15.12.04

TS Eliot revisited

Abril* é o escambau! Dezembro é o mais cruel dos meses. Cruel assassino e maquiavélico. Pior que vilã caolha de novela guatemalteca.

* ok, setembro no hemisfério sul. Que diferença faz? Aqui sequer temos estações do ano direito. Esse país é uma esculhambação total. Nem o clima funciona.
Pfui.

8.12.04

the great events of the world take place in the brain

Então, o problema é o seguinte:

Estou no meio de uma viagem astral e não consigo mais encontrar o meu próprio corpo. Hoje tomei posse temporária do corpo de uma menina de 9 anos (hmmm, deve ser por isso que tenho uma tentação a iXkRevEr IxKizitU) que está digitando isso num computador do McDonald's. Tenho que escrever rápido pois assim que o McLanche feliz começar a fazer efeito o corpo da petiz vai querer expulsar essa alma extra.

Desculpem o abandono do blog. Mas não foram só os meus blogs que deixei ao relento durante essa minha experiência fora-do-corpo, foi quase toda a internet. Meus caros e caras, se deixei de visitar seus magníficos blog para distribuir com generosidade as pérolas foscas do pensamento ratapulgiano, não foi nada pessoal. Para vocês terem uma idéia: eu vejo no contador de atualizações de RSS que já há 361 posts não lidos.

Como meu corpo está perdido por aí, dependo de baixar no corpo de outras pessoas que tenham acesso a internet para poder me comunicar com vocês, checar emails e tudo mais. Outro dia baixei numa senhora gorda (equivocadamente achei que teria mais espaço para duas almas - nada! é bem mais apertado) mas ela estava no meio de um culto pentecostal e acabei sendo chamado de Exu Caveira por um pastor que me batia com uma Bíblia. Dei-lhe um murro na cara e saí da igreja para procurar um internet café ou uma Lan House apenas para descobrir que estava na periferia de Itaquaquecetuba e que as chances eram mais que remotas. Voltei à igreja para ver se o pastor ou alguêm da congregação poderia emprestar um laptop com serviço wireless de conexão via celular mas a turba começou a espancar a mulher. Sai do corpo e deixei a gorda sendo linchada lá embaixo.

É isso. Assim que encontrar meu próprio corpo volto a ler e postar com regularidade. Vamos torcer para que não tenha sido cremado ainda. Beijos e abraços a todos, de acordo com a preferência pessoal.

30.11.04

Calça Curta

Pensei num programa ao vivo de quarta feira que comentaria o Saia Justa em tempo real. Se chamaria Calça Curta.

São 4 homens tomando cerveja e assistindo o futebol básico da quarta-feira e zapeando de vez em quando para o Saia Justa.
São eles:
O Maurício Orth, irmão da Mariza Orth, um puta gênio;
O Alexandre Machado, marido da Fernanda Young;
O marido da Mônica Valdvoguel, esse mártir, whoever he is;
Um tio aposentado da Marina Lima.

Quando uma mulher fala uma bobagem muito grande lá no Saia Justa o seu correspondente masculino no Calça Curta recebe uma vaia e uma saraivada de amendoins, eventualmente toma uns cascudos de todos.
O Alexandre Machado já vai para o programa usando um capacete daqueles de futebol americano.

21.11.04

entardecer opaco de novembro

foi naquele acampamento de mentirinha que você sabe onde que tão bonita brincava de sair do corpo e ver nós dois de formiguinhas crianças lá em baixo na grama rindo muito de bobeira naquele entardecer opaco de novembro você daquela vez foi muito longe mesmo na hora que começou a chover muito forte eu gritava mas você não escutava e ria no temporal rodopiando nas nuvens aspiraladas sem ver o caminho de volta quando a enxurrada levou seu corpo embora na correnteza e eu agarrei chorando na sua alma que chegou tão atrasada

de Eulírico de Oliveira para Maira

19.11.04

Leave death to the professionals.

“In Italy, for 30 years under the Borgias, they had warfare, terror, murder, bloodshed, but they produced Michelangelo, Leonardo da Vinci, and the Renaissance. In Switzerland they had brotherly love, they had 500 years of democracy and peace, and what did that produce? The cuckoo clock.”

Orson Welles em The Third Man (1949)

17.11.04

Notícias de Sampa

Olá, querida,
por aqui tá tudo tranqüilo,
e por aí? Aproveitando bastante a viagem?

Não tenho mais passado fome, viu? Comprei mais quinze caixas de sucrilhos e resolvi o assunto. Banho também não é problema. Aquele que tomei no dia da sua viagem até que está aguentando bem. Tenho dormido otimamente bem no sofá, assim quando eles gritam gol na TV eu não preciso ir correndo para a sala. O que criou um certo problema, já que fiquei muito distante do telefone. Mas a secretária eletrônica tem dado conta bravamente do recado, ou dos recados. Você sabia que ela guarda até noventa e nove recados? Depois disso ela pára de gravar. Mas, tudo bem, a maioria das pessoas ligou mais de uma vez eu já sei em termos gerais o que elas querem. Assim que eu achar minha caderneta de telefones eu retornarei as chamadas.

A Dona Cleide não vai poder vir de novo essa semana. Seria bom que ela viesse, porque o pessoal derrubou cerveja durante o jogo e o piso inteiro tá meio grudento, a não ser perto do banheiro, onde o vazamento da pia acabou, felizmente, limpando sozinho a melequeira. A cozinha ainda dá para entrar. Os jornais absorveram o leite que estourou, mas se transformaram numa pasta endurecida que dificulta abrir a geladeira. Os forninhos é que não estão funcionando muito bem. O microondas, desde que explodiu uma lata de coca-cola dentro, derruba a voltagem do apartamento; e o forno elétrico está com um cheiro de vômito queimado bem desagradável; o fogão eu parei de usar por que parece que ele está vazando gás de algum lugar. Eu liguei o ventilador para empurrar o cheiro de gás pra janela da cozinha. Outra coisa é que eu não sei mais o que fazer direito é com o lixo que fica atravancando a porta da cozinha. Os saquinhos de lixo acabaram e eu estou embrulhando as coisas em jornal, mas não consigo dar um nó direito nas folhas de papel e o pacote sempre fica assim meio torto. A porta da sala já tá difícil passar por causa de uma montanhinha de cartas acumuladas que meio que travam a porta na hora de abrir.

Mas, sem problemas, eu já levei tudo que eu preciso para perto do sofá. E dá para usar o violão como mesinha enquanto eu faço a fisioterapia com o pé nos baldes. O dedão infeccionou de vez e as pomadas não estão mais fazendo efeito, mas descobri que tomando uns dez voltarens ele pára de doer.

No mais, tá tudo jóia.

Aguardando ansiosamente sua volta.
Grande beijo. Saudades.

Olegário

PS - O seu pai ligou da delegacia várias vezes meio desesperado. Dá uma ligadinha pra ele pra ver o que ele quer. Parece que é importante.
PS 2 - O Bezerra Caolho me arranjou outro pitbull !! É lindo de morrer e se chama Lúcifer júnior!
PS 3 - Por falar nisso. Você era muito apegada às suas botas? Aconteceu um troço aqui. Depois eu conto.

16.11.04

Internetiqueta - preceito 47

Evite sempre os ataques Ad Hominem.
Concentre-se nos ataques Ad Matrem.

7.11.04

Roleta Russa (replay)

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

– Alguém precisa morrer, Ivan.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

- Alguém sempre precisa morrer, Bóris.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

– Sempre. Desejos antagônicos só devem ser resolvidos pela anulação total do outro, Ivan.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

- Ou pela anulação de si mesmo, Bóris.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

- Sempre na esperança que a não-existência traga o não-desejo, Ivan.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

- Ou que a aleatoriedade do gesto de puxar o gatilho seja o modo definitivo de saciar todos os desejos. Assim como em uma má novela em que o autor perde o rumo da história, alguém termina morto. Alguém sempre precisa morrer, Bóris.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr – CLICK

– Mas tem certeza que você colocou uma bala no tambor deste revólver, Ivan?

– Você está louco, Bóris? Alguém poderia acabar se machucando!

Na manhã seguinte o corpo de Ivan foi encontrado ao lado da arma. Morto a coronhadas.

5.11.04

A Divina Tragédia (canto VIII) – A Mansão de Lord Buttocks

Lord Buttocks era também conhecido como O Autor. Era um escritor tão bom, seu conhecimento da alma humana tão profundo e suas descrições tão vívidas, que os seus personagens realmente criavam vida e saíam por aí. Eles passeavam pela propriedade de Lord Buttocks e jogavam croquet. Alguns até chegavam a se assanhar com a criadagem, mas logo Lord Buttocks, O Autor, ameaçava alterar alguma característica física deles em uma nova edição de seus livros e eles retornavam obedientes ao chá e torradas com geléia de damasco.

Porém, agora, os seus personagens estavam morrendo. Um a um. E também seus investigadores. Ninguém descobrira a razão.

Na entrada da propriedade de Lord Buttocks não havia portões. O caminho até a Mansão era protegido por um asseado jardim em forma de labirinto. Como o de Versailles. Apenas um pouco maior e com plantas carnívoras. Não muitas. O suficiente para desencorajar seus diversos fãs e tias-avós em visitas-surpresa.

Resolvi alugar um taxi-aéreo para passar por cima do labirinto. Taxi-aéreo no Céu são uns anjões com umas fitas de seda resistentes e coloridas que formam uma balança aonde senta o passageiro. Ele me deixaria diretamente no hall de entrada da mansão. O anjo que eu peguei era careca e falava fluentemente o paquistanês e o aramaico. Pena que eu não. Consegui me fazer entender por gestos. É preciso ter muito cuidado. Nosso tradicional gesto de positivo é entendido aqui no Céu como "tem penas de urubu saindo das nádegas peludas da sua irmã caçula". Uma ofensa grave.

Como eu imaginava, a vista aérea revelou que o labirinto não tinha saídas para a parte interna da propriedade. Imagino que aquela velha e pequenina senhora de chapéu florido carregando uma travessa com docinhos ainda perambularia muito tempo por ali. Do alto a propriedade se mostrava ensolarada e magnífica. Daria para assentar por ali umas cinqüenta famílias de sem-terra. No mínimo. O taxi aéreo me deixou ao lado da réplica da Fontana di Trevi, onde se banhava uma réplica da Anita Ekberg, diante da entrada da mansão.

Paguei a curta viagem com sete balas juquinha de morango, uma iguaria que acredito ser muito apreciada por aqui. O anjão careca fez um sinal de positivo para mim e, resmungando, levantou vôo.

– Fola! Não pode entlá!

Fui recebido inamistoamente por Nun Li, mordomo de Lord Buttocks, um mau-humorado chinezinho de 60 centímetros de altura. Não era um chinês baixinho, atarracado, mas uma miniatura perfeitamente proporcional de um chinês típico. A cabeça parecendo um ovinho invertido, chapeuzinho preto, bigodinhos finos, vestes de seda vermelha e andar de gato de porcelana. Tudo em miniatura.

Nun Li e Nun Goj-Tei eram irmãos gêmeos. Ambos nasceram, coincidentemente, na mesma casa, no mesmo dia, na mesma hora, embora de mães diferentes. Nun Li era o mordomo de Lord Buttocks e Nun Goj-Tei o motorista do riquixá de Christie, a gata de estimação de Lord Buttocks.

– Não pode entlá!

O mordomozinho chinês, muito sofisticado, sabia 37 idiomas e dialetos, oito línguas mortas e três agonizantes. E odiava falar português. "Lingua hololosa. Palece um lusso embliagado falado ao contlálio." Assim, fazia questão de trocar sempre que possível o R pelo L. Para ridicularizar o ouvinte. É a tal da sabedoria chinesa, acho.

– Senhor Nun Li, eu venho, com uma puta humildade, oferecer os meus especializados serviços ao seu patrão.

Dei meu cartão ao chinezinho que o olhou como se eu tivesse assoado o nariz nele. No cartão ou no chinês. Tanto faz.

