2.7.06

Pollyanismo de ocasião

Lembrem-se:
"O patriotismo é o último refúgio dos canalhas".
- Samuel Johnson

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(Não contem ao Zagallo o resultado jogo. Não sabemos qual poderia ser a sua reação.)

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Afoguemo-nos em álcool. Afoguemo-nos em absinto. Afoguemos também o Parreira, o Ronaldinho e o Roberto Carlos, não no absinto, que estraga o sabor, mas afoguemo-os em álcool zulu, limão, açúcar e gelo agosto, ou setembro que é o mais cruel dos meses no hemisfério austral. Nós, apenas duas gotas de láudano permeando o absinto. A pátria é o Baudelaire de chuteiras e o futebol um paraíso artificial.

Lembro do professor Flávio di Giorgi contando como o velho Bauda gostava de beber nas horas vagas e como seu dia era composto essencialmente de horas vagas. Esse poema, o Recuillement, Baudelaire recitava para uma platéia bastante seleta: o seu estômago. Mais precisamente, a sua úlcera selvagem. Reparem que o poema é quase uma canção de ninar. A Dor não é uma inimiga, é uma companheira antiga, que precisa ser cuidada e embalada nas asas da "fée verte". Afogemo-nos em absinto. Afoguemos a Copa que acabou sem ter começado. Afoguemos, sobretudo, o Armando Nogueira, os ex-juízes boquirrotos, os futurólogos do passado e escutemos, meus caros, a doce noite que caminha.

Recueillement

Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille.
Tu réclamais le Soir; il descend; le voici :
Une atmosphère obscure enveloppe la ville,
Aux uns portant la paix, aux autres le souci.

Pendant que des mortels la multitude vile,
Sous le fouet du Plaisir, ce bourreau sans merci,
Va cueillir des remords dans la fête servile,
Ma Douleur, donne-moi la main; viens par ici,

Loin d'eux. Vois se pencher les défuntes Années,
Sur les balcons du ciel, en robes surannées;
Surgir du fond des eaux le Regret souriant;

Le Soleil moribond s'endormir sous une arche,
Et, comme un long linceul traînant à l'Orient,
Entends, ma chère, entends la douce Nuit qui marche.