numa órbita não muito distante
quando a Terra não fosse mais que um brilhante pontinho azul
nós sairíamos de nossas cápsulas espaciais
no escuro silêncio do vácuo sideral
apenas nossa respiração ofegante
e o som de nossos corações
pulsaria ritmado em nossos ouvidos
nos olharíamos como os primeiros e os últimos
desligaríamos os cabos que nos ligam à nave
cortaríamos o último cordão umbilical
a derradeira despedida à civilização
e seríamos apenas nós dois
flutuando no Nada ao redor
nossos corpos orbitariam um em torno do outro
num lento balé de estrelas duplas
- Amo seus olhos como cinco luas geladas orbitando num gigante gasoso.
- Amo seus cabelos negros ondulando aos ventos solares.
- Desejo o Sol incandescente da sua boca.
- Desejo me perder em seu sorriso de constelações.
- Quero sentir a potência do seu propulsor.
- Quero me envolver nos braços de sua galáxia.
- Anseio sentir toda a massa de sua estrela de primeira grandeza
sendo sugada para meu buraco negro.
- Ah. Pois sou um escravo de sua gravidade. Deixe-me mamar na sua Via Láctea.
- Ai. Acopla agora. Acopla.
- Está sentindo o meu Pulsar?
- Sim, sim. Ejeta, meu amor, ejeta agora.
Nossas línguas se procurariam sedentas
se esfregando no vidro de nossos capacetes espaciais
E, no vácuo, abriríamos nossos trajes prateados
e numa ínfima fração de segundo
a tensão interna de nossos corpos latejantes
nos transformaria em pequenas partículas
diminutas moléculas
que enfim vagando juntas
poderiam se misturar livremente
se esparramariam por todo o Cosmos
e finalmente preencheríamos o Universo inteiro
25.8.03
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