– Michaetch M. Wladisknivlonzky, pediculo?
– Não, não sou pedicuro, sou Nivronsky, detetive particular. Foi um erro de impressão. É difícil achar boas gráficas no Inferno. E quando se encontra, estão sempre sacaneando.
– Infelno, é? Então, seu Nivlonsky, é uma alma etelnamente danada?
– Exatamente. E vim resolver esse pequeno incoveniente dos assassinatos em série.
– Hmmmm…

O pequenino chinezinho levantou uma sobrancelha. Levantou também a extremidade de seu bigode e o dedo mínimo do pé direito. Algumas engrenagens metafóricas mexiam na sua cabecinha de bibelô. Ele sabia que as almas eternamente danadas não correm o risco de renascer. Assim eu não correria o risco de terminar como os outros investigadores desse caso misterioso, reencarnando abruptamente na Terra.

– Pol favol, agualde na ante-sala.

Segui o minúsculo mordomo. A ampla sala era uma réplica do interior do Palácio Ducal de Veneza. Só que feita com bom gosto. Ou seja, completamente diferente.

As paredes e o teto eram totalmente recobertos por pinturas e afrescos que estavam sendo repintados por Frederick Lord Leighton. Nessa versão de outono o pintor estava representando as diversas musas. Do teatro, da música, da pornochanchada, do badmington. A musa Yabusa (a musa dos trocadilhos) cansada de posar como modelo, ressonava sobre um divã turquesa. O Próprio Lord Leighton, aliás, dormia pendurado em um cabide num dos cantos do salão com a palheta ainda pendurada nas mãos.

Acontecia que, curiosamente, todas as musas e todas as mulheres pintadas em qualquer cômodo da casa acabavam sempre se parecendo com a Shirley Maclaine novinha. Uma verdadeira obsessão de Lord Buttocks. Uma paixão que jamais seria correspondida, pois a Shirley Maclaine há muito tempo reencarna sucessivamente no mesmo corpo. Sabe-se, porém, que quando terminar a última reencarnação ela será levada por um disco voador para uma outra galáxia em outra dimensão. É essa dor do amor impossível que faz Lord buttocks escrever. A dor e as ameaças do editor.

Porém eu sentia que devido à série de assassinatos ocorrida naquela casa o ambiente estava pesado. Parece que havia uma tensão no ar. Era possível reparar essa tensão no mármore do chão e também nos móveis de marchetaria tcheca. Os candelabros estavam tensos. A casa estava visivelmente toda tensa. Um cálice de champanhe estalou na cristaleira. Lord Leighton acordou, resmungou algo sobre a escassez do verde cádmio e dormiu novamente. Nun Li retornou ao aposento:

– Lord Buttocks o espela no outlo lecinto.

4.11.04

Se Fôssemos um País Civilizado

Luiz Inácio Lula da Silva acompanharia muito atento, na TV Record, o mapinha do Brasil que iria lentamente se colorindo de vermelho e de azul. Tomaria mais um trago da branquinha. A apuração correria apertadíssima e ele faria as contas em seus nove dedos: com os quatro votos do Piauí e os três de Roraima, ele poderia recuperar o revés da perda dos seis votos do Rio Grande do Norte.

A contagem estancaria em Minas nos 72%. Um problema com as cédulas perfuradas.

Os analistas diriam que nesta eleição Minas Gerais faria o mesmo papelão que o Rio de Janeiro fizera há quatro e há oito anos atrás. Alkmin já estaria preparado para apelar a Aécio Neves para que fizesse a recontagem dos votos de Minas somando os votos vindos do exterior dos emigrantes de Governador Valadares.

Bóris Casoy passaria o Estado de Minas e seus vinte e oito votos no colégio eleitoral para a cor abóbora; indefinido.

Mas Lula saberia – assim como qualquer brasileiro – que existe essa tradição, essa superstição, esse tabu incontestável: quem ganha no Estado da Bahia sempre vence a eleição. Não tem conversa. E, distraído, alisaria no pulso a encardida fitinha do Nosso Senhor do Bonfim, prestes a arrebentar.

30.10.04

A Última Valsa da Economia em Viena

Eu continuo achando tudo muito muito muito lindo.

Pois não é belo e misterioso esse mundo cheio de contadorezinhos, marceneirozinhos, verdureirozinhos, jornaleirozinhos?

Todos eles com seus trabalhinhos e seus interesses pequeninos, mesquinhos, que parecem microscópicos e insignificantes, mas quando em interação uns com os outros produzem uma onda, um fluxo, uma sinergia, uma harmoniosa e fluida dança da economia, lenta e bela como a das galáxias que, no fundo, nada mais é que a justa representação de uma lei genética, ancestral e sagrada de virtuosidade e puro amor.

E aí veio o George Soros besuntado com creolina e comeu todo mundo.

27.10.04

Divina Tragédia (canto VII) - Paineiras Furta-Cor

Paineiras Furta-Cor é um condomínio fechado localizado na parte mais distante do Sétimo Céu. Passa-se por várias guaritas e cancelas para chegar lá. A entrada de Paineiras Furta-Cor era guardada por sete anjos-samurais vestidos de armaduras vermelho-cinábrio e terra-de-siena, ton sur ton. O comandante, um grande anjo de seis asas chamado Sir Jonathan Caldwell McGarther Al-Daif Lelahel Duboys de Almeida Metatron III, protegia o elegante pórtico em estilo mediterrâneo com sua espada de nove gumes.

Metatron é um Serafim, um super anjão porreta. É um transformer gigante que duas vezes por semana pode alterar sua forma para um tiranossauro alado de titânio que solta labaredas pelos olhos e raios lazer pelo rabo. Muito cool! Mas, naquela hora, estava na forma desse anjo enorme com três pares de asas metálicas, um par para voar e dois para cobrir o corpo. Empunhava uma estranha espada que seria a versão celeste do canivete suíço.

Irado, ao ver chegar um gordinho careca portando chinelos, camisa florida e pochete trotando em um jegue com toda pinta de viado, admoestou-nos:

– Aquele que ousar profanar o santuário da sapiência e beleza terá sua alma espúria exterminada do meio de seu povo. O ímpio que trouxer iniqüidade a este santificado reconditório vestir-se-á de maldições como quem põe sobre si uma mortalha ensangüentada. – o gigante Metatron avançou em nossa direção. – Não temeis, por ventura, a espada de nove gumes de Metatron, ó reles criatura? Que impurezas trazeis em vosso coração, ó alma vil e xexelenta?

Solenemente proferi as santas palavras: "Trouxe a muamba do Orson pra galera! U-hu!"

Os anjos-samurais prostraram-se no chão. Metatron fez uma respeitosa reverência e entrei. Todo o condomínio é circundado por altas muralhas caiadas. Uma alameda de, óbvio, paineiras furta-cor conduz a um jardim e um lago central com uma ruína de um templo à Minerva projetada pelo Le Corbusier. Nenhum transporte motorizado é permitido. Apenas riquixás e cabriolés zanzam pelas aléias floridas.

Encontrei toda a clientela de Orson Welles reunida em um Garden Party Brunch nos ensolarados jardins do Palacete de Marlon Brando. A distribuição dos produtos seria bastante rápida. Todo mundo estava lá. Menos o próprio Brando, que mandou uma falsa índia em seu lugar. Ingrid Bergman com uma pena na cabeça.

Grace Kelly, deitada languidamente com seu maiô branco à beira da piscina, ouvia animada as lorotas dos dois Richards Burtons. O ator contava quem ele havia comido e o explorador de quem ele escapara de ser comido. Dorothy Parker com um chapelão amarelo era assediada pelos dois Lawrences. TE travava um discreto duelo com DH para acender o cigarro na longa piteira também amarela de Dorothy. Oscar Wilde voltava de um alegre passeio pelo pomar com o imperador Adriano. Akira Kurosawa tocava um ukalele para Theda Bara dançar. Um mandarim magrinho estava sentado em posição de lótus no trampolim da piscina. Um lagarto azulado sonolento segurava uma sombrinha rendada sobre sua cabeça imperial. Humphrey Bogart jogava xadrez com Lyn Yutang. Sidarta todo arrogante, achando que era o Tao, carregava no colo sua cadelinha Fifi.

Porém um pequeno alvoroço estremecia os convidados como uma lagartixa caída em um decote. Um escândalo. Boatos recentes na Terra diziam que o filho do Chefe Lá de Cima era, na verdade, casado. Tinha filhos no paralelo e tudo. Mandaram chamar o Leonardo da Vinci, suposto autor da fofoca. Leo chegou naquele troço voador que parece um saca-rolhas feito de papelão que todo mundo sempre tem que dar um empurrão pra funcionar direito e sair correndo quando pousa. Ele afirmou não ter nada a ver com essa história. Não tinha nada de códigos na pintura, não. Nem sabia da vida do Filho da Homem. Ele apenas fizera uma propaganda institucional. Só. Sem subliminares, que custam mais caro. O pessoal estava viajando na maionese e pirando no abacate. Mas, afinal, cada um via o que queria em seus quadros, não é mesmo? Obra aberta e coisa e tal. Ele não era dono dos olhos das pessoas. A não ser de um determinado cadáver, mas esse ele tinha a nota fiscal. Não sei se o papo colou. Mas a discussão parecia que iria longe. Mencken e George Sanders o cutucavam, provocativos. Leonardo ria, afagando a barba, e tergiversava.

Ao lado da piscina anunciei minha chegada e a das infernais especiarias.

– Olhaí, olhaí freguesia, é a muamba do Orson Welles! Venham experimentar essa dilícia!

O grupo em torno de Leonardo da Vinci dispersou e começou a rodear o jegue.

Grace Kelly foi a primeira a se levantar para pegar a sua cocaína para o real narizinho platinado. Levantou o rabo do jegue e procurou sua encomenda. E, em seguida, bateu uma carreira num espelho que lhe estendia Cleópatra. Apesar de achar a cena hilariamente disgusting, os outros logo a seguiram. Cada um dos convivas depois de vencer o nojo pegava dentro do jegue o seu pacote. O jegue gay zurrava de contentamento.

O vibrador com luzes e musiquinha para a Mata Hari. Uma touxinha de ópio e um cachimbo de madrepérola para Lord Byron. Os charutos cubanos para o Churchill. A grande caixa de viagra para o Borges. Absinto 70º para o Fritz Lang. Os pastéis de camarão com catupiri, embora tenham chegado quentinhos, acabaram sendo irremediavelmente esmagados. Ficarei devendo para a simpática czarina Catarina I. Dei para ela o restinho da minha pamonha e ela lambeu os lindos beicinhos.

Depois de compartilhar o novo cachimbo de Lord Byron vários convivas começaram a mostrar outros interesses pela minha montaria. Quando eu já deixava a Garden Party pulavam na piscina, ao som de palmas e gritinhos animados, Nabucodonosor, Marcello Mastroianni e o jegue. Peter Sellers agitava as maracas. A rainha Vitória começava a tirar a roupa.

Já era a hora de fazer minha visitinha à mansão de Lord Buttocks.

26.10.04

Apêndice comercial (canto VIb)

Muitos me perguntam sobre o Primeiro Céu e a localização de seus principais pontos turísticos. Ok, ok, ninguém perguntou, mas eu vou falar mesmo assim.

O Primeiro Céu é reservado aos principiantes e está dividido em duas alas.

Na parte meridional se localiza a biblioteca e a videoteca. Não são tão completas quanto as do Inferno, mas pelo menos você consegue encontrar o que está procurando. As silenciosas salas de estudo são ideais para aqueles que estão estudando duro para não fazer feio no Juízo Final.

Na metade setentrional está a Academia de Santos. Para esta ala vêm aqueles que procuram nas próximas encarnações buscar o caminho da santificação e beatitude sem se esquecer do corpinho. É conhecida como Academia Forma & Conteúdo. Reproduzo o folheto:

Venha você também cuidar do seu Corpo e Alma! Na Academia Forma & Conteúdo temos:

– Aulas de Spin com Devirxes Rodopiantes.

