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15.1.10

Sete bestiais volúpias dominicais



Naufragando nos leitos de domingo

sonhando com os filhos do capataz

esfregando na árvore dos castigos

fagocitando os caboclos ancestrais


Às tormentas aos gritos às lamúrias

devotadas às chuvas torrenciais

as irmãs se desfazem em borbulhas

renovando as sedes dos manguezais


Estupradas por gorilas abstratos

beatificadas por babuínos celestiais

afogando os lascivos carrapatos

repartindo os ventres com os animais


Implorando as vergonhas dos mendingos

se enredando em volúpias amorais

bestializadas por lagostas e flamingos

e defloradas como todas as demais

3.11.09

Estante

uma literatura espaçosa
enche a cabeça vazia

apenas um dedo de prosa
os demais são poesia

1.10.09

Quem



Quem está nos chamando
Quem está dentro de nós
Quem está se preparando
Quem virá logo depois

Quem acende uma vela
Quem maldiz a escuridão
Quem dormiu na casa dela
Quem desmaiou de solidão

Quem está atrás da cortina
Quem tem a faca na mão
Quem se arrasta na piscina
Quem está de prontidão

Quem fugiu pela janela
Quem caiu na devassidão
Quem encontrou o corpo dela
Quem desceu lá pro porão

Quem silencia os cachorros
Quem entreabre o portão
Quem é a voz de socorro
Quem é o guarda de teu irmão

Quem está nos chamando
Quem está dentro de nós
Quem está se preparando
Quem virá logo depois

4.9.09

O anel, o santo e o noivo cagão



Na manhã benfazeja
chega o dia da igreja
pois todo casal almeja
unir-se em frente ao altar

Mas na gelada capela
João bem amarela
tremendo as canela
bem diante do altar

João pensa e se arrasa
na noiva que se atrasa
ela ainda em casa
"está a se maquiar"

e nessa demora
mais que passando da hora
João se apavora
esfregando o anular

Finalmente a donzela
de branco chega à capela
buquê de flor amarela
e está diante do altar

com os miolos numa luta
e os sentidos a divagar
João nem escuta
o padre tagarelar

e na hora mais certa
João - upa! - se desperta
é o anel que lhe aperta
bem diante do altar

como uma vara tremendo
ou tremendo dum azar
a aliança vai escafedendo
do seu dedo anular

correndo pela igreja
João começa a peleja
atrás do anel que volteja
rodopiando o altar

O padre neste momento
pôs-se a amaldiçoar
quando João, esse jumento,
espatifou-se no altar

O Santo Antônio caído
solta um rouco gemido
linguajar proibido
na beira do altar

"Moleque abestado,
estás embriagado
ou é um sequelado
aqui na frente do altar?"

Ergueu, apavorado, João
Santo Antônio do chão
nunca tinha ouvido não
uma estátua a praguejar

"Desculpe, meu santo,
acho que foi um quebranto
há três dias nem janto
nem sei me encontrar"

Santo Antônio irritado
chama o cabra de lado
"Escuta aqui, ó lesado,
vamos ter um particular:

Hoje é dia importante
veio até parente distante
não é hora de rompante
você, afinal, quer casar?"

"Ai, creia meu santo,
eu não posso falar
mentira ou calúnia
nem tampouco blasfemar

estou aqui sem maldade
tu és a autoridade
direi toda a verdade
aqui, diante do altar

me desculpe, ó meu santo,
eu juro de pé junto
que só mesmo defunto
queria de me casar"

Então retruca o santo:
"Mesmo tu sendo tão moço
isso não é nada difícil,
dá até pra se arranjar

Sou santo bem-fazejo
mas posso atender seu desejo
e bem pra logo eu prevejo
uma sina de azar

não tome como quebranto,
mas vai que tu cai num poço
numa saída de uma missa
numa noite sem luar"

E já amarrando o pranto
João pensa em seu pescoço
enfim cede ao sacrifício
diante do santo altar

14.10.08

Na Igreja do Ai, Jesus, do Mecardo Globalizado dos últimos dias

O Concílio de Wall Street aprovou, nesta terça-feira negra, o novo credo do mercado de capitais:

Credo Capitalis

Creio no Capital todo-poderoso
criador do Céu e da Terra
e no Livre-Mercado
seu único filho
nosso Senhor.

