23.3.06

"Discutir na internet é igual competir nas olimpíadas especiais, você pode ganhar, mas continua sendo um retardado."

citado por Ricardo A.

flame

Flamewars Survival Guide

1 - Não eleve o tom da discussão.

2 - Posts agressivos podem ter respostas agressivas, sim. É isso que eles pretendem; é isso que eles merecem. Como Mel Gibson nos ensinou, as guerras podem ser muito divertidas.

3 - Um brogue é a casa de alguém. Mas se esta pessoa abre a janela de sua casa e começa a gritar que todo sãopaulino é viado, por exemplo, ela não pode esperar sinceramente que as paredes não apareçam pichadas no dia seguinte (ou cheias de pó-de-arroz, no caso).

4 - Sarcasmo é bom, ironia melhor, wit is jolly good. Ter argumentos é também recomendável, mas opcional.

5 - Só altere de forma jocosa os nomes de seus contendores se eles se irritarem com isso.

6 - Uma boa discussão está sempre no limite de se discutir mutualmente a profissão das progenitoras mas nunca o faz.

7 - Se uma metáfora infeliz foi usada pelo oponente, não tenha pena. Explore-a, torture-o.

8 - Releia seu texto antes de apertar o "send". Repita o processo. Novamente. Quando você estiver quase se arrependendo aperte o botão.

9 - Esqueça os erros de português e de digitação do adversário. Gramaticismos são a melhor forma de provar que você não tem argumentos.

10 - Sim, é possível dar um ippon simplesmente torcendo o mindinho. Atenha-se a um pequeno ponto que você tem razão e o oponente não tenha e vá determinado até o final. Exija uma resposta direta. Ele jogará diversos outros argumentos em sua direção, mas não se desconcentre, você pode retomar as discussões tangenciais mais tarde. Continue torcendo o dedinho.

11 - Cimente uma placa de bronze na parte interna do seu crânio com a inscrição: "por mais idiotas que os oponentes sejam você é muito pior pois está discutindo com eles." Tenha claro isso antes de entrar em qualquer debate. Você não está solucionando os problemas do mundo, está apenas os alimentando.

12 - Um corolário da Lei anterior: Tenha claro que na discussão você jamais irá convencer o oponente. Veja bem: ele é uma pessoa que acredita que a desregulamentação do mercado vai resolver o aquecimento global; é com gente assim que você está lidando. Sua tênue esperança reside em que um jovem leitor decida-se pelo seu lado (que é sempre o lado da Luz, da Razão e da Sabedoria) ao ver os argumentos de seu oponente solenemente pulverizados.

13 - Chiliques, faniquitos e fricotes do adversário são sinais óbvios que você já ganhou a discussão. Não os aponte, no entanto; não só não é educado como provocará mais chiliques, faniquitos e fricotes.

14 - Nunca reclame de ter um comentário deletado de uma caixa de comentários. Ela não é sua. Quer democracia? Discuta lá no seu brogue.

15 - Divirta-se. Se sua neurose não permite que você se divirta em uma discussão de internet, procure um analista ou arranje uma namorada; ou namore seu analista, sei lá.

16 - Em dúvida, crie confusão. Frases enigmáticas, vagamente relacionadas ao assunto, terminando com uma piscadela ;) são ótimas cortinas de fumaça para fugir definitivamente de uma discussão.

17 - Last but not least, the Golden Rule:
Shoot all the sitting ducks, shoot the nests, shoot the eggs. That's the real hunt!

22.3.06

A corrupção como modalidade olímpica

in memorian

Assistindo aqui do alto da montanha o esforço de César Maia para conseguir concluir as obras para o Panamericano me deu essa idéia. Transformar nossa a desvantagem em vantagem e incluir a corrupção como uma modalidade olímpica.

Alguns argumentariam que corrupção não é esporte. Alegariam que a corrupção é apenas uma prática cultural endêmica assim como o gerundismo e a lipoaspiração. No máximo a corrupção seria um lazer, uma espécie de passatempo nacional como assistir novelas e chutar cachorro morto. Dificilmente poderia ser considerada uma modalidade olímpica.

Digo eu, no entanto, que a corrupção em seu state of art exige muita técnica, nervos de aço e sangue frio. Quem já foi parado por guardas rodoviários sabe que há até um certo timming envolvido. E esforço físico também. Reparem como suam nas CPIs os depoentes sem mandato de segurança. Transpiram como decatletas em seu último sprint.

A corrupção é certamente uma categoria esportiva como já provaram Alberto Dualib, Eurico Miranda, Edílson Pereira de Carvalho et caterva. E convenhamos: se o tiro ao prato, afogamento sincronizado e a peteca (ué, badminton não é peteca?) são modalidades olímpicas não vejo o porquê da corrupção não ser.