– Claustros individuais de Step e Meditação.

– Dominicanos instrutores de autoflagelação.* Opção por equipamento Moderno ou Classic.

– Beatas nutricionistas especializadas em receitar hóstias anabolizadas que garantem alucinações místicas.

– Cursos de estigmatas e alongamento com vídeos de artistas famosos em conjunto com as santas mais badaladas do momento.

– Contemplativos passeios semestrais ao Deserto do Sinai. Menu a base de gafanhotos, mel e suco de alfafa. Traje passeio leve.

– Palestras semanais feitas por notórios especialistas abordando temas importantes como:
- Visões Místicas: entrei em contato com Deus ou exagerei no jejum?
- Êxtase Espiritual e Orgasmo. Uma abordagem fenomenológica.
- Glossolalia e Pentecostalismo, como diferenciá-los?
- Como atrair animais sem esconder restos de alimentos na túnica.


* Quando passo por perto eu sempre escuto algo como "Sem moleza, gente! Agora vamos malhar esses tríceps!"

25.10.04

Arte


Arte é uma Resposta a procura de uma Pergunta.
Ou alguma coisa parecida. Lá sei eu.
Na verdade isso é só um teste do flickr.
Ignorem.
Ou não.

Leitura Dinâmica: Fiodor Mijailovich em um parágrafo

O Adolescente João Karamazov, um compulsivo Jogador, cansado de ser Humilhado e Ofendido, após passar por diversas Noites Brancas na Casa dos Mortos, sentiu-se possuído por Demônios e confessou o Crime e Castigo de ser um Idiota. Perseverou, porém, em ser um Eterno Marido, mesmo que a patroa preferisse faturar umas Notas no Subterrâneo.

24.10.04

Astros do Ringue

O Estado Transparente contra a Mão Invisível do Mercado – taí um duelo impossível de se ver.

23.10.04

Divina Tragedia (canto VI) - Um Sorvete de Ambrosia no Segundo Céu

Como no Inferno, há também muita burocracia no Céu. Porém as filas são muito curtas e o atendimento informatizado. Na minha frente havia apenas uma freirinha sudanesa e o Christopher Reeve. Christopher estava com um problema. Um belo problema. O papel de SuperHomem contou muitos pontos – super-heróis são muito queridos por aqui –, mas a defesa do uso medicinal das células-tronco fez o Christoper aguardar uma apelação nas Cortes Celestiais. O que costuma demorar muito, pois no Céu existem muitos juízes, mas nenhum advogado entra. Teria que passar o caso para a Virgem Maria, a Intercessora. Mas, mesmo rachando os processos com Santo Expedito, ela ainda estava muito atrasada com os pedidos e só agora conseguira se desvencilhar dos recursos do século XVIII. Christopher Reeve sentia vontade de rodar o mundo ao contrário, mas só o que conseguia era, irritado, girar com a cadeira de rodas no mesmo ponto.

Na minha vez, mostrei toda a minha papelada. Passaporte, contrato, caderneta de vacinação. Os documentos do jegue também. Tudo em ordem.

– Trabalho ou passeio?
– Trabalho. Vou investigar um crime insolúvel.
– Puxa, que interessante. Isso deve demorar um bocado.

Talvez demore. Eu não tenho pressa. O anjo da imigração carimbou o passaporte dando estadia de 1/64 de eternidade. Parecia um período razoável. Ninguém da alfândega teve a coragem de revistar o jegue. Um anjão de bigode ruivo fez uma cara de nojo, enquanto nos dava a luz verde. Acho que até sabia que havia contrabando no jegue. Mas não seria ele que iria investigar isso a fundo. Sé é que você me entende.

A mansão de Lord Buttock localizava-se no valorizadíssimo condomínio fechado de Paineiras Furta-Cor, no Sétimo Céu. Seria uma longa subida. Elevador panorâmico ou escada rolante? Optei pela larga escada rolante que percorre em espiral todos os anéis do Paraíso. É sempre um passeio agradabilíssimo. A escadaria branca é toda ladeada com figuras de mármore alternando estátuas figurativas com esculturas abstratas. Um Hércules de Rodin, uma mão-pássaro de Brancusi, uma Ava Gardner de Bernini e uma estátua do Arcanjo Miguel de Michelângelo tão perfeita que realmente fala. Mesmo sem marteladas. Ela diz: "Favor não pisar na faixa amarela. Obrigado."

Demos uma paradinha no Segundo Céu. Lá, perto da entrada, ao lado da Apple Store, há a Gelateria do Olivier.
Sir Lawrence, no pós-morte, especializou-se na fina alquimia dos sorvetes de massa com sua dedicação shakespeariana. Fui servido pelo Jack Lemmon. A grande ambição de Lemmon sempre foi ser sorveteiro. Ele dizia que ficava bem com o bonezinho branco. E era verdade. Era o próprio sorveteiro. Pedi um Sweet Cordelia, que é sorvete de Ambrosia com um nadica de avelãs, a especialidade da Gelateria do Olivier. Caríssimo. Duas bolas e a cobertura de chocolate com Hidromel custam o mesmo que um banquete de bisão com abacaxis selvagens para quinze pessoas no Inferno. Mas só essa paradinha já valeu toda a viagem ao Paraíso.

Sorvi o sorvete sentado com o jegue em um gramado ensolarado onde brincavam as crianças felizes e saltitantes até que chegasse o caminhão. De quatro em quatro horas vem um caminhão da Administração Celeste e troca os moleques sujos por uns novos, de banho tomado. Se for o caso, tiram os carrapatos, dão cafeína e aplicam infravermelho nas bochechas das crianças para ficarem bem saltitantes e rosadinhas.

Sorvete tomado, voltamos, eu e o jegue, para a ascendente escada-rolante em espiral. O sorvete estava ótimo, mas eu ainda estava com fome. E, a despeito das câmeras de segurança, que estão em toda parte por aqui, sentei nos degraus e comi uma pamonha trazida dos Infernos. Uma Ambrosia perfeita, só no Céu e na Gelateria do Olivier. Mas pamonha, torresmo e acarajé, só confie nos dos Infernos mesmo.

O Terceiro Céu é bem legal também. A parte sudeste dele é o Sítio do Pica-pau Amarelo. A noroeste é a Terra do Nunca. Não. Não aquela, seu tonto, a original. Aquela que você pensou que fica no Sexto Círculo do Inferno é só para crianças muito, muito, mas muito mal-comportadas mesmo. Os outros dois quartos do Terceiro Céu são administrados pelo Lewis Carroll. Da outra vez que estive aqui, o danado do Lewis tinha feito a sua própria versão da Fantástica Fábrica de Chocolate. É sempre um passeio divertidíssimo a Carrolland. Mas não hoje. Primeiro os negócios.

O Quarto Céu é todo um MMORPG do Senhor dos Anéis. Você pode escolher ser um hobbit, um trent ou até cavaleiro negro. Joguei como Sauron uma vez. Em meia hora, matei o baixinho, peguei o anel, incendiei Rivendell, calcinei toda a Terra-Média e tiveram que resetar o jogo. Achei meio sem graça. É bem caro, mas é um dos poucos Círculos Celestes em que o homossexualismo é tolerado.

No Quinto Céu, as coisas começam a ficar mais sérias. Ele é uma titânica catedral circular. Vitrais quilométricos feitos de pedras preciosas. É um bom lugar para encher as pistolas d'água nas piscininhas de água benta. Os diabinhos do inferno odeiam! A enorme abóboda, em que passam de hora em hora os melhores momentos da Criação, é sustentada por enormes colunas de marfim maciço finamente entalhadas com a vida dos santos e apóstolos. É impossível você olhar para uma obra de arte dessas e não meditar profundamente. Por exemplo: qual seria o tamanho do bendito elefante que produziu esse marfim enorme? E a música. Ah, a música! Há um coro de anjos de sete mil vozes na quinta a noite e um querubim que toca Ave Maria no pente na sexta. No domingo J.S. Bach está sempre tocando seu órgão. Por isso não gosto de ficar muito perto do Sebá. Especialmente de braguilha aberta. É como diz Santa Cynthia: "se J.S. vier te propondo uma toccata, apele pra fuga. De preferência, em ré maior, contra a parede mais próxima..."

O Sexto Céu estava fechado. Há muito tempo. Está em reforma desde o século VIII. Ninguém tem muita certeza do que aconteceu aqui nem sabe no que essa área vai se transformar. Uns acham que pode virar um convento de luxo, outros um cassino à leite de pato, outros ainda dizem que ali se confecciona, em joint venture, a Besta do Apocalipse. Talvez todos tenham razão. Não sei.

Girando, girando, chegamos à entrada do Sétimo Céu. Há mais dois andares para cima. Mas minha parada é aqui.

22.10.04

Como me tornei um autor desconhecido e fui parar em um anexo de Power Point

E à propósito da questão dos amealhamento de textos relatada pelo Inagaki gostaria de comentar o seguinte:

Nenhum bom texto sobrevive a um PowerPoint. Ponto.

Shakespeare, Cervantes, Tolstoy só são respeitados porque na época não tiveram seu textos retalhados e colocados com letras script sobre uma imagem de dois gerânios ou de cachorrinhos dormindo em uma cesta.

Nenhuma literatura respeitável sobrevive a um fundo de cachorrinhos dormindo em uma cesta.

21.10.04

Divina Tragédia (canto V) - A Grande Pirâmide Celeste

Minhas pupilas começaram a se adaptar à luminosidade celeste. É muito claro por aqui. Por isso vários anjos usam óculos escuros. Principalmente os que acordam de ressaca.

A entrada para os Céus é uma enorme pirâmide. Toda dourada, com um olho luminoso no topo, que brilha como um farol. E enxerga tudo. A pirâmide fica no meio de um oásis, que fica no meio de um deserto feito de uma espécie de luz sólida e granulada. É meio esquisito e não adianta explicar essa luz sólida e granulada. Se vocês forem bonzinhos e comerem bastante fibras, um dia vocês saberão como é. Se não, paciência, vão ter que fingir que entendem o que eu estou falando.

Havia uma fileira de pessoas esperando para entrar na Pirâmide. Muito estranha essa fila. Era uma fila de mutilados. Manetas, pernetas, gente sem cabeça. Corpos carbonizados carregavam carrinhos-de-mão repletos de pedaços de gente. Até que chegou um sujeito num tapete voador e pairou sobre a fila. Logo atrás chegou uma grande montanha. Era Maomé. O Profeta, com uma face sem rosto e o corpo involto por labaredas laranjas, vinha pessoalmente cumprimentar e abraçar os muçulmanos mortos nas recentes Jihads. Só então notei que entrara na fila do Paraíso Muçulmano. Fila errada. Não que eu me incomodasse com uma cota de setenta virgens ou com um orgasmo que dure seiscentos anos. Mas não hoje. Primeiro os negócios.

Abandonei a fila islâmica ainda acompanhando as manobras aéreas do tapete voador de Maomé e a bizarra montanha que sempre seguia seus movimentos. A minha entrada correta era pelo lado ocidental da Pirâmide onde havia muito pouca gente. No Céu, poucos são os escolhidos. Aqueles de muito bom gosto. As pessoas boas de coração. Aqueles que tentaram amar seu próximo como a si mesmos. Ou seja, muito pouca gente mesmo. Quase ninguém.

A recepção do Céu é algo entre um gigantesco Hotel de Luxo, um Banco e um Shopping Center em sociedade do Bill Gates, Trump, Onassis e Rockfeller. Um hall central amplo com pé direito estratosférico. No centro há uma árvore frutífera delgada que atravessa todos os andares até a cobertura onde ficam os Escritórios Centrais. Longas colunas de vidro contêm aquários com peixes tropicais, corais multicolores e demais bichos exóticos que nadam para cima e para baixo ou grudam-se no vidro. Um deles tem a Jaqueline Bisset de camiseta e snorkel. Além da transparente cúpula central, a iluminação natural é provida por um sistema de clarabóias basculantes fotosensíveis nas paredes da Pirâmide. O chão é de mármore com filigranas douradas. Enfim, é uma verdadeira obra faraônica.