Que foi concebido pela lei da oferta e da procura,
nasceu de nossa ganância,
padeceu na baixa dos mercados,
foi incorporado, refinanciado e desvalorizado,
despencou no índice Dow-Jones,
recuperou-se com viés de alta no terceiro dia,
subiu para as Ilhas Cayman,
está depositado em conta numerada numa empresa de fachada,
donde podem vir a resgatá-Lo os vivos e os mortos.

Creio na bolsa de valores,
no sistema financeiro internacional,
na auto-regulamentação dos mercados,
na remissão dos títulos públicos,
na repartição dos dividendos,
no Estado mínimo,
na livre-iniciativa,
na dívida eterna.

Amém


Com a benção do
Cardeal Ratzinpulguer

8.3.08

Todas as mulheres do mundo (menos uma)



Miss Maggie

Mulher do mundo ou prostituta
Que frequentemente são as mesmas
Mulher comum, estrela ou bagulho,
Fêmeas de todas variedades eu vos amo
Até mesmo à última das imbecis
Eu gostaria de dedicar alguns versos
A respeito de meu desgosto com os homens
E sua moral guerreira

Pois nenhuma mulher no planeta
Será jamais mais babaca que um homem
Nem mais feroz, nem mais desonesta
A não ser, talvez, Madame Thatcher

Mulher te amo porque
Quando o esporte vira guerra
Não há nenhuma menina
Nas hordas de torcedores
esses fanáticos, loucos, furiosos,
Cheios de raiva e cerveja
Desafiando os cretinos de azul,
Insultando os safados de verde

Não tem mulheres hooligans,
Imbecis e sanguinárias
Nem mesmo na Grã-Bretanha
Exceto, claro, Madame Thatcher

Mulher te amo porque
No volante de um carro
Tu não te tornas tão idiota como
Esses coitados que surtam
Por uma lanterna quebrada
Ou um dedo esticado
E os que querem até atirar
para salvar o toca-fitas

Uma banana para estes cretinos
Nenhuma mulher seria tão vulgar
para sair assim no braço
Exceto, talvez, Madame Thatcher

Mulher te amo porque
Tu não morrerás na guerra
Porque a visão de uma arma de fogo
Te estremece até os ovários
Porque entre os bandos de caçadores
Que despedaçam os animais
E ocasionalmente um imigrante
Jamais eu vi uma mulher

Nenhuma mulher tão abominável
Para apontar um revólver
E se sentir invulnerável
Exceto, claro, Madame Thatcher

Não foi em um cérebro feminino
Que surgiu a bomba atômica
E nem uma mulher tem em suas mãos
O sangue dos índios da América
Os palestinos e Armênios
Testemunham do fundo de suas tumbas
Que genocídio é masculino
Como um SS, um toureiro

Nessa merda de humanidade
Os assassinos são sempre homens
Não há mulher que rivalize
Exceto, talvez, Madame Thatcher

Enfim, mulher te amo sobretudo
Por tua fragilidade, por teus olhos
Quando a força do homem está
No seu revólver ou no seu pau
E quando chegar a hora derradeira
O inferno estará lotado de cretinos
Jogando futebol ou se esmurrando
Ou apostando quem mija mais longe

Eu me transformaria em cão
se pudesse ficar sobre a Terra
E como reverberação cotidiana (!?)
Me ofereceria Madame Thatcher

Renaud


---
Uma homenagem a esta data tão importante.

Uma tradução rata-porquinha de uma música bem simpática.

