6.9.04

"Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim"

Sexo, Idade : F, 20
Cor : Parda
Meio: Tiro na cabeça
Forma de mensagem: manuscrito a tinta esferográfica azul
 
"São Paulo 18 de julho de l988
Edu estou deixando esta carta para mostrar a você o que sinto e o que estou sentindo.
Edu são 2:15 hs da madrugada não consegui dormir um minuto se quer esta tudo doendo dentro de mim só em pensar que ti perdi de verdade.
Du porque você fingiu, porque você mentiu para mim este tempo todo. Du não estou agüentando mais, está sendo duro resistir esta dor tão grande que estou sentindo dentro de mim e por viver assim preferi morrer.
Edu quando lembrar-se de mim lembre-se que ti amei e amei de verdade"


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Sexo, Idade : F, 27
Cor : (descendente de orientais)
Meio : projétil de arma de fogo
Forma de mensagem : carta manuscrita a tinta azul
 
"A quem possa interessar:
Grande parte do que possuía foi vendida ou doada. O que resta, é minha vontade que seja entregue ao meu amigo João; o qual poderá dar a meus pertences o destino que lhe aprouver.
Nada deverá ser entregue a qualquer parente meu.
Quanto aos meus restos mortais, suplico encarecidamente; não o torturem com choros, rezas ou velas. É apenas a minha matéria e imploro que a deixem degradando-se em paz. A putrefação não é degradante. Se a humanidade permitisse que a natureza tomasse o seu curso, seria o renascimento da matéria.
Eu renasceria no vento que passa a murmurar, nas folhas que farfalham, no solo que abriga e alimenta milhares de seres vivos, na água que corre para o mar nas chuvas que regam os campos, no orvalho que cintila ao luar, nas grandes árvores que abrigam ninhos de passarinhos e que vergam a passagem dos ventos fortes, nos pequenos arbustos que escondem a caça do caçador...
Céus! Eu me vingaria se apenas uma de minhas partículas participasse do desabrochar de uma flor ou do canto de um pássaro. Romântico? Não! Foi o mundo, minha família, meu educador mas principalmente... foi o seio que aconchegou a criança que vinha lhe contar as suas tristezas, máguas, alegrias, pensamentos, e seus desejos íntimos... suas esperanças. A criança crescida quer voltar para lhe contar seus sofrimentos, desilusões, a morte de suas esperanças... para encontrar novamente o aconchego onde poderá descansar sua cabeça cansada e abatida e onde poderá, enfim, chorar as suas lágrimas que não encontram onde chorar.
Volto derrotada porque não fui capaz de viver, trabalhar e estudar não foram suficientes para mim. E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim.
Perdoem-me ..., ..., ..., "


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Sexo/Idade : M, l5
Cor : (descendente de orientais)
Meio: tiro
Forma da mensagem : bilhete feito com tinta "guache" vermelha
Obs : suas vestes se compunham de uma jaqueta azul com as mangas cortadas, camiseta fantasia, rasgada na parte inferior, calça rasgada na altura dos joelhos, cuecas de malha e, com adornos, uma corrente com cadeado no pescoço, uma medalha e um parafuso na lapela. Os pés calçavam botinas punk.

"Mãe - eu não quero ser mais uma ovelha desse sistema (me faça um favor de me enterrar como estou)"

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Sexo/Idade : M, 33
Cor : parda
Meio : facada no peito (ferimento perfuro-inciso) e, em seguida, enforcou-se
Forma da mensagem : manuscrito a tinta esferográfica

"Isto é para Rodrigo todas as minhas ferramentas."
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"Creusa isto é para você e o meu amor primo." (frente da folha)
"Creuza você foi a mulher que me fez perder a minha família. Você não me deu o que eu quiz então eu lhe dou a minha vida.
Assinado: o dia D. vida D. amor D. passeio D. fim." (verso da folha)
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"Esta faca em meu corpo é para ser entregue a Doralice para cortar esta língua felina que também destruiu o meu casamento Amém
      (assinatura)    (manuscrito colado na faca)
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"Para Giane Deus te abençoe Es a minha bênção feliz praia pelo resto de tua vida Amém.
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"Isto é para João
         (assinatura)"  (manuscrito preso a uma tv)
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"Testamento: Minha mãe, você fez de tudo e conseguiu. Maria me de estudo para Rodrigo e tenha a tutela dele
                                (assinatura)
A minha parte na casa é de Rodrigo e uso e frutos de Creuza, Giane e Wanderlei portanto não deve ser vendida até os 21 anos de Rodrigo. Creuza o que eu mais queria na minha vida era filhos e você me tirou este prazer de um homem. Então para que ser homem Amém
                                       (assinatura)"
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"Favor entregar, na garagem onde trabalhava, para os porteiros
                                    (assinatura)"
(manuscrito sobre uma capa plástica amarela disposta em cima do fogão e sob uma fita cassete)
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"Creuza tenho fé em Deus que volto para te buscar?
 Você e os filhos Amém minhas férias para que nenhum filho da puta tire barato deles Amém."


textos extraídos de:
SUICÍDIO - TRAMA DA COMUNICAÇÃO
Dissertação de Mestrado, 1992, Psicologia Social, PUC-SP
Autor: Marcimedes Martins da Silva
Suicídio - bilhetes suicidas