Na recepção do Céu há vários guichês em diversos idiomas. Filas bem curtas. Preparei meus papéis de entrada. Puxei meu jegue. Por alguma antiga razão os jegues são muito queridos no Paraíso. Dois querubins japoneses se encantaram com ele. E ficaram rodopiando em volta do jegue, dando umas risadinhas de camundongo. É bom ter a presença de anjos e arcanjos por aqui. Eu tinha um diabinho que se instalara na minha nuca há meses e ficava espetando meu nervo. Foi só a aura de um anjo de cabelo rastafari entrar em contato com o diabinho, que ele caiu durinho no chão, estrebuchando. Praguinha.

Na recepção, sentado em um sofá branco, Frank Zappa estava visivelmente desapontado por estar no Paraíso. Sentia-se completamente abandonado. Todos os seus conhecidos estavam no Inferno. E, como em sua ficha não havia nada sério que o desabonasse, estavam tentando realocá-lo no Céu para a ala dos Profetas Modernos. Para sua imensa frustração. Impaciente, levantava-se do sofá e perguntava a uma simpática e ligeiramente estrábica anjinha da recepção, se poderia realocá-lo com alguma companhia interessante:

– Stravinsky? Igor Stravinsky?
– Sinto muito, senhor. – Consultava o terminal – Está em turnê no Terceiro Círculo do Inferno com o Eric Satie.
Zappa voltava ao sofá. Tragava a fumaça de uma cigarrilha. E voltava à bancada da anjinha risonha.
– E o Lennon?
– Sinto muito, senhor. – fofocou sussurrando a vesguinha – Parece que teve uma briga de egos com o filho do Patrão. Uma discussão sobre qual era mais famoso. Ele é um bom moço, mas agora o Filho do Homem deixou ele de castigo uns tempos.
– Mas pelo menos o George Harrison deve estar por aí…
– Lamento, houve um problema com Mr. Harrison. Era para ter reencarnado como um Lama Tibetano e por um erro de digitação voltou à Terra como um Lhama Peruano…
– E nem o Elvis?
– O que consta aqui no terminal é que ele não desencarnou. Continua vivendo tranquilo em sua casa.
– É? Em Graceland?
– Não, em Roswell. Mas temos o Herr Haendel disponível. Ele faz muito sucesso aqui no Céu. E tem uma vaga no quarto dele. Quem sabe o senhor…
Frank Zappa, voltou a deitar no sofá e apertava com os dedos polegar e indicador o espaço entre a sobrancelhas.

Mas atrás do balcão, um alvoroço. Um arcanjo tomava uma grande bronca. Parece que um certo Carol Wojtyla, do Vaticano, já perdera a nona chamada para subir ao Céu. São Pedro estava irritadíssimo e gritava desafinando que o Chefe falou que se ele não vier na próxima chamada não precisa nem vir mais.

Os querubins davam ainda mais risadinhas de camundongo com o xilique de São Pedro. Esses putos.

Mais um adesivo para colocar no automóvel

SOU FELIZ POR SER FARISEU

20.10.04

As Regras do Jogo - Revogue-se as Disposições em Contrário

DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.


Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.


Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais, e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.


Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

15.10.04

Habana, que estoy caliente

Estarei fora este fim-de-semana tentando tirar o musgo dos pelos. Enquanto isso rebolem todos ao sabor de uma pequena contribuição minha à impagável (ninguém desembolsa um puto para ouvir esses caras) banda Libera o Badaró.

Essa salsa-manjericão conta também com a participação do Buena Vista Cream Cracker Social Sla Radical Disco Club. Hay que endurecer, carajo! Uh!

HABANA.
(Ratapulgo e Fafafi Fafu Filho)

Viajei hasta Habana
En busqueda de un amor
Fue bailar em Tropicana
En una noche de calor

Yo tome una cuba libre
Y me puse a bailar
Encontré una chica
Llamada Libertad

Una chica mui estraña
Com pelos a cortar
Un quepe de campanã
Y "jaruto" a fumar

Me quedé estarecido
E puse a reparar
Que la criolla Libertad
Era el “jefe” a bailar

Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana mi Libertad

Una muchacha mui estraña
Com los pelos a cortar
Y un viejo quepe de campaña
Y un "jaruto" a fumar

(bate forte o tambor…)

El capitán se me acercó
Y me puse en el Paredón
Y despacito me ordenó
“Baila comigo corazón”

Yo no puedo bailar
Por que soy de cocha bamba
Ya estaba de partida… ehhh
Y viva la revolución!!

Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana mi Libertad
Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana mi General

El capitan se me acercó
Y me puse en el Paredón
Y despacito me ordenó
“Baila comigo maricón”

Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana mi General
Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana en otro lugar

(bate forte o tambor…)

____

Outras múltiplas e diversas músicas do LoB podem ser baixadas "de grátis" nesta página. Dstaques para a Jesus Negão (essa música já tem duas comunidades no Orkut! Acredite, irmão!), a Escravos de Jah e a Melô do Corrimento.
Ah, vão lá e baixem tudo! Já!

14.10.04

Divina Tragédia (canto IV) - O Purgatório

Na saída dos Portões Negros resolvi fazer uma última sacanagem. Prendi com chiclete as duas campainhas, a do choro e a do ranger de dentes. O Cerberinho começou a latir aguda e alucinadamente com suas três cabecinhas idiotas. Esses trotes contam pontos por aqui. Cento e cinquenta mil pontos podem ser trocados por um CD de Natal da Simone.

Reparei que as velhas placas de propaganda DEIXAI TODAS AS ESPERANÇAS VÓS QUE ENTRASTES estavam sendo trocadas por umas novas. INFERWORLD – um Mundo de Perversões. Belo marketing. No fundo O Inferno não deixa de ser uma espécie de parque temático. É um Wet & Wild com piscinas de amônia e giletes no esgorregador. Um Very Hot & Wildest, no caso.

O Jânio Quadros inaugurou recentemente uma ponte para o Inferno sobre o Rio Aqueronte. Um obra supermoderna com 16 pistas. Todas só de ida.

Eu decidi atravessar o Aqueronte, o Rio da Morte na balsa do Velho Barqueiro. Mudanças também atingiram o velho Caronte. Agora que trabalhava na travessia era o jovem Caronte Jr. Contou-me que pensava em instalar um teleférico ligando as duas margens. Ou um sistema de catapultas. Ainda estava pensando na melhor possibilidade.
Caronte Jr. estava fazendo uma promoção legal. Agora quem volta para o lado de lá GANHA uma moedinha! A minha foi um tetradracma grego. Sou um sortudo dos Infernos.

Desembarcamos no Purgatório. Estava aliviado por finalmente respirar um ar sem enxofre ou nicotina e parar de suar como empreiteiro numa CPI.

É desse jeito o Purgatório. Não fede nem cheira. Não é úmido nem seco. Não faz frio, não faz calor. O tempo está sempre nublado. Não acontece muita coisa. Digamos assim: poderia ser melhor, poderia ser pior.

O Purgatório é tão excitante como um documentário sobre as novas técnicas de operação de varizes ou sobre as variedades de pinheiros no hemisfério norte. Dá até para ver se não estiver passando mais nada em outro canal. E não está passando mais nada em outro canal.
É, em realidade, um enorme e amplo depósito. Como ninguém mais reza pelas almas do Purgatório, elas aqui vão se acumulando.

Diferentemente do Céu e do Inferno que foram concebido em círculos, o Purgatório está disposto em losangos, trapézios, elipses e eneágonos. É uma geografia peculiar. O caminho até o Paraíso é longo, reto e bem sinalizado. Atravessa todos os níveis do Purgatório até desembocar nos Portal Luminoso. A estrada tranqüila passa por diversos repositórios de almas muito interessantes.

A Cordilheira Nevada dos Budistas. A Garganta dos Luteranos. O Terraço Britânico, onde se hospedam os fãs incondicionais dos autores ingleses do séc. XIX. O Pico dos Violinistas. O famoso Estreito dos Antigos Gregos. A escondida Baía dos Tímidos.

No trecho em que a estrada margeia o litoral cruzei com o Fernando Sabino olhando um mapinha e procurando a Praia dos Cronistas Mineiros e Capixabas. Acenei, mas ele não me reconheceu.

Depois passamos pela Península dos Psdbistas. Estão todos lá. Menos o Sérgio Motta, que hoje dirige uma promissora casa de bingo no Sexto Círculo do Inferno, que é, na verdade, apenas uma fachada para uma rede de fast-food macrobiótica tailandesa.

A Ilha dos Autores de História em Quadrinhos. É um estágio temporário. Depois de cumprir alguma penitência aqui o quadrinista é levado ao Paraíso ou para o Inferno. Winsor McCay, por exemplo, recebeu o cargo de designer do Oitavo Círculo Celeste. Walt Disney está no Sexto Círculo do Inferno, lavando escarradeiras e latrinas no Bairro dos Hunos.

O Penhasco dos Malandrinhos, aqueles que levaram uma vida pecaminosa e só se arrependeram no último instante.

A Selva dos Ecologistas. Aqui eles aprendem o que é viver realmente em harmonia com a natureza. Sem livros e sem fósforos.

A Planície Amarela. Lotada de chineses, alguns bilhões. Dispostos em camadas.

O Vale dos Esquecidos. Aqui são depositados aqueles que morreram fazendo diálise; aqueles que morreram em shoppinng centers durante a semana do Natal; aqueles que morreram de tédio em asilos públicos ou em festas de aniversário de crianças; e aqueles que nasceram, viveram e morreram na Islândia.

Tenho que admitir que o pior momento da travessia do Purgatório foi passar pelas Colinas dos Embriões no Limbo. Era preciso extremo cuidado, eu e meu jegue, ao pisar no chão nessa região para não esmagar a alma dos pequeninos seres humanos de apenas uma, duas semanas de vida que brotavam a todo instante por aqui e acolá.

Eu escutava suspiros doloridos. Era Sócrates, que brigara novamente com a comunidade dos Gregos. Só que dessa vez não teve a opção da cicuta. Já estava ficando viciado naquele troço. Só lhe restou o exílio. Desanimado, sentado no alto da colina, tentava estabelecer algum diálogo com os milhões de fetos e embriões do Purgatório. E suspirava.

Petland Highs, o planalto dos animais de estimação muito queridos mas não batizados. Muitos cachorrinhos lindos e gatinhos fofos. Um ou outro passarinho. Alguns cavalos trotavam ao longe. Talvez tenha avistado um golfinho. Não tenho certeza.

No mais, uma travessia sem incidentes. Fomos seguidos à distância por um chimpanzé de quimono púrpura no final da trilha e uma tribo de pigmeus curiosos, logo no começo, que devem ter sentido o cheiro dos pastéis de camarão. Uma jornada tranquila pelo Purgatório. Aliás, como sempre.

Um clarão branco surgia no horizonte. Segui essa luminosidade intensa e quase cegante.

Por fim, entrei na Luz.

13.10.04

Divina Tragédia (canto III) - Saída pela Direita

O portão interno do Quinto Círculo dos Infernos ostentava em bronze os dizeres SIC TRANSIT GLORIA MUNDI.
Um deputado local conseguiu aprovar certa lei e os dizeres foram traduzidos para GLÓRIA, TODO MUNDO PÁRA NO TRÂNSITO.

O jegue foi uma boa escolha. É um dos meios de transporte mais rápidos do Inferno. Os jegues e as bicicletas ergométricas.