Não concordo exatamente com tudo dque diz a letra. Acho que as mulheres são cúmplices dos homens na maioria das sacanagens unversais. Mas hoje (e somente hoje) vocês estão perdoadas.

beijos!

1.1.08

Nós Travamos - Edição 2008

Abri os ouvidos e escutai todos vós,
pois caem-se os véus, desatam-se os nós,
ouçam atentos os presságios espúrios,
o meu canto de dor, o meu canto de augúrios



Centúria I - Política Internacional

Ao fazer novo exame mitocondrial,
descrubrir-se-á que o menino Emmanuel
é mesmo filho do Barak Obama
(mas isso só será revelado bem no final da campanha)

Porém depois de Obama asssassinado
a tiros, o papel em Roliúde será disputado
por Denzel Washinton e pelo Will Smith
mas ficará mesmo com o Sean Penn, acredite!

O mandato de Bush acabará muito antes da data prevista
pois se tornará permanente a greve dos roteiristas
sem discurso, sem planos, uma tremenda bagunça,
acabará sendo salvo contratando o Duda Mendonça

Filhos de Mises, o Paraíso dobre a Terra
sem taxas, sem Estado, sem guerra
Ron Paul abdicará de todo seu salário
e transformará os EUA no apogeu libertário

Uma felicidade que ninguém proíbe
Colômbia e Venezuela se porão em festa
quando Hugo Chávez e Alvaro Uribe
casarem-se secretamente no meio da floresta

Em uma crise de energia e o mundo em recessão
Bush dirá fuck it e e invadirá o Turcomenistão
a Dinamarca tornará obrigatório o casamento gay
e pelo lance mínimo a China comprará Cuba no eBay


Centúria II - Política Nacional

Será o candidato mais votado o Enéas Carneiro
prefeito da grande maioria dos municípios brasileiros
será o maior tirano-do-além da História Nacional
embora, tecnicamente, apenas em nível municipal

Como a graça solene de um serafim
prometendo cumprir o mandato até o fim
Marta Suplicy, humilde, será toda pruridos
e não disputará a presidência dos Estados Unidos

E, peraí, gente, que tem mais, tem mais!
Um grande escândalo estourará em todos os jornais
noticiando que Lula, Sônia Hernandes e Reinaldo Azevedo
recebem do bolsa-famíla sem comparecer ao emprego


Centúria III - Área Cultural, metafísica, sócio-ambiental e adjacências

chegando no fundo do poço
quando mais não se pode descer
quanta surpresa não trará
o Corínthians na série C

Desastre aeronáutico-esportivo
falha da Anac deve ser o motivo
Cairá um avião com a toda a seleção brasileira
sobre o estádio olímpico na cerimônia de abertura

Rubens Ewald exclamará "ui, que meda!"
ao assistir a produção da Pixar com o ratinho da Al Quaeda
e depois, congelando na sunguinha cor-de-rosa
processará Al Gore por propaganda enganosa

abrir-se-á, por fim, o sétimo selo da sétima arte
a potência talentosa da Regina Duarte
interpretará uma venezuelana extremamente má
causando uma superlotação no Cine Marabá


Centúria XIII
- Xiiii

Quem ainda tiver olhos verá!

22.10.06

Canção maledicente

Um abutre
carniceiro
e sanguinolento

Se o Lacerda era o corvo,
Reinaldo Azevedo é o abutre
debaixo das penas do tucano
um carniceiro sanguinolento

Sente cheiro de carniça
esta é o que lhe atiça
E como ela está em toda a parte
Reinaldinho inteiro se ouriça

Nada escapa de seu olfato
o mundo inteiro a feder
Tudo está putrefato
O país, o governo, você

Como o português com o bigode esmerdeado
que achou que o mundo estava cagado,
Reinaldo Azevedo não se deu conta
que ele mesmo é que está putrefato.

Um abutre
carniceiro
e putrefato.

