioca. Anselmo teve o azar de tragar parte do plástico azul do seu antigo barbeador, mas o resto foi bem. A ponta enfiamos no congelador.

Celeste deu bandeira que aquilo tinha começado a pegar. Entrou com um assunto totalmente merda. Observando o azar de Anselmo questionou as diferenças do acaso. Aquela velha estória de por que algumas coisas acontecem para uns e para outros não? Ignoramos a menina e fomos à varanda da cestinha respirar o ar de New Jersey.

- Uia!, gritou Jorge.

Anselmo - Olha o quê?
Jorge - Aquela luzinha.
Anselmo - Quê luzinha?
Jorge - Aquela.
Anselmo - Não tô vendo luzinha nenhuma.
Selma - Eu também não.
Jorge - Não?
Selma e Anselmo - Nãos.
Jorge - Ali. Bem ali.
Selma - Ah, verdinha?
Anselmo - Ah, é.
Jorge - Não, é azulzinha.
Selma - Ah, a azul.
Anselmo - Qual?
Selma - A azul.
Anselmo - Ah.
Jorge - Muito louca, né?
Selma - Muito louca.
Anselmo - Mais ou menos.
Selma - É, não é tão louca assim.
Jorge - É...

Após um breve silêncio.

Eu - Porra Jorge, você tá em pé?

Silêncio.

Celeste - É, tem certas pessoas que tenta consertar as coisas no meio da estória porque se esquece das características básicas dos personagens. Daí fica essa zona. Toca a enfiar frases no diálogo que não tavam no contexto dando uma bandeira de descaso terrível.
Eu - Tudo bem, Celeste. É comigo, né?
Celeste - Claro, porra. Esse seu diário tá com barrigas absurdas. Personagem merece respeito. Até os nossos nomes você esquece.
Eu - Isso foi o Ratapulgo quem trouxe à tona. Eu tinha apagado essa parte.
Celeste - Uma hora é o Ratapulgo o culpado outra hora é a manguaça do reveillon.
A gente merece respeito.

Celeste tirou um batom vermelho do bolso e escreveu em sua testa a palavra respeito
de trás para frente. O resto do grupo concordou com ela, passando todos a escrever respeito em suas próprias testas e a me olhar com aquelas caras de ambulância. Mais uma vez embichei.Virei as costas para o grupo e fiquei observando uma luzinha laranja muito louca que piscava nos os céus de New Jersey.

Não gosto de briga.
























11.1.03

Oi. Depois de algum tempo voltei a postar pelo Laptop da Celeste.

...um gosto de de azinhavre e kichute molhado na boca...

A primeira coisa que estranhei é a intensa claridade daqui de baixo. Todas as paredes foram pintadas de branco. Havia neon escorrendo das frestas.

Jorge agachado em uma cadeira de balanço com um radinho de pilha na orelha cantarolava o hino do Santos. Aquela menina que não lembro o nome girava em círculos com um negócio que parecia uma cinta abtrônic na cabeça. Celeste sumira. Anselmo dormia o sono dos injustos. E o Zé Luiz acabara de descobrir que a tatuagem das costas da menina era um mapa para o esconderijo de um tal promotor e girava em torno dela com uma lupa. Minha cabeça era uma rolha de champanhe, prestes a ser ejetada do corpo.

Foi aí que soltaram uma música muito alta e tudo começou a balançar...

10.1.03

Mais uma do SSS: O fulano disse que apanhar da mulher é muito ruim porque a gente vicia fácil e depois não consegue ficar sem.
...

... Assim que a dor de cabeça diminuir eu posto mais....

... O porquê de eu estar com um capacete de futebol americano do Dallas Cowboys e uma meia de faixinhas coloridas na mão esquerda será motivo de profunda investigação...

... amanhã ...

... ai...

8.1.03

(Db28)

O engasgo foi geral. Após gargalharmos durante 32 dias seguidos, Celeste veio
com uma dessa: " Por que será que não sinto a menor falta do meu noivo? "
Caralho! Mais 12 dias de risadas.

7.1.03

Então isso aqui num é Paquetá? Será que o Flávio tem razão? Bem que eu estranhei a cor do mar. E o cara trepando com as melancias. Ops, o cara das melancias é Paquetá sim! Super Paquetá. Acho que o flávio também tomou o bagulho. Cadê a minha coleira? E esse macacão? Porque que eu não lembro de nada nas últimas duas semanas? E essa dor aguda quando eu sento? Cadê as melancias? Cadê o Zé? Cadê?
Então isso aqui num é Paquetá? Será que o Flávio tem razão? Bem que eu estranhei a cor do mar. E o cara trepando com as melancias. Ops, o cara das melancias é Paquetá sim! Super Paquetá. Acho que o flávio também tomou o bagulho. Cadê a minha coleira? E esse macacão? Porque que eu não lembro de nada nas últimas duas semanas? E essa dor aguda quando eu sento? Cadê as melancias? Cadê o Zé? Cadê?