O trânsito no Quinto Círculo atingiu praticamente a perfeição da imobilidade. É a configuração automobilística precisa do nó górdio com a banda de Moebius. Não há calçadas nem transporte público. Os carros movem-se alguns centímetros por semana no asfalto mole. Por rodízio. No centro deste magnífico novelo viário foi erigida uma gigantesca estátua de Henry Ford, patrono inconteste do Quinto Círculo, feita de ferragens retorcidas e borracha vulcanizada. Das enormes narinas do colosso metálico sai uma coluna de fumaça preta de motores fundindo, contrastando com o vermelho quente do céu infernal.

Outra grande atração turística do Quinto Círculo é a Roda da Má Fortuna. São caminhões, ônibus, táxis e motoboys que ficam girando eternamente em uma praça rotatória sem saída insultando uns aos outros. No centro desta praça estão presos aqueles motoristas que andam sempre muito devagar, conversam com o passageiro ao lado, não dão pisca mas atravessam o farol assim que ele fica vermelho. Estão todos amarrados dentro de um Ford Ka escutando eternamente uma buzina de FNM de 120 decibéis.

Contrariando muitas expectativas, o Inferno é o verdadeiro paraíso liberal. Enquanto no Céu a maioria dos serviços provêm de um rígido monopólio estatal, aqui grassa o liberalismo econômico radical. A canalização social dos impulsos egoístas de seus cidadãos promoveu ao Inferno enormes progressos. Veja o exemplo das Grelhas de Sete Andares.

Antes havia filas enormes para as Grelhas que tostavam no máximo oito pecadores a cada vez em um processo manual e arcaico. Porém, o desejo dos condenados da fila de ver o camarada da frente queimar mais rápido combinado com o espírito empreendedor dos Demônios Menores e a livre concorrência entre as diversas Grelhas fizeram surgir aparelhos muito mais eficientes. Além das Grelhas de Sete Andares hoje temos também o Giro-Matic 2005, que permite amarrar os eternamente danados em ambos os lados da grelha, duplicando assim a capacidade que já está 148 churrascos de almas por hora/grelha.

No entanto o keynesianismo não chegou ao Céu. John Maynard Keynes muito menos. Mês passado foi promovido a Supervisor-Geral-Sênior do Oitavo Círculo do Inferno. Dizem que a festa de posse foi particularmente tediosa.

Continuei minha lenta escalada até os Portões Negros do Inferno. A privatização das rodovias infernais gerou uma profusão de pedágios. Um a cada 200 metros de rodovia, aproximadamente. Felizmente jegue e militar só pagam meia. Aposentado paga o triplo, pra deixar de ser besta. Fica isento da tarifa se você comprovar estar levando contrabando, que era o meu caso.

Alguns quilômetros antes dos Portais encontrei um narigudo de touca vermelha e vestidão. Dizia estar procurando uma vagabunda, uma tal de Beatriz. Então o rapaz estava no lugar certo. Aqui não falta mulher. As mais bonitas vão para o Céu integrar o mostruário do Criador (com o perdão do meu francês), porém as mais depravadas vêm sempre para cá.

O narigudo começou a explicar que desgarrara-se do seu guia e estava perdido. Pela descrição percebi que ele estava no lugar completamente errado e que o que ele estava procurando mesmo era o Hades e não o Inferno. É muito comum esse tipo de confusão por aqui. O pessoal de fora acha que é tudo a mesma coisa. Não é.

– Ixi! Você pegou o caminho errado, camarada. Você faz assim: volta por essa estrada amarelo-enxofre, passa a Caverna dos Silêncio Eterno dos Astecas e segue em frente toda vida, toda a vida, toda a vida, vai passar o Valhalla também, mas não entra lá não que o pessoal é meio invocado, vai reto e na entrada seguinte você vira à esquerda e desce a ribanceira. Entendeu? Ali é o Hades. Não tem como errar.

O narigudo de touca vermelha agradeceu e eu retribuí. – Vá com os diabos! – acenei amistosamente. O augúrio se cumpriu e rapidamente um grupinho de demônios verdes agarrou-lhe os pés e arrastou o infeliz pela estrada amarelo-enxofre.

Perto dos Portões Negros do Inferno da entrada comecei a escutar muitos e altos palavrões em francês.

Jacques Derrida discutia com um dos Demônios Burocratas e argumentava que tudo era um equívoco. Que o Inferno não existia na realidade, era apenas um constructo lingüístico baseado no arcabouço proto-medieval da mitologia greco-cristã arraigado no imaginário da civilização ocidental. Disse isso em francês, que era mais chic.

O Demônio Burocrata pediu com muita gentileza que o filósofo francês fosse desconstruir o clitóris de sua mãezinha e que se juntasse ao outro grupo recém-chegado de judeus ortodoxos que aparentavam estar muito surpresos. Muito ortodoxamente surpresos.

Na Alfândega, o procedimento de praxe. Entreguei o contrato Golden-Master-Plus-Hot-Hot-Hot com a cláusula de férias, o passaporte, o IPVA do jegue e o exame de urina. O diabinho encarregado conferiu estar tudo nos conformes e pediu a propina. Entreguei-lhe meu relógio dourado. Procedimento de praxe. Já nem me importo.

No inferno os relógios marcam somente uma única hora. E essa hora é "Tarde Demais".

O próximo passo foi passar pela Segurança e o temível cão Cérbero.

Temível, Hediondo, Apavorante são adjetivos muito usados para o cão Cérbero. Talvez sejam descrições um pouco otimistas. A propaganda do Inferno é de alta qualidade, já que pra cá vem o contingente total das agências de propaganda da Terra. Assim, os publicitários podem ter exagerado um pouquinho nas características do Guardião dos Infernos. Cérbero, na realidade, é um cachorrinho pequenino magrinho de três cabeças. Uma de chiuaua, outra de pequinês, outra de poodle-toy.

Pode não ser o cão mais assustador do Mundo. Mas com certeza é o mais mala.

Deixei o pentelho do Cérbero latindo para o Virgílio, que é um guia, velho conhecido nosso da InferTur. Supersticioso, está sempre com o raminho de arruda atrás da orelha. Ao passar pelos Portões Negros entalhados pelo Rodin e Basquiat gritei:

– Virgilioooooo! A Eneida é uma merdaaaaaaaaa!

Virgílio deu um bico no Cérbero e de longe me mostrou o dedo.

– Vai se foder, Nivronsky!!

Adoro deixar o velhinho puto. Grande figura esse Virgílio!

12.10.04

Divina Tragédia (canto II) - T de Traficante

Jorginho Guinle trouxe o meu jegue.

– E aí, ó Terror de Roliúde? Conta mais.
– Sei de muito pouco. Só sei que já faz alguns meses que essas mortes vêm ocorrendo no Paraíso e que continuam sem solução. Desta vez não foi a Greta Garbo, eu garanto. Eu estava com ela, ensinando o velho baião-de-dois, durante três dos assassinatos.
– Você jura?

Jorginho segurou o pentagrama dourado que trazia pendurado no pescoço e apontou para baixo.
– Por tudo que é mais sagrado.

La Garbo já havia matado alguns criados com um grande vaso de porcelana durante uma crise histérica. Certa manhã, pareceu-lhe ver no espelho o surgimento de algumas rugas. Foi apenas um alarme falso. Havia um alfinete embaixo de seus sete colchões de pena de ganso-real e seu rosto acordara levemente marcado. A morte dos criados relapsos que esqueceram o alfinete foi considerada uma punição bastante razoável e o caso nunca veio à tona.

– Jorge, tome conta dos negócios enquanto eu não voltar.
Jorginho Guinle não estava mais lá. Já partira para a sua visitinha diária a Mae West.

Meu traficante oficial era Orson Welles. Ele tinha dupla cidadania e trânsito livre entre as esferas do Além. As Forças nunca souberam exatamente o que fazer com ele. Assim, Orson fazia espetáculos de mágica no Paraíso e traficava no Inferno. Ou melhor, traficava do Inferno. Todas essas coisas que estão em falta no Paraíso, mas com muita procura por lá. Caravaggios falsos, DVDs piratas, vibradores coloridos e todos os tipos de drogas. Mescalina, crack, ópio, viagra e pastéis de camarão, principalmente.

No Inferno, Orson passava os dias fumando charutos e bebendo tequila em um boteco inóspito encravado entre a vila dos dos dançarinos de flamenco e o bairro dos malufistas. Instalava-se sempre em uma enorme cadeira de vime branco virada para um poço de lava e enxofre onde se debatiam advogados e produtores de Hollywood, para evidente satisfação do velho Orson. Duas mulatas pubescentes brincavam em seu colo e uma núbia lhe soprava gentilmente o suor da nuca.

Assim que Orson me viu chegar escutei sua voz de vulcão:
– Ora, ora, ora, se não é Michaetch Mahukutaefail Wladisknivronzky. O que o traz aqui, Nivronsky?
– Meu jegue. Escute, Orson, estou pensando em tirar minhas férias acumuladas no Paraíso. O que você sabe dos assassinatos que estão ocorrendo por lá?

Ele ajeitou seu corpo imenso na cadeira de palha. Esse processo demorou pelo menos uns seis minutos. No Inferno, Orson tinha a aparência balofa, imberbe e suarenta de A Marca da Maldade, enquanto no Céu, personificava o jovem galã de Cidadão Kane. Eu preferia a versão Orson de barba comprida e cinzenta. Mas no Inferno barbas longas são evitadas. Perigosamente inflamáveis. Bebeu um gole de tequila. Deu uma mordida no sanduíche de pimenta, picles e carne-de-sol. E eu ali, esperando.

– Por que você quer saber?
– Porque estou comendo o pão que o diabo amassou e no Paraíso eles costumam pagar bem por essas investigações.

É verdade. Aqui só me pedem flagrantes de adultério. Maridos querendo fotos da esposa trepando com outros. Não é à toa que os chifres são comuns por aqui. Quando a investigação aponta que elas não têm amantes, mando o Jorginho fazer o serviço e tiro eu mesmo as fotos. O casal fica sempre muito feliz, mas não paga bem. Só ganho alguns cobres quando publico as fotos nas revistas de maior circulação nos Infernos que são a Private Especial de Carnaval e O Acendedor da Seicho-no-ie Especial de Carnaval. O carnaval aqui, como se sabe, dura o ano inteiro, mas só tem cerveja quente e choca. A música é feita só de refrões de axé music emendados uns nos outros, cantados pelo Carlos Imperial se alternando nos vocais com um demônio assírio com cabeça de cabra e voz gosmentamente bêbada.

Orson fez várias caretas enquanto se ajeitava novamente na cadeira. Parecia uma Moby Dick moribunda tentando sair de uma cesta de vime num mercado na periferia de Bangcoc.

– Pois bem, eu direi o que eu sei. Mas você, Nivronsky, fará um serviço de transporte para mim, ok?
– Sem problemas. Meu jegue será sua mula.

Orson Welles explicou que todos os crimes tinham acontecido na elegante mansão de Lord Buttock. Todos aqueles que investigaram o caso acabaram tendo uma morte misteriosa. O último foi Sir Arthur Conan Doyle. Com medo de encarnarem novamente na Terra, os detetives locais foram todos abandonando o caso e, assim, ele continuava insolúvel. Mas não para uma alma naturalmente investigadora e eternamente danada como a minha, frisou meu amigo Orson.

Guardei dentro do jegue as encomendas que Orson enviava moradores do Paraíso. Felizmente meu jegue era gay e não se incomodou.

– E, Nivronsky… – rosnou Orson com malícia.
– Sim?
– … não vá perder a hora. – Orson me estendeu sacanamente o meu próprio relógio que ele havia empalmado. Ele sabia que seria importante.

Entardecia. Piquei a mula rumo aos Portões Negros do Inferno.

11.10.04

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beijo de língua nocêis

9.10.04

Não basta ser arquiinimigo - tem que participar!

O texto dos Quintos dos Infernos aí em baixo já tem algum tempinho e foi inspirado NOS LIVROS de Mestre Alexandre. Eu os recomendo vivamente. São deliciosos livros-pavê, daqueles de se comer às colheradas diretamente na forma e já com remorsos de devolver à geladeira.