-

Ou "Canción de Muy Amigo". Sabem que eu às vezes fico pensando se eu não teria uma assustadora facilidade de tornar O Sinistro um blogue tão escroto como o do Reinaldo Azevedo? Tenho certeza que eu poderia passar o dia fazendo posts iracundos, repletos de venenosos sarcasmos, silogismos sinuosos, travalínguas tântricos e maledicências absolutamente gratuitas, além de um calunismo social da pior espécie. Levantaria a moral das Hostes da Luz para que nos lançássemos todos, com entusiasmo, no fantástico abismo da batalha ideológica.

Tenho certo medo. Sabem por quê? Existem poucas coisas mais asquerosas que ter um blogue político, "os de direita, os de esquerda e principalmente os de marcha-ré." como dizia o outro. Blogue político deveria ser como sarna: você tem, gosta de se coçar mas não é bom ficar por aí espalhando. Uma discussão política, que coisa mais deselegante, para que tornar pública? Toda discussão política deveria ser feita no recôndito de seu lar, dentro de quatro paredes sem a presença de um outro ser humano. Ter um blogue político é ficar por aí, com uma cara de Paulo Silvino, mostrando: "Ó minha sarna, ó, tá vendo? Quer passar a mão? Ai, dá uma coçadinha pra mim, dá?" É muita promiscuidade, um coçando a sarna do outro. Blogue político deveria ser tratado como um problema de saúde pública. Sarnanpim neles, seu Oswaldo!

Agradeçamos todos ao Reinaldinho e suas leptospiroses amestradas por terem me mostrado a coisa hedionda que, no limite, este blogue poderia se transformar. Mas agradeçam muito à minha preguiça também. Se eu fosse um cocainômano, vocês tavam perdidos. Chamaria vocês de "tucanalhas" o tempo inteiro. Destilaria frases espirituosas como: "Olavo de Carvalho veio à Terra provar que um ser humano pode viver sem o cérebro". Lamuriaría-me pleiteando que quem votou no FHC sabendo que ele comprara deputados não tem o menor direito de se indignar com a lambança do PT. Podem rir, bater palminha, dizer bem feito! mas indignar-se, não. Escreveria coisas obscenas, que Deus é tremendo e Jesus tem parkinson. Diria que o verdadeiro herói é silencioso, o que quer que isso possa significar. Vararia madrugadas escrevendo 37 posts seguidos só sobre a ficha corrida do Abel Pereira. Cês tavam fudidos na minha mão. Ah, tavam. Então, agradeçam também, queridos leitores, à minha eterna padroeira Santa Preguiça do Caray. Amém ceis tudo?

2.7.06

Pollyanismo de ocasião

Lembrem-se:
"O patriotismo é o último refúgio dos canalhas".
- Samuel Johnson

----

(Não contem ao Zagallo o resultado jogo. Não sabemos qual poderia ser a sua reação.)

---

Afoguemo-nos em álcool. Afoguemo-nos em absinto. Afoguemos também o Parreira, o Ronaldinho e o Roberto Carlos, não no absinto, que estraga o sabor, mas afoguemo-os em álcool zulu, limão, açúcar e gelo agosto, ou setembro que é o mais cruel dos meses no hemisfério austral. Nós, apenas duas gotas de láudano permeando o absinto. A pátria é o Baudelaire de chuteiras e o futebol um paraíso artificial.

Lembro do professor Flávio di Giorgi contando como o velho Bauda gostava de beber nas horas vagas e como seu dia era composto essencialmente de horas vagas. Esse poema, o Recuillement, Baudelaire recitava para uma platéia bastante seleta: o seu estômago. Mais precisamente, a sua úlcera selvagem. Reparem que o poema é quase uma canção de ninar. A Dor não é uma inimiga, é uma companheira antiga, que precisa ser cuidada e embalada nas asas da "fée verte". Afogemo-nos em absinto. Afoguemos a Copa que acabou sem ter começado. Afoguemos, sobretudo, o Armando Nogueira, os ex-juízes boquirrotos, os futurólogos do passado e escutemos, meus caros, a doce noite que caminha.

