27.8.03

flatterers look like friends, as wolves like dogs

Aduladores podem ser o pior inimigo. É certo que as costas sebentas dos opositores podem servir de escada. Mas também é verdade que a malta que agarra a barra da calça e se dependura nos sapatos de camurça dificultam a subida.

– Ei, Alexandre, fale-nos dos ateus novamente!
– Ah, de novo?! Tem certeza? Claro, claro, sweeties. Então deitem-se que Tio Alexandre vai contar de novo pra vocês a história dos Ateus-com-dentes-de-aço. Era uma vez...
– Oba! É verdade que eles devoram criancinhas?
– Sim, com suas bocarras repletas de cimitarras sarracenas envenenadas, sim. Bom... Era uma vez um velho muito mau, de barbas brancas e bigode preto, que queria acabar com toda a felicidade e riqueza do mundo por que ele era muito muito mau. Já disse que ele era mau? Pois então, ele era muito mau.
– Por que ele era tão mau?
– Alguma coisa que ele comeu, eu acho. Teve uma azia muito forte, daí ele ficou mau pra sempre e resolveu se vingar na humanidade. Escutem a historinha.
Os Ateus-com-dentes-de-aço foram criados pelo Velho Mau aos milhões num obscuro país soviético cujo nome até hoje ninguém civilizado conseguiu pronunciar. Eram híbridos de trabalhadores escravos, cachorros de Pavlov e restos defeituosos da produção siderúrgica local. Foram alimentados com fetos recém-abortados e doses maciças de haxixe.
– Que horror! E eles eram feios?
– Sim, como uma Maria da Conceição Tavares ao acordar. Enfim.. um dia quando derrubaram a Cortina de Ferro a praga dos Ateus inadvertidamente alastrou-se por todo planeta.
– Uhhh! Que medo!
– Pois é bom ter medo mesmo! Eles podem estar estar em qualquer lugar, no telhado, no porão, no armário, em baixo da sua cama... BOOO!
– AAHHH! Pára, Tio Alexandre!
– Pronto! Agora cubram-se bem e coloquem esse santinho do Escrivá debaixo do travesseiro que nada vai acontecer com vocês. Que já é tarde e o Tio Alexandre precisa ir trabalhar.
– Ah, Tio Alê, conta mais uma vez a história dos Ateus! Por favor! Por favor!
– Pfffff, outra vez?! Claro, pumpkin pies, claro. Era uma vez...