Há ainda pelo menos mais duas partes do Quinto dos Infernos que estão na minha cabeça. Estou esperando que meu Plano de Saúde confirme a viabilidade da cirurgia craniana para a extração dos referidos textos.

Bor enquando esdou gribado. Esberem um bouquinho.

8.10.04

Patrulha

Na entrada da Bienal havia um grupo protestando. Eles distribuíam um inofensivo panfleto maleporcamente redigido contra a "elitização da arte" e temas anexos. Protestavam contra diversas coisas como por exemplo os "Déspotas Aventureiros" que comandam as artes. Eu achei o fim da picada. Entendo que devamos nos opor sempre aos Déspotas Covardes, claro, mas por que contra os Déspotas Aventureiros? O que seria da História se não fossem os Déspotas Aventureiros? São os únicos déspotas que servem pra alguma coisa.

No folheto reclamavam também contra todos os "Sussurros Envergonhados". Ah, assim não dá!! Não se pode nem sussurrar envergonhadamente mais? Oras! Que patrulha, credo!

– Hmmmmm drga… rsgsosfdlhsdacaumss…
– Hein?
– Shhhh! hmeursgsusfdlhosdmnhcaumss…
– Pô! Coloca isso pra fora, homem! Tira isso de seu peito! Deixe o Mundo escutar sua voz! Seja um elemento participante e criativo dessa nossa sociedade multiétnica e multicultural! Desembuche sem censuras! Arremesse suas palavras livres aos quatro ventos, cara!
– RASGUEI OS FUNDILHOS DA MINHA CALÇA, PORRA!
– Ah.

7.10.04

Adesivo para colocar no carro

EU ACREDITO EM CHARLATANISMO

Divina Tragédia (canto I) - O Quinto dos Infernos

Meu nome é Nivronzky. Na verdade é Michaetch Mahukutaefail Wladisknivronzky dos Santos. Mas as pessoas me chamam de Nivronzky. Chamam-me de outras coisas também. Mas eu não respondo. Sou detetive particular. E moro no Inferno.

Não. Não é uma forma de expressão. Moro realmente no Inferno, junto com outras almas penadas. No Quinto Círculo, mais precisamente. Este Quinto Círculo é terrível: igualzinho a São Paulo, só que sem os cinemas e administrado permanentemente pelo Pitta. O Sexto Círculo é pior: idêntico a Mogi das Cruzes. O Sétimo, Nova Déli. O Oitavo é uma Brasília com semáforos. O Nono nem queira saber. Em todos faz muito calor. Muito calor mesmo.

Derramava minha transpiração num copo quando Jorginho Guinle, meu novíssimo secretário, entrou em meu escritório. Veio entregar a correspondência. Sim, aqui no Inferno os Correios também existem mas entregam somente malas diretas e contas vencidas e com multas. Os Correios foram privatizados no Inferno, assim como todos os demais serviços públicos. O serviço piorou bastante mas agora eles nos cobram uma tarifa extra pelo aumento da ineficiência.

– Sr Nivronzky, há um crime a ser investigado no Paraíso. - disse Jorge Guinle.
Ele fazia visitas freqüentes ao Paraíso pra comer a Greta Garbo. – Assassinatos em série - completou.
– Sim? E eles precisam da ajuda de uma cabeça brilhante como a minha? - Perguntei enquanto enxugava o suor do cocuruto.
– Não. Mas achei que gostaria de saber.

Tentei me informar sobre esses assassinatos nos jornais e na TV. Mas os únicos jornais do Inferno são edições atrasadas d'O Rascunho e cadernos de classificados de imóveis. Na TV com chiado há apenas os eternos programas de auditório em todos os canais. E propaganda eleitoral.

No Inferno os celulares não falam, só tocam a musiquinha irritante. Muito alto e o tempo todo. Quando você atende ele desliga. A telefonia fixa no inferno consiste em apenas e tão somente dois orelhões. Desta forma os habitantes, depois de enfrentar filas de vários quilômetros para telefonar, devem ainda torcer para que a pessoa com que ela deseja falar tenha chegado ao outro orelhão no mesmo momento. Outro meio popular de comunicação é a Infernet, versão infernal da Internet. Porém todos os emails são spams e contém vírus perigosos que podem transformar seu computador numa gosma quente e pegajosa em segundos. Isso explica porque a única forma de comunicação utilizada com êxito no Inferno é o grito.

Eu tenho licença para sair do Inferno de vez em quando. Fiz questão de colocar no meu contrato. Por isso recomendo sempre negociar a danação eterna de sua alma enquanto você ainda está vivo e não deixar para prestar atenção nesse detalhe quando for tarde demais. O meu contrato é o Golden-Master-Plus-Hot-Hot-Hot com Lesbian-chics. Foi uma boa escolha.

Resolvi então gastar minha folga secular prevista em contrato. Para ir ao Paraíso são necessárias dezessete conduções. Todas lotadas. O trânsito estava infernal, como é de praxe no Quinto Círculo.

Decidi ir de Jegue. Mas antes eu precisava passar no meu traficante.

6.10.04

Lullaby

hush little girl
sweet baby dont cry, tonight
daddy is here and he'll sing you a soft lullaby, tonight
why cant it all be like it was before
how can i explain why mommy's not here anymore

cause daddy likes porno and $10 whores
daddy gets wasted and robs liquor stores
daddy likes rubbing against little boys on the bus
i think thats why mommy left us, mommy left us

hush little girl
there is no reason to fret, tonight
don't mind the smoke, daddy just wants to forget, tonight
soon it will all be like it was before
any minute, she will walk through that front door

but daddy plays poker and drinks lots of beer
then he wants sex that involves mommy's rear
daddy has sores on his naughty parts oozing with pus
i think thats why mommy left us

please dont cry
i swear i'll try
to be here by your side

right after daddy gets home from the bar
visits his bookee
and steals a new car
he'll drive to the strip club
and if daddy plays his cards right
he'll bring home your new mommy tonight

escutem o Stephen Lynch

***

Calma filhinha
não há nada mais a temer
deixe de choro, papai está aqui com você
porque na nossa vida tudo mudou
como explicar porque mamãe nos deixou

porque papai fuma crack com umas depravadas
papai quando bebe assalta a mão armada
papai gosta de encoxar os meninos no metrô
acho que por isso mamãe nos deixou

Calma filhinha
não precisa se apavorar
esqueça a fumaça, papai só quer relaxar,
logo mamãe voltará pra nos abraçar
lavar toda louça da pia e deixar o papai ir pro bar

mas papai sai sempre com umas vagabundas
papai tem um fedor esquisito na bunda
Papai jogou no milhar toda a poupança do vovô
acho que por isso mamãe nos deixou

e papai chamava mamãe de vaca maluca
papai batia em mamãe com o taco de sinuca
papai queria que mamãe comesse o seu cocô
acho que por isso mamãe nos deixou

não, não chore
pode ser que demore
mas estarei sempre aqui com você

depois que papai voltar do boteco
um rolê no trafica
e der mais uns teco
vai passar no puteiro
e se ainda sobrar um dinheiro
ele trará uma mamãe pra você

lararai…

5.10.04

O retorno dos Clássicos para a Juventude

Outro dia comentei que gostava de ler também livros abaixo e acima (!?) de minha faixa etária. Subentendido está que os livros abaixo da minha faixa etária são quadrinhos e alguns bons livros infanto-juvenis. Mas qual seria a literatura pertinente a uma faixa etária que esteja bem acima da minha, que começo a rondar os 40? Bulas de analgésicos e necrológios de jornal?

Lembrei que é muito freqüente que o velho leitor compulsivo vá retornando com o passar dos anos aos clássicos de sua juventude e aos pilares de sua formação literária. Talvez sem encontrar o mesmo apelo na literatura recente o esse leitor mais velho volta àqueles volumes clássicos com alto teor de releitura. Pois ler um clássico não é sempre reler? De volta ao bom e velho Proust, ao incólume Tolstoi, ao soberano Drummond.

Parece que toda geração tem o seu grau de embotamento artístico e para isso estabelecem marcos. Na música aparecem exemplos muito claros. Nada de bom foi produzido depois de Stravinsky ou dos Allman Brothers, ou do Cocteau Twins, dependendo da geração. Alguns são bastante precisos em relação aos limites. A Música Popular Brasileira terminou inexoravelmente numa terça-feira de outubro de 1969 durante o intervalo de um show da Elizeth Cardoso com Zimbo Trio no Canecão.

Então de volta aos velhos LPs do baú. Aos clássicos da MGM, agora em DVD. Aonde foi parar minha coleção da Agatha Christie?

E onde terminará esse insistente resgate das emoções literárias de antanho? Júlio Verne, A Ilha do Tesouro, Monteiro Lobato. Não quero mais saber do novo contrato do plano de saúde, por favor deixe-me ler mais uma vez minha primeira cartilha com o Pedrito, Marita e o serelepe caõzinho Tupy, meu primeiro e último clássico.

2.10.04

Democracy, shmuckracy…

Qual é a qualidade da democracia em um país em que um candidato que tenha 30% dos votos possa vencer um outro com que tenha 70% dos eleitores?

No compto oficial de 2000 Al Gore recebeu 500 mil votos de eleitores a mais que o Bushit Jr. e ainda assim não foi declarado presidente. E todo mundo aqui e lá acha isso normalíssimo. "Uma pessoa, um voto" é um conceito bem secundário nas eleições presidenciais indiretas dos EUA. Pois em quase todos os estados (Maine e Nebraska são exceções) funciona o esquema "the winner takes all", o partido com mais votos leva todos os delegados.

Por isso é desimportante saber como o candidato está nas pesquisas nacionais. Não faz muita diferença. O fundamental é ver como ele está nos "swing states" onde a batalha realmente acontece. Os Republicanos não vão ganhar em Nova York e tampouco os Democratas no Texas. A influência dos debates presidenciais nessas regiões é irrisória. Se Kerry subir mais 10% na Califórnia ou Bush na Georgia eles não vão ganhar nem um delegado a mais. Mas na Flórida (27 delegados), em Ohio (20) e Michigan (17) o pau está comendo legal. São 270 os delegados necessários para se eleger um presidente. Bushit, enquanto escrevo, tem 276 delegados.

Então como esse sistema eleitoral dos Arautos da Democracia é de uma estupidez atávica eu venho acompanhando este mapa que mostra estrategicamente como está a corrida no verdadeiro colégio eleitoral nos EUA.

É bem mais divertido que acompanhar a tabela do campeonato brasileiro, eu garanto. Parece um tabuleiro de wargame com a União enfrentando os Confederados (os republicanos - surprise! - vão sempre muito bem nos estados escravocratas). O site usa para cada estado as pesquisas mais recentes possíveis, independente da procedência, e por isso está sujeito por vezes a variações um pouco bizarras. Mas é muito mais confiável do que qualquer pesquisa nacional que você vê por aí.

Pois, teoricamente, tanto O Babaca quanto O Imbecil podem ganhar com apenas 30% dos votos nacionais – se estiverem no estado correto.

1.10.04

Jesus falava por parábolas. Já eu prefiro senoidais.

Na Igreja do Sagrado Fígado com Fibrose de São Tomé das Letras congregam-se diversos tipos de pedras que aos poucos vão chegando para a missa. Os granitos, os mármores, os basaltos, as pedras-sabão, as pedras-pome vão se distribuíndo pelos bancos do templo. Os grandes matacões sisudos pedem silêncio aos pequeninos cascalhos que riem baixinho dos liquens na velha pedra sentada na primeira fila antes de começar a homilia do Frei Ratapulgo.