Recueillement

Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille.
Tu réclamais le Soir; il descend; le voici :
Une atmosphère obscure enveloppe la ville,
Aux uns portant la paix, aux autres le souci.

Pendant que des mortels la multitude vile,
Sous le fouet du Plaisir, ce bourreau sans merci,
Va cueillir des remords dans la fête servile,
Ma Douleur, donne-moi la main; viens par ici,

Loin d'eux. Vois se pencher les défuntes Années,
Sur les balcons du ciel, en robes surannées;
Surgir du fond des eaux le Regret souriant;

Le Soleil moribond s'endormir sous une arche,
Et, comme un long linceul traînant à l'Orient,
Entends, ma chère, entends la douce Nuit qui marche.

15.5.06

Para mim já bastam
um pouco de Marte
e um monte de Vênus

23.4.06

poema com fuso

Não sei se minhas Musas são parcas
ou se as Parcas são minhas musas
cortando nos fios de suas facas
os nós destas linhas confusas

Sei lá se as Musas aparecem
nos momentos que me inspiro
ou se são as Parcas que tecem
o fio do meu último suspiro

---

Atendendo à sugestão da meiga Meg tentei deixar nos conformes o poemeto acima.
Ele já era meio um octassílabo de orelhada, precisava de mais um pouquinho de lanternagem, um sotaque lusitano, alguma boa vontade e voilá!


1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 |
não| sei| se |mi'as| Mu | sas| são| par| cas
ou | se | as | Par | cas| são|mi'as| mu| sas
cor| tan| do | nos |fios| de |suas| fa | cas
os | nós| des| tas | lin| has| con| fu | sas

sei| lá |seas| Mu | sas| a | pa | re | cem
nos| mo | men| tos| em |que |meins| pi | ro
ou | se | são| as | Par|cas | que | te | cem
o | fio| do | meu| úl | ti | mo |sus | pi | ro


…ou assim parecia.
só que ficou um rabinho de fora, uma sílaba a mais no último verso que não queria encaixar de jeito nenhum e ficava do lado de fora tomando chuva

Talvez se trocasse "último" por "final"… nah. Não bom.
ou eliminasse o "meu"… hmmm… sei não, sei não…

Ou quem sabe se o colocássemos em fôrma maior?
Acrescentando mais farinha e redundâncias a gosto depositei o pobre num decassílabo safado (aquele que pode ter sílabas tônicas na sétima ou qualquer outro lugar). Ficou assim:


1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 |
Eu | não| sei| se | mi |nhas| Mu | sas| são | par| cas
ou | en | tão| as |Par |cas | são| mi | nhas| mu | sas
pas| san| do |nos | fi |nos |fios| de | suas| fa | cas
os | nós| des| sas| mi |nhas| lin| has| con | fu | sas

Já | nem| sei| se | as | Mu | sas| a | pa | re | cem
nos| mo | men| tos| em | que| eu | me | ins | pi | ro
ou |se a| pe | nas| são| as | Par| cas| que | te | cem
o | fio| do | meu| der| ra | dei| ro | sus | pi | ro


Meu São Ivan, padroeiro dos trovadores desvalidos,
martelinho de ouro das estrofes amassadas,
ortopedista dos versos de pé quebrado,
valei-me nesta hora de agonia!

--

Humilimamente grato pelas sugestões, Meg e Ivan. Vocês venceram: batatas fritas!
Transformaremos, então, aquelas quadrinhas singelas em um magnífico soneto digno de um Bilac ao acordar de uma ressaca de licor de ovos.
Vejam aí o que vocês acham.

soneto com fuso

Não sei: minhas Musas são parcas
ou são as Parcas minhas musas,
cortando nos fios das facas
os nós destas linhas confusas?

