22.3.06

A corrupção como modalidade olímpica

in memorian

Assistindo aqui do alto da montanha o esforço de César Maia para conseguir concluir as obras para o Panamericano me deu essa idéia. Transformar nossa a desvantagem em vantagem e incluir a corrupção como uma modalidade olímpica.

Alguns argumentariam que corrupção não é esporte. Alegariam que a corrupção é apenas uma prática cultural endêmica assim como o gerundismo e a lipoaspiração. No máximo a corrupção seria um lazer, uma espécie de passatempo nacional como assistir novelas e chutar cachorro morto. Dificilmente poderia ser considerada uma modalidade olímpica.

Digo eu, no entanto, que a corrupção em seu state of art exige muita técnica, nervos de aço e sangue frio. Quem já foi parado por guardas rodoviários sabe que há até um certo timming envolvido. E esforço físico também. Reparem como suam nas CPIs os depoentes sem mandato de segurança. Transpiram como decatletas em seu último sprint.

A corrupção é certamente uma categoria esportiva como já provaram Alberto Dualib, Eurico Miranda, Edílson Pereira de Carvalho et caterva. E convenhamos: se o tiro ao prato, afogamento sincronizado e a peteca (ué, badminton não é peteca?) são modalidades olímpicas não vejo o porquê da corrupção não ser.

A única diferença é que a corrupção seria a única modalidade em que o Comitê Olímpico eliminaria todos os que NÃO se doparam.

O Brasil está muito bem treinado e teria chances reais de medalha nas categorias Superfaturamento, Tráfico de Influência, Desvio de Verbas, Compra de Deputados, Licitações Fraudulentas, Nota Fria, Nepotismo, Sonegação, Carteirada e Caixa 2.

Ganharia a medalha de ouro aquele que subornasse o funcionário com cargo mais alto no COI. No pódium os atletas molhariam a mão dos juízes para receber as medalhas — cópias de latão, claro, pois as originais teriam sido escamoteadas por um notório corrupto anônimo, o verdadeiro campeão.