– Glória ao Senhor! O sermão de hoje versará sobre a generosidade e a economia de mercado. Exigirá que vocês imaginem uma historinha como se fosse um cartum do Quino. Sabe aquele náufrago barbudo magrelo típico na ilha típica com palmeirinha idem? Pois então, é ele. Imaginem o sujeito no primeiro quadrinho todo desolado em sua ilhota. No segundo quadrinho aparece a proa de um barco enorme, um baleeiro. O barbudo magrelo sorri, radiante, na expectativa do resgate. Depois o capitão desce à ilhota, todo aristocrático de cachimbo e lenço no pescoço. O capitão explica graficamente ao barbudo todo o processo de localização das baleias via GPS, o arpoamento desses grandes cetáceos, o içamento da bichona até o convés, a abertura do ventre pela tripulação e a metodologia do acondicionamento das víceras. Terminada a explicação o capitão cumprimenta efusivamente o náufrago e dá para ele um saquinho transparente com um peixinho dourado. No último quadrinho o barbudo da ilha e o peixinho no saco encaram-se mutuamente enquanto o baleeiro singra em direção ao horizonte.
Visualizaram? Pois muito bem. Agora, abramos todos os hinários em Geraldo Vandré 3:17. Vamos todos caminhando e cantando e seguindo para nossas casas meditar sobre o significado de "Não basta dar o peixe, o importante é ensinar a pescar." Amém?

As pedras começam a sair da igrejinha, umas rolando, outras lentamente se arrastando.

– Ah! Não se esqueçam de deixar metade do dinheiro da carteira de vocês na caixinha de doações na saída. Senão… (Frei Ratapulgo aponta a britadeira dourada sobre o altar) já viram, né? Vocês sabem, o Frei Ratapulgo tem que pagar os agiotas e também comprar o novo DVD da Rita Cadilac pra poder movimentar a economia.

Um paralelepipedozinho impertinente pergunta na saída:
– Mas mãe, baleia é peixe?
A mãe, magmática, dá uma pancada na cabeça do menino que tira até uma lasca.

27.9.04

Da Psicopatologia Geopolítica

Dr. ECQ é uma notória sumidade em psicopatologia geopolítica. Para o seu consultório são levados casos clínicos de países que têm o diagnóstico definitivo feito à luz de sua sabedoria e tirocínio.

– Dr. ECQ, temos mais um estado-louco. Foi pré-diagnosticado como um estado paranóico com mania de grandeza.
– E quem é?
– É um desses Stões da vida mas pensa que é um Canadá.
– Mande-o entrar.
O estado-louco entra preso por uma camisa-de-força carregado por dois enfermeiros. Agitado, parecia sofrer de convulsões sociais pelo corpo todo.
Dr. ECQ se aproxima cautelosamente, esquadrinha com atenção doutoral o estado-louco e pergunta-lhe em um tom suave:
– Você é meu amigo?
O estado-louco se contorce na camisa de forca.
– Como assim amigo? Você vendeu armas pro meu vizinho que explodiu minha casa. Me prendeu, amarrou e arrastou até aqui. Me deu dois golpes de estado tão fortes que estou zonzo até agora. E ainda me pergunta se sou seu amigo?
– Não quer ser?
– Não né, porra!
– Podem levar esse aqui. Completamente louco. – Dr. ECQ rabisca em um bloco – Sessões diárias de eletrochoque e um bombardeio pela manhã mais dois a noite, depois da janta.

– Temos ainda mais um estado-louco hoje, Dr. ECQ
– É o último? Mande entrar.
– Certo, doutor. Aqui está.
– Deixe-nos a sós.
– Mas doutor…
– Está tudo sob controle. Espere lá fora que já chamo.
– Sim, doutor.
Dr. ECQ se aproxima do estado-louco, senta-se na mesa, mirando doce mas firmemente os olhos do paciente. O estado-louco transpira, olhos esbugalhados, a face repleta de tiques. O médico retira um guardanapo debaixo do copo de uísque que bebia e enxuga o suor da testa do estado-louco que ainda o olha um pouco assustado. O Dr. ECQ pergunta ao estado-louco:
– Você é meu amigo?
– E… eu? S-sou sim. Gosto muito, demais, do senhor doutor… nossa! Quem dera um dia ser como o senhor! Ter um consultório classudo desses e tomar uísque em copo com gelo que nem o senhor doutor. Puxa, sou amigão mesmo, viu? Seu doutor devia passar na minha tenda, comer uns cabritinhos na brasa. Assim que eu acabar com umas minorias que estão me deixando ma-lu-co, doido mesmo, eu juro que convido o senhor doutor pra jantar lá.
O médico sorri e o conduz até a porta.
– Este aqui não tem nada! Tirem os piolhos e podem instalar uma base militar nele que este é perfeitamente são. Ok? Bom… então por hoje chega.
Dr. ECQ tranca a porta do consultório, coloca um Sibelius no cd player, tira os sapatos e as meias, afrouxa o cinto, afunda-se na poltrona de couro, põe os pés nus sobre a mesa, o dedão regendo os primeiros compassos do primeiro movimento da Sinfonia nº4, beberica o resto de seu uísque enquanto o sol naufraga na janela e pinta o consultório com reflexos dourados e o Dr. pensa: o Mundo é muito simples; as pessoas é que complicam.

23.9.04

Panegírico Universal

Meu caro senhor, que vem aqui vender a sua religião, eu gostaria de dizer:

Aqui não há comércio. Eu não quero sua mercadoria e o senhor não quer a minha.
Eu poderia até dizer, por exemplo, que os os ateus podem entender toda a transcendência de um Mozart, mas que os crentes jamais compreenderão um Alban Berg em sua plenitude. Mas o que isso significaria? Quem poderia ser convencido dos supostos benefícios do ateísmo sem que já não tenha sido anteriormente?

Meu senhor, não compro nada e não vendo nada. Mas gosto de olhar as vitrines, se isso não lhe incomoda.

Passar bem.

---

Sabe-se hoje que Borges foi apenas uma criação literária de Bioy Casares e que este último foi assassinado - a punhaladas - pelo primeiro em uma noite sem estrelas durante um sonho com espelhos.

22.9.04

Coca-cola é isso aí (bis)

Chega um momento em que há muitas últimas coca-colas geladas do deserto.
Na realidade, você olha e só vê coca-colas geladas por todos os lados.
É um autêntico mar de últimas coca-colas geladas em que você quase se afoga.

E tudo o que você deseja é um pedacinho de terra seca para por os pés.

18.9.04

MANUAL DE INSTRUÇÕES - Mutipropulsor de plasma ionizado.

(...)

Cap. 7.3 - Dos procedimentos de segurança em caso de superaquecimento:

Quando a luzinha do coiso começar a piscar, faça o seguinte:

1- Aperte o botãozinho debaixo do coiso várias vezes.

2- Gire o breguete do lado do troço redondo até o barulho passar de pi-pi-pi para uón-uón-uón-uón.

3- Se a bagaça continuar piscando, puxe o negócio comprido até mais ou menos o meio e dê uma chacoalhada. Aperte com força aquele trequinho que fica coisando o negocinho preto redondo.

E se ainda assim a luzinha continuar piscando, dê uns tapões bem fortes do lado do aparelho. Geralmente funciona.

Caso nada disso resolva, puxe o plug da tomada.

(...)

16.9.04

O Mapa da Celeste

Nas suas costas reparei que as pintinhas
tinham o exato arranjo da constelação de Órion

Olha aqui as Três Marias…
Essa grandota aqui deve ser Sírius, então…
Essa cicatriz não parece uma lua crescente?

e outras constelações foram descobertas
a do Pequeno Cíclope
a dos Gatinhos Sonolentos
a do Jaguadarte

eu deitava em seu colo
e me transportava ao céu

8.9.04

Are you ready to ROCK???

Ok, então aumentem o volume pois aí vem o Punk-Rock-Balada-de-Protesto-Contra-as-Baladas-de-Protesto que se intitula:

O rock precisa morrer

(um, dois… um dois, três, oito)

A cretinice mais careta
coisa mais imbecil do planeta

musiquinha bem reacionária
feita para uma gente muito otária

é um puta barulho dos infernos
pros babacas que se acham modernos

que só lambem o próprio umbigo
e então é por isso que digo

que
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer

O cabeludo cheio de piolho
que tem um QI de repolho

compra a guitarra ou a bateria
com a grana da vó ou da tia

fica tocando, como é que pode,
os mesmos eternos acordes?

e aí sempre acham que devem
assassinar stairway to heaven

por isso
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer

ou trilha-sonora de chacinas
ou serve pra gastar gasolina

pro soldado com walkman
no iraque ou no vietnam

pro babaca com o rádio no talo
e a grana do papai pelo ralo

ou pro retardado que se amarra
num mongol masturbando a guitarra
yeah

(Solo masturbante)

Por isso
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer

É realmente a coisa mais chata
esse barulho de bate-estaca

que se vende como rebeldia
no McDonalds todo santo dia

o rock é o jingle da conformidade
que chegou no auge da imbecilidade

Já teve seu momento de glória
mas agora vamos deixar pra história

(ralentando)

chegou a hora de despedir do irmão
e lacrar bem a tampa do caixão

vá em paz, já não era sem tempo
vamos espalhar suas cinzas no vento

pois
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer

Se o samba agoniza
o mambo chafurda
a valsa desmaia
o tango estrebucha
o rock deve morreeeeeeer

o rock deve morrer
o rock deve morre
o rock deve morr
o rock deve mor
o rock deve mo
o rock deve m
o rock deve
o rock dev
o rock de
o rock d
o rock
o roc
o ro
o r
o
o
o

o
(cof cof cof)

o

(Ploft)

7.9.04

Das vantagens de ser um ermitão urbano

Nunca escutei Beyoncé. Nem sei do que se trata. Sou ou não sou uma pessoa feliz?

6.9.04

"Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim"

Sexo, Idade : F, 20
Cor : Parda
Meio: Tiro na cabeça
Forma de mensagem: manuscrito a tinta esferográfica azul
 
"São Paulo 18 de julho de l988
Edu estou deixando esta carta para mostrar a você o que sinto e o que estou sentindo.
Edu são 2:15 hs da madrugada não consegui dormir um minuto se quer esta tudo doendo dentro de mim só em pensar que ti perdi de verdade.
Du porque você fingiu, porque você mentiu para mim este tempo todo. Du não estou agüentando mais, está sendo duro resistir esta dor tão grande que estou sentindo dentro de mim e por viver assim preferi morrer.
Edu quando lembrar-se de mim lembre-se que ti amei e amei de verdade"


-

Sexo, Idade : F, 27
Cor : (descendente de orientais)
Meio : projétil de arma de fogo
Forma de mensagem : carta manuscrita a tinta azul
 
"A quem possa interessar:
Grande parte do que possuía foi vendida ou doada. O que resta, é minha vontade que seja entregue ao meu amigo João; o qual poderá dar a meus pertences o destino que lhe aprouver.
Nada deverá ser entregue a qualquer parente meu.
Quanto aos meus restos mortais, suplico encarecidamente; não o torturem com choros, rezas ou velas. É apenas a minha matéria e imploro que a deixem degradando-se em paz. A putrefação não é degradante. Se a humanidade permitisse que a natureza tomasse o seu curso, seria o renascimento da matéria.
Eu renasceria no vento que passa a murmurar, nas folhas que farfalham, no solo que abriga e alimenta milhares de seres vivos, na água que corre para o mar nas chuvas que regam os campos, no orvalho que cintila ao luar, nas grandes árvores que abrigam ninhos de passarinhos e que vergam a passagem dos ventos fortes, nos pequenos arbustos que escondem a caça do caçador...
Céus! Eu me vingaria se apenas uma de minhas partículas participasse do desabrochar de uma flor ou do canto de um pássaro. Romântico? Não! Foi o mundo, minha família, meu educador mas principalmente... foi o seio que aconchegou a criança que vinha lhe contar as suas tristezas, máguas, alegrias, pensamentos, e seus desejos íntimos... suas esperanças. A criança crescida quer voltar para lhe contar seus sofrimentos, desilusões, a morte de suas esperanças... para encontrar novamente o aconchego onde poderá descansar sua cabeça cansada e abatida e onde poderá, enfim, chorar as suas lágrimas que não encontram onde chorar.
Volto derrotada porque não fui capaz de viver, trabalhar e estudar não foram suficientes para mim. E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim.
Perdoem-me ..., ..., ..., "


-

Sexo/Idade : M, l5
Cor : (descendente de orientais)
Meio: tiro
Forma da mensagem : bilhete feito com tinta "guache" vermelha
Obs : suas vestes se compunham de uma jaqueta azul com as mangas cortadas, camiseta fantasia, rasgada na parte inferior, calça rasgada na altura dos joelhos, cuecas de malha e, com adornos, uma corrente com cadeado no pescoço, uma medalha e um parafuso na lapela. Os pés calçavam botinas punk.