Nem sei se as Musas aparecem
nas horas em que me inspiro,
ou se são as Parcas que tecem
nós de meu último suspiro

Sigo o fio da minha loucura
no labirinto de um touro
Sou como um Teseu que procura

no fim do verso um estouro
Já encontrei a fechadura
mas perdi a chave de ouro



1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 |
Não|sei:| mi |nhas| Mu | sas| são| par| cas
ou | são| as | Par| cas| mi |nhas| mu | sas,
cor| tan| do | nos| fi | os | das| fa | cas
os | nós| des| tas| lin| has| con| fu | sas?

Nem| sei|seas| Mu | sas| a | pa | re | cem
nas| ho | ras| em | que| me | ins| pi | ro,
ou | se | são| as | Par|cas | que| te | cem
nós| de | meu| úl | ti | mo |sus | pi | ro

Si |go o|fio | da | mi |nha |lou | cu | ra
no | la | bi | rin| to | de | um |tou | ro
Sou| co |moum| Te | seu|que | pro| cu | ra

no | fim| do | ver| so | um | es | tou| ro
Já | en | con|trei| a | fe |cha | du | ra
mas| per| di | a | cha| ve | de | ou | ro

(Seguindo a onda parnasiana, não percam na próxima semana: Ode a uma estátua-grega-em-posição-de-yoga-com-a-cara-de-uma-modelo-bem-conhecida-aí.)

22.4.06

e sabem o que mais?
acho que não vou passar
naquele vestibular
das faculdades mentais

12.4.06

quadrinha em situação de rua

Poema aqui no brogue é a maior tristeza
co'as rimas bem abaixo da linha da pobreza
tudo mal-ajambrado, tremendo miserê,
estrofes de pau-a-pique e versinhos de sapé

17.3.06

essa coisa dentro de mim

para o Ivan Justen

sei que tenho essa coisa dentro de mim
pode ser uma lombriga, pode ser um querubim

talvez um leprechaun, perdido na grande cidade,
que aqui no meu âmago tenha encontrado comodidade

seja o que for, me obriga a fazer coisas estranhas
como ingerir vidro moído e patinhas de aranhas

ou fazer malabarismos com navalhas e tamancos
enquanto persigo lindas babás em seus vestidos brancos

ou me faz colocar a orelha na porta do elevador e procurar mensagens
transmitidas por entre o ranger dos cabos e o grunhir das engrenagens

outro dia mesmo ouvi essa vozinha, que se fez entender
pedindo, quase chorando, que escrevesse para você
compus, então, a mais bela balada, feita com coração
a tinta violeta criava volutas no papel perfumado
coloquei, depois, o bilhetinho com muito cuidado
nas suas mãozinhas por detrás das grades do porão

sei que tenho, assim, uma coisa dentro de mim
pode ser um enfisema, pode ser um Idi Amin

18.2.06

Quando o Homem de Bucareste chegar

Serão tempos dos pulmões de areia e chumbo,
As sementes secarão nas palmas das mãos,
Colheitas se perderão, as frutas murcharão,
Nas casas, uma a uma, todas as janelas se fecharão.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

Ônibus e metrôs correrão vazios e sem direção,
Samurais de papelão e farrapos vagarão pelas esquinas,
Proxenetas se arrependerão, as igrejas lotarão,
Moleques se encharcarão de rum, éter e gasolina.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

Cíclopes reumáticos de eletricidade, serpentes de carvão,
Cães uivarão o Silêncio nas cidades, aves rastejarão,
Dunas de areia invadirão as escolas e prefeituras,
Um vento negro e viscoso soprará quente do sudoeste.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

Não haverá mais Páscoa
Não haverá café-da-manhã
Não haverá mais vitrines
Não haverá mais canções
Não haverá despedidas
Não haverá salvação

