18.2.06

Quando o Homem de Bucareste chegar

Serão tempos dos pulmões de areia e chumbo,
As sementes secarão nas palmas das mãos,
Colheitas se perderão, as frutas murcharão,
Nas casas, uma a uma, todas as janelas se fecharão.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

Ônibus e metrôs correrão vazios e sem direção,
Samurais de papelão e farrapos vagarão pelas esquinas,
Proxenetas se arrependerão, as igrejas lotarão,
Moleques se encharcarão de rum, éter e gasolina.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

Cíclopes reumáticos de eletricidade, serpentes de carvão,
Cães uivarão o Silêncio nas cidades, aves rastejarão,
Dunas de areia invadirão as escolas e prefeituras,
Um vento negro e viscoso soprará quente do sudoeste.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

Não haverá mais Páscoa
Não haverá café-da-manhã
Não haverá mais vitrines
Não haverá mais canções
Não haverá despedidas
Não haverá salvação

Anjos despencarão de suas coberturas,
Lágrimas de querosene as estátuas chorarão,
Silhuetas sujas e desesperadas peregrinarão
por água, provisão e lanternas em vão.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

O asfalto queimará, os bueiros, todos, vomitarão,
Motores soltarão urros furiosos e depois estacarão,
A Lua amarela sangrará, o céu se estilhaçará
Em agudas lâminas de concreto, aço e latão.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

E o Homem de Bucareste,
Com seu sorriso ancestral,
Tirará seus óculos escuros
Que cobre as órbitas vazias,
Acenderá um cigarro sem filtro
E nos consolará dizendo que está tudo bem
que não foi nada,
que já passou,
que a vida continua,
que tudo, tudo se ajeitará.

apenas pedirá para tomar um certo cuidado
pois comentam a boca pequena
que o Homem de Istambul
virá no final da semana.