"Mãe - eu não quero ser mais uma ovelha desse sistema (me faça um favor de me enterrar como estou)"

-

Sexo/Idade : M, 33
Cor : parda
Meio : facada no peito (ferimento perfuro-inciso) e, em seguida, enforcou-se
Forma da mensagem : manuscrito a tinta esferográfica

"Isto é para Rodrigo todas as minhas ferramentas."
-----------------------------
"Creusa isto é para você e o meu amor primo." (frente da folha)
"Creuza você foi a mulher que me fez perder a minha família. Você não me deu o que eu quiz então eu lhe dou a minha vida.
Assinado: o dia D. vida D. amor D. passeio D. fim." (verso da folha)
------------------------------
"Esta faca em meu corpo é para ser entregue a Doralice para cortar esta língua felina que também destruiu o meu casamento Amém
      (assinatura)    (manuscrito colado na faca)
-------------------------------
"Para Giane Deus te abençoe Es a minha bênção feliz praia pelo resto de tua vida Amém.
------------------------------
"Isto é para João
         (assinatura)"  (manuscrito preso a uma tv)
------------------------------
"Testamento: Minha mãe, você fez de tudo e conseguiu. Maria me de estudo para Rodrigo e tenha a tutela dele
                                (assinatura)
A minha parte na casa é de Rodrigo e uso e frutos de Creuza, Giane e Wanderlei portanto não deve ser vendida até os 21 anos de Rodrigo. Creuza o que eu mais queria na minha vida era filhos e você me tirou este prazer de um homem. Então para que ser homem Amém
                                       (assinatura)"
------------------------------
"Favor entregar, na garagem onde trabalhava, para os porteiros
                                    (assinatura)"
(manuscrito sobre uma capa plástica amarela disposta em cima do fogão e sob uma fita cassete)
------------------------------
"Creuza tenho fé em Deus que volto para te buscar?
 Você e os filhos Amém minhas férias para que nenhum filho da puta tire barato deles Amém."


textos extraídos de:
SUICÍDIO - TRAMA DA COMUNICAÇÃO
Dissertação de Mestrado, 1992, Psicologia Social, PUC-SP
Autor: Marcimedes Martins da Silva
Suicídio - bilhetes suicidas

5.9.04

Assim vamos levando…

Al Qaeda suspeita de patrocinar o Furacão Frances

Do Mérdia Sem Máscara - A CIA divulgou esta tarde fotos e documentos que comprovariam a participação da Al Qaeda de Bin Ladden e do ditador cubano Fidel Castro na produção dos furacões que vêm devastando o sudoeste norte-americano. O porta voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que há forte indícios que o furacão Frances e o anterior, Charley, tenham sido criados e financiados com verbas da Al Qaeda e o apoio do Comunismo Internacional com intuito de tumultuar a campanha eleitoral dos Estados Unidos. "Ou vocês acham ser mera casualidade todos esses furacões passarem por Cuba antes de chegar aqui na Terra da Liberdade e Lar dos Valentes?" indagou o Governador da Flórida, Jeb Bush, em uma entrevista coletiva em um bunker a 500 metros de profundidade em Estocolmo.

***

Eu não entendo a razão de sermos obrigados a utilizar convencionalismos bobos e retrógados do Politicamente Correto. Por exemplo: por que não podemos chamar o Partido Democrata de Os Babacas e o Partido Republicano de Os Escrotos? Não é muito melhor assim? "A última pesquisa mostra que Os Escrotos têm agora uma vantagem de 11 pontos sobre Os Babacas, que prometeram reagir. O Ridículo continua com apenas três pontos."

***

Esmola de dia.
Paulada na cabeça de noite.
Assim vamos levando.

1.9.04

31.8.04

God's Favorite Ways To Kill

We all know God has historically killed or tortured those who rub Him the wrong way. What you may not realize is that God’s methods of maiming are as varied as his reasons for smiting people. A Biblical scholar/True Christian should have no difficulty determining God’s favorite way of torturing and/or killing less desirable folks in each of the following circumstances:

Landover Baptist Bible Quiz

Da inefável sutileza da alma feminina

Publico agora um caso absolutamente real acontecido em gerações anteriores da família. Não tenho dúvidas que poderia ocorrer novamente hoje em dia em uma família perto de você. Aqui está publicamente exposto para que possamos, eu e você, meditar a respeito dos obscuros meandros que constituem a insondável psique das mulheres que, afinal de contas, tanto amamos.

Personagens: Mãe e Filha

A Filha roía as unhas constantemente. A Mãe se irritava e impunha terríveis castigos à filha para que ela se abstivesse deste hábito horrível. Dos tapas e punições mais brandas a Mãe passou a bater com a cabeça da Filha na parede cada vez que detectava as unhas roídas. Também tornou-se um hábito. Até que certo dia a Filha, já maior de idade, enfrentou a Mãe e disse não importava quantas vezes sua cabeça fosse arremessada contra a parede ela nunca pararia de roer as unhas. Ela já era crescida, as unhas eram dela e ela continuaria comendo até o talo, se assim quisesse. Ao que a Mãe respondeu: Ah, é? Se bater a sua cabeça na parede não adianta, então vou começar a bater a minha. E a Mãe começou a martelar a testa contra a parede com muita força.

Foi assim que a Filha parou de roer as unhas.

28.8.04

Foreigners arround the world

Foi o mestre Alexandre Soares que achou esse texto, antigo mas divertdíssimo, da National Lampoon escrito pelo P.J. O'Rourke.
Foi uma das coisas mais engraçadas que li nos últimos tempos. Mas acho que nesse guia faltam alguns verbetes. Muy modestamente sugiro um sobre os Americanos (eu sei que estadunidenses é mais correto, mas é terrivelmente chato falar estadunidense). Creio que faltariam ainda um sobre Argentinos e outro sobre Brasileiros. Alguém se habilita?

Americanos

São os donos de todo dinheiro do mundo, o que os torna a raça mais arrogante e paranóica do planeta. A dieta básica do americano consiste de bacon, hamburgueres feitos de portoriquenhos e grandes pedaços crus de gordura animal. Bebem apenas coca-cola e uma espécie de lavagem intestinal rala a qual dão o nome de café. O passatempo preferido dos americanos é torturar e matar as pessoas de outros países e, quando se aborrecem de matar alhures, começam a atirar em si mesmos. Existem três tipos básicos de americano: o de boné, o de chapéu de caubói e o de terno. O primeiro sabe contar apenas até cinco, o segundo até oito e o terceiro usa calculadora. Todos possuem cérebros atrofiados e são absolutamente orgulhosos de sua nulidade mental. Suas mulheres são seres insosos, aguados e sem bunda que tentam compensar essa negligência colocando unhas postiças e implantes do tamanho de leitões com elefantíase nos peitos. Incapazes de praticar algum esporte que seja vagamente interessante quando têm que competir com outros países em alguma modalidade eles mandam seus negros. No entanto, apesar de ser um povo meramente técnico e sem criatividade, inventaram o computador, que é um instrumento bacana utilizado para ver mulher pelada.

Lado positivo:
Pensam que a nossa capital é Buenos Aires e assim destruíram economicamente a Argentina em vez da gente.

Como devemos chamá-los:
Buttface, Moron, Retard, Anemic sausage, Motherfucker.

Anedota característica que resume o perfil psicológico da raça:
– Knock-knock.
– Who's there?
– Yo momma.
– Yo momma, who?
– Seriously, it's yo fucking momma, open the fucking door or I will smash yo into a pulp yo dumb mothafucka!

23.8.04

Sobre Ursinhos Carinhosos e Rachel Weisz

-e o que sucederá depois? -depois me esconderei entre os navios de gelo. - e depois, o que acontece? -depois mendigarei com os palhaços peludos. -e depois? -depois te enviarei o adeus sóbrio dos falsos batráquios. -e depois? -te pedirei todas as cornucópias de mexilhões. -mas, e depois? emergirás das minhas veias? -sim, e também dos teus hormônios feridos. -e depois? desaparecerás como Houdini? como Simbad? como Menegetti? -sim, por janelas de pelúcia e por serpentinas de cristal lavrado nos elementos. -e depois? -depois acaba.

22.8.04

Do panorama político visto pela mira telescópica do estilingue giratório

Bem, agora, crianças, saiam todos da sala e vão ver as Olimpíadas, fazer nheco-nheco ou, sei lá, essas coisas que vocês fazem pra se distrair pois vou falar de política. Voltem daqui a pouco. Até já, beijos!

***

As vezes me arrependo do meu hábito de chamar o Bush constantemente de retardado. Não é nada justo com os retardados.

***

Tomar lição de democracia do Chavez-Chapolim é mais ou menos como receber lição de etiqueta do Sérgio Mallandro. É por essas e outras (principalmente as outras) que a oposição na Venezuela consegue ser pior que a nossa.

***

Visitei algumas comunidades que odeiam o Lula. A reclamação básica é que é uma vergonha nacional ter como representante máximo do Brasil um sujeito ignorante e analfabeto. Sei não. Se levarmos em conta o nível jacu das argumentações e o lamentável português dessas comunidades tenho a impressão que o País está perfeitamente representado.

***

Discutir política com quem não sabe a diferença entre Comunismo e Socialismo ou Capitalismo e Liberalismo é como tentar discutir futebol com mulheres que não sabem o que é impedimento.

***

Encontrar as burrices da esquerda não torna a direita mais inteligente. Curiosamente, a recíproca não é verdadeira.

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As pessoas primeiro querem mudar o Mundo; depois o Mundo muda as pessoas. Tem gente que acha que ser de libertário na juventude e ir mudando paulatinamente para o conservadorismo quando se torna mais velho é sinal de sapiência e maturidade. Esse fenômeno para mim, no entanto, é mais semelhante às doenças degenerativas naturais como a perda de visão, audição, memória, tônus muscular que advêm com a idade. A Direita é uma impotência da alma pra qual ainda não existe viagra.

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Opus Dei sucks big dick!

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Pronto… podem voltar! Só falarei agora sobre os Ursinhos Carinhosos e Rachel Weisz, tá?

19.8.04

Cogito ergo hein?

Os Burros-Inteligentes utilizam-se de gigantescas bibliotecas apenas para construir uma fortaleza que proteja a sua imbecilidade atávica. E não há nada que possa penetrar a couraça de citações em latim que cerca essa estupidez primeva. Provavelmente a pior de todas as ignorâncias seja a da Burrice blindada pela Cultura.

17.8.04

Do relativismo moral depois do 3º uísque

"Como assim pedófilo? Eu sempre gostei de meninas de doze anos… desde que eu tinha 7 anos de idade, na verdade, e continuei gostando aos dez, aos doze, aos catorze, aos trinta, aos cinquenta anos, porra! Isso aí que vocês chamam de pedofilia eu chamo de rigorosa coerência estético-sexual. Coerência, meu caro, coerência!"

13.8.04

Enquanto isso, no salão principal…

All work and no play makes Jack a dull boy.
All work and no play makes Jack a dull boy.
All work and no play makes Jack a dull boy.
All work and no play makes Jack a dull boy.
All work and no play makes Jack a dull boy.
All work and no play makes Jack a dull boy.
All work and no play makes Jack a dull boy.
All work and no play makes Jack a dull boy.
All work and no play makes Jack a dull boy.
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