Anjos despencarão de suas coberturas,
Lágrimas de querosene as estátuas chorarão,
Silhuetas sujas e desesperadas peregrinarão
por água, provisão e lanternas em vão.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

O asfalto queimará, os bueiros, todos, vomitarão,
Motores soltarão urros furiosos e depois estacarão,
A Lua amarela sangrará, o céu se estilhaçará
Em agudas lâminas de concreto, aço e latão.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

E o Homem de Bucareste,
Com seu sorriso ancestral,
Tirará seus óculos escuros
Que cobre as órbitas vazias,
Acenderá um cigarro sem filtro
E nos consolará dizendo que está tudo bem
que não foi nada,
que já passou,
que a vida continua,
que tudo, tudo se ajeitará.

apenas pedirá para tomar um certo cuidado
pois comentam a boca pequena
que o Homem de Istambul
virá no final da semana.

15.10.04

Habana, que estoy caliente

Estarei fora este fim-de-semana tentando tirar o musgo dos pelos. Enquanto isso rebolem todos ao sabor de uma pequena contribuição minha à impagável (ninguém desembolsa um puto para ouvir esses caras) banda Libera o Badaró.

Essa salsa-manjericão conta também com a participação do Buena Vista Cream Cracker Social Sla Radical Disco Club. Hay que endurecer, carajo! Uh!

HABANA.
(Ratapulgo e Fafafi Fafu Filho)

Viajei hasta Habana
En busqueda de un amor
Fue bailar em Tropicana
En una noche de calor

Yo tome una cuba libre
Y me puse a bailar
Encontré una chica
Llamada Libertad

Una chica mui estraña
Com pelos a cortar
Un quepe de campanã
Y "jaruto" a fumar

Me quedé estarecido
E puse a reparar
Que la criolla Libertad
Era el “jefe” a bailar

Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana mi Libertad

Una muchacha mui estraña
Com los pelos a cortar
Y un viejo quepe de campaña
Y un "jaruto" a fumar

(bate forte o tambor…)

El capitán se me acercó
Y me puse en el Paredón
Y despacito me ordenó
“Baila comigo corazón”

Yo no puedo bailar
Por que soy de cocha bamba
Ya estaba de partida… ehhh
Y viva la revolución!!

Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana mi Libertad
Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana mi General

El capitan se me acercó
Y me puse en el Paredón
Y despacito me ordenó
“Baila comigo maricón”

Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana mi General
Habana, Habana, habana que estoy caliente
Habana, Habana, habana en otro lugar

(bate forte o tambor…)

____

Outras múltiplas e diversas músicas do LoB podem ser baixadas "de grátis" nesta página. Dstaques para a Jesus Negão (essa música já tem duas comunidades no Orkut! Acredite, irmão!), a Escravos de Jah e a Melô do Corrimento.
Ah, vão lá e baixem tudo! Já!

6.10.04

Lullaby

hush little girl
sweet baby dont cry, tonight
daddy is here and he'll sing you a soft lullaby, tonight
why cant it all be like it was before
how can i explain why mommy's not here anymore

cause daddy likes porno and $10 whores
daddy gets wasted and robs liquor stores
daddy likes rubbing against little boys on the bus
i think thats why mommy left us, mommy left us

hush little girl
there is no reason to fret, tonight
don't mind the smoke, daddy just wants to forget, tonight
soon it will all be like it was before
any minute, she will walk through that front door

but daddy plays poker and drinks lots of beer
then he wants sex that involves mommy's rear
daddy has sores on his naughty parts oozing with pus
i think thats why mommy left us

please dont cry
i swear i'll try
to be here by your side

right after daddy gets home from the bar
visits his bookee
and steals a new car
he'll drive to the strip club
and if daddy plays his cards right
he'll bring home your new mommy tonight

escutem o Stephen Lynch

***

Calma filhinha
não há nada mais a temer
deixe de choro, papai está aqui com você
porque na nossa vida tudo mudou
como explicar porque mamãe nos deixou

porque papai fuma crack com umas depravadas
papai quando bebe assalta a mão armada
papai gosta de encoxar os meninos no metrô
acho que por isso mamãe nos deixou