A única diferença é que a corrupção seria a única modalidade em que o Comitê Olímpico eliminaria todos os que NÃO se doparam.

O Brasil está muito bem treinado e teria chances reais de medalha nas categorias Superfaturamento, Tráfico de Influência, Desvio de Verbas, Compra de Deputados, Licitações Fraudulentas, Nota Fria, Nepotismo, Sonegação, Carteirada e Caixa 2.

Ganharia a medalha de ouro aquele que subornasse o funcionário com cargo mais alto no COI. No pódium os atletas molhariam a mão dos juízes para receber as medalhas — cópias de latão, claro, pois as originais teriam sido escamoteadas por um notório corrupto anônimo, o verdadeiro campeão.

21.3.06

Berenice

Quando Berenice fica triste, chove. Quando está alegre, o Sol aparece. Se zangada, caem tempestades. Certa vez ficou tão brava que uma nevasca arrasou a zona norte da cidade e um pequeno tremor de terra arrancou postes do chão.

Berenice agora está tranqüila, tudo está quieto, a cidade quase parada. Pombos bicam preguiçosos pontinhos no chão. O vendedor de bilhetes de loteria coça as panturrilhas.

Berenice dorme. Uma brisa suave sacode a copa das árvores soando como centenas de chinezinhos correndo com seus sapatinhos de seda.

Neste momento Berenice está sonhando e, se você olhar agora pela janela, verá hipopótamos azuis turquesa flutuando satisfeitos pelos céus da cidade.

17.3.06

essa coisa dentro de mim

para o Ivan Justen

sei que tenho essa coisa dentro de mim
pode ser uma lombriga, pode ser um querubim

talvez um leprechaun, perdido na grande cidade,
que aqui no meu âmago tenha encontrado comodidade

seja o que for, me obriga a fazer coisas estranhas
como ingerir vidro moído e patinhas de aranhas

ou fazer malabarismos com navalhas e tamancos
enquanto persigo lindas babás em seus vestidos brancos

ou me faz colocar a orelha na porta do elevador e procurar mensagens
transmitidas por entre o ranger dos cabos e o grunhir das engrenagens

outro dia mesmo ouvi essa vozinha, que se fez entender
pedindo, quase chorando, que escrevesse para você
compus, então, a mais bela balada, feita com coração
a tinta violeta criava volutas no papel perfumado
coloquei, depois, o bilhetinho com muito cuidado
nas suas mãozinhas por detrás das grades do porão

sei que tenho, assim, uma coisa dentro de mim
pode ser um enfisema, pode ser um Idi Amin

10.3.06

Picasso es pintor, yo también; Picasso es español, yo también; Picasso es comunista, yo tampoco. - S. Dali

Sonhei outro dia que uma revista em que trabalhava estava demorando para fechar porque a última página não estava pronta. O cartunista havia sido despedido e o diretor de arte estava embatucado com letraset (!) e ecolines tentando fazer uma charge para preencher o espaço. Deve fazer uns dez anos que não faço mais charges políticas e que tais (em sonho provavelmente mais tempo ainda) mas bolei essa aí de baixo para poder ir para casa logo. O trabalho é uma indignidade, em sonho ainda mais. Por sorte lembrei ao acordar. Podem começar a queimar as embaixadas, não tou nem aí.



uso-da-maquina

9.3.06

Descobri uma coisa: Eu gosto de pessoas mas não suporto gente.

Gente é chata. Pessoas são interessantes.
Gente é irritante. Pessoas são bacanas.
Gente faz fofoca. Pessoas contam histórias.
Gente é ordinária. Pessoas são preferenciais.
Gente são as pessoas niveladas por baixo, reduzidas aos seus menores denominadores comuns: a ignorância, a covardia e a vontade de destruir o povoado vizinho.

Em coletivo as pessoas regridem. Perdem a inteligência. Perdem a decência. Elas aplaudem qualquer coisa. Lincham quem estiver se mexendo. Votam no ACM, no Serginho Chulapa. Fazem bailes de formatura. Ficam tagarelando no cinema. Enchem a cara e começam a gritar. Vão pro Rio assistir Rolling Stones em um telão no meio da praia. Mijam uns nas pernas dos outros.

As pessoas são possíveis, gente é inviável. Por isso nenhum regime político funciona direito, porque foram feitos por aquela gente para essa gente que tá aí (e não falo de "gentinha" não; gentinha, apesar de tudo, é o tipo de gente mais melhorzinho; tem sua graça liliputiana). Talvez com pessoas as coisas um dia funcionem; mas com gente, minha gente, não tem solução.

Acho que no fundo o problema é esse: éramos todos boas pessoas; mas acabamos virando gente.

