16.2.06

um crime, uma ofensa a minha pessoa, uma agressão

Rudyard Kipling considerava entrevistas, de um modo geral, uma coisa absolutamente repugnante: "Por que me recuso a ser entrevistado? Porque isso é imoral! É um crime, uma ofensa à minha pessoa, uma agressão, e como tal merece castigo. Isso é desleal e mesquinho. Nenhum homem de respeito pediria uma coisa dessa, muito menos a concederia!"

Tendo estas retumbantes frases ricocheteando em meu crânio, decidi reunir a fina flor da imprensa local para uma coletiva, regada com muito suco de melancia e adubada com deliciosos space-cookies, no elegante jardim da casa de minha faxineira.


A Gazeta de Parelheiros - Em que idade tiveste a tua primeira relação sexual com horti-fruti-granjeiros? Houve reclamações do pessoal do supermercado?

Ratapulgo - Veja bem… (limpa a garganta) Ronald Golias já nos informava, no tomo terceiro de suas obras completas, que a política é coisa suja e rasteira. Eu concordo. Acho uma indignidade ficar discutindo questões políticas no próprio blog. É como criar porcos e ovelhas no tapete da sala. O lugar correto do comentário político é sempre do lado de fora, na caixa de recados do blog vizinho.

Jornal Falha de São Paulo - Quantas andorinhas são necessárias para carregar um coco da África para a Europa?

Ratapulgo - É uma pergunta capciosa. Pessoalmente creio terem sido feitos grandes avanços contra a corrupção durante o governo do PT. Sim, eu sei o que você está pensando. Não adianta fazer esse muxoxo. Eu também acompanhei tudo pela tevê, todo dia, como uma tia-avó se embebedando religiosamente com a novela das oito. Acompanhei com tal afinco que até comecei a fazer as contas: puxa, se no governo FHC um deputado, como o Ronivon Santiago, era comprado por 200 mil por votação e no governo do Lula um deputado passou a custar 30 mil por mês, quer dizer que houve uma economia espantosa de recursos investidos na corrupção dos parlamentares! Em um mês tem quantas votações no congresso? Umas 15, 20? Uma pechincha. Continuando nessa toada em pouco tempo os deputados já poderão ser comprados por três maços de Minister e dois sonhos-de-valsa por semestre.

Jornal O Estado de Espírito (Santo) - Como faz vossa senhoria para que seus cabelos fiquem sempre longos, macios e sedosos?

Ratapulgo - (descruza as pernas, coça o saco e volta a cruzá-las) Creio que a esquerda continuará firme e altaneira em seu novo papel histórico que é o de subornar políticos de direita para que aprovem no congresso projetos neoliberais.

O Nacional de Muzambinho - Qual é exatamente a diferença entre o Ralf Fiennes e o Liam Neeson?

Ratapulgo - Sim. O governo atual é de esquerda. O que não está claro se é da esquerda de quem vem ou de quem vai.

Metrô News - Em terra de olho quem tem um cego… errei?

Ratapulgo - Sem dúvida! (faz uma bolha de sabão com seu cachimbo). A Fernanda Young é o Diogo Mainardi sem calcinhas.

O Acendedor da Opus Dei - Por que todas as suas respostas tentam forçar uma conotação política? Por que essa ira santa? E essa saúde civil? What's your fucking problem, man?

Ratapulgo - A esperança é o único privilégio negado a Deus. Quem foi que falou isso mesmo? Eu anotei aqui num papelzinho e não lembro mais. Não sei se entendi direito, mas é bacana, né? (repete lentamente) A esperança é o único privilégio negado a Deus. (olha para o céu, suspira, olha para os entrevistadores, olha novamente para o céu fazendo a cara que Joey consagrou como "smell the fart". Depois faz um gesto amplo em direção aos jardins) Bom, meus caros, aproveitem o dia, usufruam das comodidades da casa. Temos uma piscina só de loiras, outra de ruivas e uma terceira de very-libertarians brunettes. Voltarei à minha hibernação. Se desejarem a qualquer momento falar comigo é só puxar essa cordinha que rapidamente levantará a grade que os separam de onze dobermans famintos. Obrigado. Até mais. Thank you, sao paolo!!