Calma filhinha
não precisa se apavorar
esqueça a fumaça, papai só quer relaxar,
logo mamãe voltará pra nos abraçar
lavar toda louça da pia e deixar o papai ir pro bar

mas papai sai sempre com umas vagabundas
papai tem um fedor esquisito na bunda
Papai jogou no milhar toda a poupança do vovô
acho que por isso mamãe nos deixou

e papai chamava mamãe de vaca maluca
papai batia em mamãe com o taco de sinuca
papai queria que mamãe comesse o seu cocô
acho que por isso mamãe nos deixou

não, não chore
pode ser que demore
mas estarei sempre aqui com você

depois que papai voltar do boteco
um rolê no trafica
e der mais uns teco
vai passar no puteiro
e se ainda sobrar um dinheiro
ele trará uma mamãe pra você

lararai…

22.9.04

Coca-cola é isso aí (bis)

Chega um momento em que há muitas últimas coca-colas geladas do deserto.
Na realidade, você olha e só vê coca-colas geladas por todos os lados.
É um autêntico mar de últimas coca-colas geladas em que você quase se afoga.

E tudo o que você deseja é um pedacinho de terra seca para por os pés.

16.9.04

O Mapa da Celeste

Nas suas costas reparei que as pintinhas
tinham o exato arranjo da constelação de Órion

Olha aqui as Três Marias…
Essa grandota aqui deve ser Sírius, então…
Essa cicatriz não parece uma lua crescente?

e outras constelações foram descobertas
a do Pequeno Cíclope
a dos Gatinhos Sonolentos
a do Jaguadarte

eu deitava em seu colo
e me transportava ao céu

8.9.04

Are you ready to ROCK???

Ok, então aumentem o volume pois aí vem o Punk-Rock-Balada-de-Protesto-Contra-as-Baladas-de-Protesto que se intitula:

O rock precisa morrer

(um, dois… um dois, três, oito)

A cretinice mais careta
coisa mais imbecil do planeta

musiquinha bem reacionária
feita para uma gente muito otária

é um puta barulho dos infernos
pros babacas que se acham modernos

que só lambem o próprio umbigo
e então é por isso que digo

que
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer

O cabeludo cheio de piolho
que tem um QI de repolho

compra a guitarra ou a bateria
com a grana da vó ou da tia

fica tocando, como é que pode,
os mesmos eternos acordes?

e aí sempre acham que devem
assassinar stairway to heaven

por isso
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer

ou trilha-sonora de chacinas
ou serve pra gastar gasolina

pro soldado com walkman
no iraque ou no vietnam

pro babaca com o rádio no talo
e a grana do papai pelo ralo

ou pro retardado que se amarra
num mongol masturbando a guitarra
yeah

(Solo masturbante)

Por isso
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer

É realmente a coisa mais chata
esse barulho de bate-estaca

que se vende como rebeldia
no McDonalds todo santo dia

o rock é o jingle da conformidade
que chegou no auge da imbecilidade

Já teve seu momento de glória
mas agora vamos deixar pra história

(ralentando)

chegou a hora de despedir do irmão
e lacrar bem a tampa do caixão

vá em paz, já não era sem tempo
vamos espalhar suas cinzas no vento

pois
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer
o rock precisa morrer

Se o samba agoniza
o mambo chafurda
a valsa desmaia
o tango estrebucha
o rock deve morreeeeeeer

o rock deve morrer
o rock deve morre
o rock deve morr
o rock deve mor
o rock deve mo
o rock deve m
o rock deve
o rock dev
o rock de
o rock d
o rock
o roc
o ro
o r
o
o
o

o
(cof cof cof)

o

(Ploft)