Recebi esse texto da irmã Margaret Ormond, que é a superiora da Confederação de Irmãs Dominicanas (DSI) em Roma e de frei Enrique Sariego, secretário do CIDAL: dominicanos da América Latina.
Estou anexando a tradução que acabo de fazer do original da irmã Sherine, que muit@s de vocês tiveram a alegria de conhecer aqui ou no FSM.
Um abraço, Lília Azevedo.
14 de março 2003
Para todas as pessoas de boa vontade através do mundo,
O Amor e a Paz do Cristo estejam com vocês.
Estamos nos dirigindo ao Presidente Bush e a todo o povo norte-americano como seres humanos, e não como um presidente dos Estados Unidos. Presumimos que, como cristãos, vocês tenham o coração cheio de amor e compaixão. Terão piedade de nossas crianças iraquianas, nossos anciãos e anciãs, e nossa juventude que não tem nenhuma esperança de um futuro melhor e uma vida decente. Nós, irmãs e irmãos dominicanos que vivem no Iraque, estamos vivendo e partilhando com nosso povo, em seu sofrimento. Os iraquianos vêm passando por tempos difíceis há vinte e três anos, pois foram testemunhas de duas guerras desastrosas. Se o Presidente Bush iniciar outro ataque militar contra o Iraque, pensamos que será uma catástrofe. Acreditamos que vocês podem sentir o perigo que está ameaçando a população civil do Iraque. É por isso que milhões de pessoas, de diferentes países em todo o mundo estão fazendo manifestações, escrevendo cartas e tentando pressionar o Presidente Bush para que não comece um novo ataque militar.
O Presidente Bush defende os direitos dos animais. Será que nós valemos menos que os animais? Ele alega que está tentando defender os direitos humanos no Iraque. Ele está disposto a construir um novo Iraque. Tentou convencer o povo dos EUA e os povos em todo o mundo que só vai bombardear o exército e as armas no nosso país. Ele promete que não vai causar nenhum dano aos civís. Por acaso ele está jogando flores nas pessoas? Ele vai usar armas de destruição massiva, que vão causar grande dano à nossa cultura, nossa terra e história, a provocar a morte de milhares de pessoas iraquianas inocentes de todas as idades.
Como alguns e algumas de vocês que visitaram o Iraque devem saber, os acampamentos do exéricito estão localizados muito perto das casas das pessoas. Temos dois conventos: um no começo do acampamento do exército e outro no final. Será que o bombardeio vai matar os soldados, ou o povo? Estamos vivendo com um medo enorme, pânico, e extrema preocupação. Nós não estamos sofrendo apenas uma guerra militar, mas temos estado sofrendo por cause de uma situação psicológica muito difícil, desde que o Presidente Bush começou suas ameaças desumanas de iniciar nova guerra contra nosso povo. A incerteza destes momentos e os tempos difíceis que estamos atravessando nos têm feito esperar pela morte a qualquer instante. A cada dia damos graças a Deus por estarmos vivas e vivos, porque não sabemos o que o amanhã esconde para nós. O pesadelo da nova guerra está nos assombrando sempre e em todo lugar.
Deus nos deu a vida e a liberdade como seus dons preciosos. Por que é que o Presidente Bush quer tirar tudo isso e nos privar de nossa liberdade?
Vocês bem podem imaginar que até nossas crianças não agüentam mais essas ameaças e não conseguem mais suportar a tensão psicológica e o desespero. Elas perguntam: quando é que a guerra vai começar?
Vocês são enganados, e nós somos reféns dos seus meios de comunicação de massa, que são os maiores mentirosos. Nossas crianças, mulheres e as pessoas em geral estão morrendo de desnutrição e fome, devido às sanções desumanas. As sanções já causaram a morte de um milhão e meio de iraquianos, na maioria mulheres e crianças. Por que é que vocês querem acabar de vez com elas por meio de uma nova guerra?
Vamos perguntar aos jovens dos Estados Unidos, “Eles enfrentam ou esperam pela morte a cada momento? Se for assim, será que não vão explodir?”
Por que o povo americano tem o direito de viver em paz, segurança e prosperidade? Será que a vida deles tem mais valor que a vida de outros povos, por exemplo, o povo iraquiano?
Nossos estudantes universitários se despediram uns dos outros no sábado, dia 15 de março, e estão preparados para a guerra. Eles não têm disposição para estudar. Achamos que estão certos, porque estão decepcionados e para eles a esperança parece ser a coisa mais sem esperança.
Há uns dois dias, podíamos sonhar com segurança e paz, mas agora não sabemos mais o que essas palavras significam, porque a violência, o sofrimento e o medo estão nos envolvendo.
Finalmente, gueremos dizer que não estamos curados da guerra do Golfo. Como poderemos agüentar os efeitos da nova guerra, que serão ainda piores?
A guerra não é só desastrosa e destrutiva em seus efeitos diretos, mas também em seus efeitos duradouros. As pessoas inocentes não serão apenas vítimas dos bombardeios, mas serão também vítimas da água potável contaminada, do meio ambiente poluído, urânio empobrecido, suprimentos médicos inadequados e força elétrica danificada.
Pedimos a todos e todas vocês que têm um coração compassivo e amor pela humanidade, que levem o sofrimento e preocupação do povo iraquiano a todos os púlpitos, salas de aula e todo lugar onde a Palavra de Deus é pregada. Que todas as pessoas ouçam a verdade a respeito da dor do povo iraquiano. Por favor, ouçam os gritos das crianças iraquianas e redobrem seus esforços para impedir que essa nova guerra aconteça. Somente assim vocês poderão eliminar a angústia, acalmar os gritos das crianças iraquianas enquanto estão dormindo: “Eles estão aqui para nos bombardear e causar nossa morte.”
É justo estarmos passando por tudo isso? É aceitável? É crime nosso estarmos flutuando em cima de um enorme mar de ouro negro? Para quê serve, a não ser para pagar por nossa morte? Por que não conseguimos sonhar com um futuro alegre e uma vida decente?
Valorizamos muito seus esforços a nosso favor e também suas orações. O amor e as orações conseguem milagres.
Deus os abençoa a todos e todas,
suas irmãs dominicanas no Iraque.
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