7.3.06

Lançamentos da Bienal do Livro

A Bienal Internacional do Livro em São Paulo promete uma sinergia intensa e marcante nesta 19ª edição. Para quem gosta de ser marcado com intensidade por sinergias de diversas qualidades e proveniências não há lugar melhor. Para os demais é melhor ficar em casa lendo um bom livro. Confiram alguns lançamentos:

O Necronomicon
Essa nova versão do Necronomicon feita pela Edições Paulinas, apesar de não ter sido traduzida diretamente do original, é extremamente bem cuidada. É rica em notas de rodapé (feitas pelo ainda Cardeal Ratzinger), contém um excelente índice onomástico nas últimas páginas e uma pequena tiragem de luxo foi revestida com uma resistente capa de couro de bode negro de alta resistência ao calor.
Coordenada pelo padre Charboneau, a atual versão em português do Necronomicon inclui traduções (transcriações) das principais missas negras feitas por Haroldo e Augusto de Campos. É muito superior à antiga edição da Companhia Editora Nacional, de 1933, traduzida pelo próprio Monteiro Lobato de uma versão francesa já muito capenga. Há tantos saltos e tamanhas liberdades foram tomadas por Monteiro Lobato na antiga tradução que quando, por exemplo, queria-se invocar Barbaath-Vogol, o Demônio Assírio das Nove Cabeças Flamejantes, acabava sempre aparecendo no centro do pentagrama um indiozinho cabeludo de cinco centímetros de altura pedindo fumo-de-corda ou vales-refeição.
Para quem não domina bem o copta, o gaélico ou as línguas dravídicas e não pode ler o Necronomicon no original é melhor optar pela edição das Paulinas mesmo.

(O Necronomicon, 666 pgs., Ed. Paulinas, 2006)

Lista telefônica de Praga - 1912
Um dos livros mais lidos e relidos por Franz Kafka, a Lista Telefônica de Praga é indubitavelmente uma obra de referência.
Muita polêmica cerca este livro. Diversos estudiosos afirmam que Kafka utilizava constantemente a lista para passar trotes obscenos, tapando o nariz e imitando voz de mulher, enquanto outros especialistas afirmam que o sistema telefônico tcheco somente foi instalado em 1927, três anos após a morte de Kafka.
A edição nacional optou por colocar os telefones da lista em ordem numérica para facilitar a consulta.

(Lista telefônica de Praga - 1912, 96 pgs., Iluminuras, 2006)

Meu Bodinho de Estimação
Enfim chegou às livrarias esse clássico da geopolítica. É o livro que o presidente dos EUA começou a ler imediatamente após saber que a segunda torre gêmea havia sido atacada por terroristas.
O próprio George W. Bush declara no prefácio: "É um livro que explica a complexidade do mundo atual com uma linguagem simples e belas ilustrações. É cativante, o mundo pode estar caindo a sua volta e, ainda assim, é impossível largá-lo".
A edição nacional tem a contra-capa assinada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva confirmando que também aprendeu quase tudo sobre a moderna geopolítica com Meu Bodinho de Estimação e que gostou especialmente das partes de colorir.

(Meu Bodinho de Estimação, 8 pgs., Imprensa Oficial, 2006)

6.3.06

E a Rachel Weisz? É coisa nossa! Mas que vai, vai…

É a época do ano de mais uma vez proclamar a máxima de Mestre Ina:
"Oscar, o Troféu Imprensa do cinema mundial."

5.3.06

Mulheres perdidas

Uma mulher perdeu-se? Perdeu-se uma mulher? Não tem problema. Na Agência Central dos Correios existe toda uma seção feita especialmente para guardar mulheres encontradas. Mulheres perdidas que foram achadas nas bibliotecas ou sorveterias ou bancos de praça ou sentadas em escadarias desenhando bicicletas com lápis-de-cor são colocadas nas caixas de correio para que o carteiro as leve para esta grande central. Se neste depósito nenhuma lhe agradar, aproveite a viagem e escolha uma atendente dos correios mesmo. Elas todas têm uma doce simpatia, segundo grau completo e uma língua bem treinada de tanto lamber selos.

Em todo caso não se esqueça: é sempre preferível uma mulher perdida a uma que se acha.

4.3.06

Neoliberou geral!

Acho muito legal a direita sair logo do armário. Mal posso esperar para vê-los todos desfilando na Paulista na "III Parada do Orgulho Olavete".

