7.7.06

Desvendando o Código de Endereçamento Postal

O capítulo 1 está aqui.

capítulo 16

O iceberg era, em realidade, o enorme cachalote branco que engolira o Chico Buarque e buscava vingança ou algum tipo de ressarcimento moral e/ou financeiro. Almirante Nelson rapidamente envia um escaler com seus melhores advogados que de pronto resolvem a situação. Os advogados ficam com 10% e a baleia com o papel de Antônio Conselheiro caso o Código Di Cavalcanti vire filme.

Na proa do navio, que dividia o mar em duas metades, Buluca sente o vento em suas faces, seus cabelos. Portugal lentamente se aproxima. Apoiado na amurada, professor Epaminondas começa a juntar as peças finais do quebra-cabeça. Professor sabe que o Comendador Pascácio, tio de Buluca, fazia parte dos Guardiões do Estandarte que protegia os herdeiros de Dom Sebastião das garras da Turcaiada dos Infernos. Contra o pôr-do-sol Buluca abre os braços em cruz.

— Professor, e se eu gritasse que sou "the queen of the world"?
— Talvez não fosse de muito bom agouro. Espere o navio chegar no porto. Buluca, quero saber mais sobre sua história, sua infância. Seu tio nunca lhe contou nada? Nunca lhe pediu para fazer nada meio fora do comum?
— Agora que você mencionou, sim. Quando menina, ele me via de saia colegial e meia três-quartos e pedia para desfilar para ele.
— Ah, um desfile, como os militares portugueses, marchando sobre solo africano, isso faz sentido.
— Depois me pedia para abaixar a saia e mostrar as nádegas para ele.
— Naturalmente procurando a marca de nascença em forma de pêssego, a característica dos descendentes de Dom Sebastião.
— Ele fazia isso todo dia quando eu voltava da escola.
— Claro, ele precisava ter certeza. Para confirmar a existência da pequena marca. Uma polegada ao centro na nádega esquerda…
— Depois ele me colocava debruçada em sua escrivaninha e começava a me bater com uma régua…
— Certamente para verificar se a pequena marca com forma de pêssego estava bem grudada à pele, afinal, a herança de Dom Sebastião…
— Depois ele vestia a minha calcinha sobre sua cabeça e começava a cheirá-la…
— …esse sinal de nascença é como um selo, um timbre, um atestado em cartório, passado de geração a geração…
— …daí titio abaixava suas as calças e rasgava toda minha blusa…
— …e o Comendador Pascácio deve ter feito de tudo para proteger a verdadeira descendente…
— … passava chantili em spray em todo meu corpo…
— …e sendo descendente de Dom Sebastião você seria, hoje, a Imperatriz de Portugal e de todo o Brasil…
— …então eu me desabrochava como uma delicada flor…
— …claro, e de Algarves, por certo, a Ilha da Madeira também, provavelmente…
— …aí, titio pegava a batedeira de ovos e começava a girar alucinadamente, se aproximando mais da minha…
— Hein?
— O senhor está bem, professor?
— Tudo certo, é só o pêndulo de Foucault que quase me escapou da calça…

Epílogo

— Buluca, depende apenas de você a restauração do Quinto Império.
— É mesmo? Bacana, aí.
— Assim que você pisar nas pedras brancas da Torre de Belém, uma Nova Era de Paz, Sapiência e Harmonia terá início. O Império do Futuro será o presente. Os povos estarão irmanados na Ciência e em Cristo. O Yin e o Yang. O Alfa e o Omega. Um novo mundo será forjado, uma nova realidade brotará das entranhas apodrecidas deste nosso mundo vil e conspurcado.
— Beleza. Por mim, tudo bem.
— É. Mas seria preciso confirmar a existência de sua marca de nascença primeiro.
— Quer ver a minha marquinha com forma de pêssego? Sei.
— Só pra confirmar, só pra confirmar…
— Tudo bem, professor. Eu mostro. Você consegue uma régua e o chantili?