Lá estaria o Reinaldo Azevedo dançando no alto do carro de som dos Neo-Criacionistas ao ritmo da versão tecno do Réquiem do Fauré. Em seguida viria o bloco dos anti-abortistas cantando a marchinha "Toda Vida é Sagrada" e logo atrás a vivaz tchurma da Pena de Morte. Diogo Mainardi com sua cara de esfíncter acenaria sem-graça para a multidão alucinada de neocons. Um Opus Day posaria para fotos de turistas argentinos ao lado de um sujeito com uma máscara de Erasmo Dias. Um conhecido blogueiro, ao passar em frente às câmeras de TV, mandaria beijos e declararia em sua voz aguda: "Eu sou libertário, meu bem, li-ber-tááá-rio!!! U-hu!!". Fechando a parada o sambão dos Unidos do Oligopólio de Nárnia e dos Devotos de São Hayek.

O povão brasileiro — que, segundo consta, é maciçamente de direita e sequer pode ouvir a palavra Estado — entraria imediatamente na festa, cairia de boca no bacanal liberalizante onde ninguém é de ninguém e quem manda são as leis do mercado.

U-hu!!

-

Sério, gente, o Olavo de Carvalho não é o próprio Clóvis Bornay da direita brasileira?
Eu sempre o imagino nas passarelas do Copacabana Palace desfilando em seus magníficos trajes sumérios. "Querido, essa é minha última criação: Sodoma, Gomorra e o Foro de São Paulo submersos em chuva de ouro de Moscou, enxofre e purpurina."

Grande Olavão!

3.3.06

R.A.T.A.P.U.L.G.O.




via Feito a Mão

A Maldição Asteca do Chocolate

O chocolate é doce vingança dos Astecas.
"Vocês nos deram catapora, varíola, morte e destruição, mataram nossos deuses, queimaram nossos livros e comeram nossas mulheres mais gostosinhas. Mas nós vos legaremos essa maldição, esse sangue escuro que doravante percorrerá vossas veias e vos deixará barrigudinhos e com medo da balança do banheiro! Rá!"

1.3.06

Olha a Caprichosos de Stratford-upon-Avon aí, geeeente!

Depois de homenagear Zumbi, o Estado do Amapá e o Ebola, a Caprichosos de Stratford-upon-Avon voltou às raízes em 2006 e resolveu homenagear seu fundador, o quase mítico carnavalesco Teobaldo (Bardo) Xeiquispir, com o tema "Há algo de podre no Reino da Dinamarca mas juro que não fui eu", composto por Valdeíson Rosencrantz e Guildenstern da Cuíca.

O samba enredo que empolgou o sambódromo foi o seguinte:

Ser ou não seeeeeeer
eis a questão.

O que é mais nobre para a alma:
Suportar todas pedradas do destino adverso
ou armar-se contra um mar de desventuras
e dar-lhes fim tentando resistir?

Morrer,
(tamborins: tla-tla-tlac)
dormir,
(bumbos: tum-tum-tum, tum-tum-tum)
imaaaaaginar
que sono da nossa morte
terminará com os sofrimentos do coração.

Morrer,
(tla-tla-tlac)
dormir,
(tum-tum-tum, tum-tum-tum)
talvez sonhaaaaaar.

Mas é aí que está o problema:
não sabemos que sonhos trará
o sono da morte.
Qual será nossa sorte?

Eis a questão.

Ser ou não seeeeeer…
etc.


---
Antes que o HaloScan coma, deixa eu salvar aqui:

Xeiquispir é samba no pé! Xeiquispir é povão! Xeiquispir é curintiano, maloqueiro e sofredor, mano!
ratapulgo | Homepage | 01.03.06 - 1:24 am | #

-

É o Rei Lear Momo, é Lady Macbeth de porta-estandarte e Gertrudes de rainha da bateria de Elsinore!!
Nelson Moraes | Homepage | 02.03.06 - 10:54 am | #

-

Comissão de frente: Shylok, Ofelia, Cordelia, Marco Antônio e Péricles.
Carro abre-alas com o fantasmão do pai de Hamlet.
Depois viria o carro alegórico com Sonhos de uma Noite de Verão. Outro com Júlio César na escadaria do Senado. Outro homenageando o (Grande!) Othelo. Um outro, todo ensanguentado, de Titus Andronicus.
Se o mestre sala e a porta- bandeira não forem Romeu e Julieta pode ser a Lady Macbeth com um Ricardo III mancando.
Não teria a ala das baianas mas a Ala dos Lancasters e a dos Yorks.
Henrique V, mestre de bateria, claro.
O risco seria apenas de acabar caindo a maior Tempestade.
É, véio, isso é as good as it gets!
ratapulgo | Homepage | 03.03.06 - 4:14 pm | #

-

E o grande Jack Falstaff puxando o sambão, só tirando o microfone da boca pra dar umas goladas no xerez!
Nelson Moraes | Homepage | 03.03.06 - 4:51 pm | #