12.1.03

db 29.

Que loucura. O Ratapulgo fez pacto com o Xico Chavier ou anda se consultando com
o Robério de Olodum. Bem que avisei à Selma que poderíamos sofrer intervenciones de hackers espirituais. Eis aí. Agora não adianta derrapar no leite jorrado. Estamos diante de um cara iluminado que lê psicografias bloguianas apagadas minutos depois de
publicadas. Cosa de lôco.

Depois dessa pedi ao Jorge que enrolasse um baseado mostruoso,
misturando ao cânhamo restos do entulho do muro de Berlim capturados
na nossa última parada. Jorge escolheu um pedaço de pedra com a
inscrição "Solange esteve aqui". Junto, dechavou um casal de prestobarba enferrujado doado por Anselmo, enrolando tudo numa página dos " Fragmentos de Sabonete" do Jorge Mautner. Escolheu a dedo o capítulo que trazia Jimmy Hendrix a caminho de Mozart, usando a prerrogativa heracliteana que os divergentes consigo mesmo concordam. Jorjão comprou a idéia, queria que fosse um baseado-kaos, que se fumado lembraríamos do tempo em que ficamos rodando em círculo - ou círculos, a gente ainda não descobriu isso - sobre os céus de Moçambique. Na hora de fechar deu a idéia de trocarmos a saliva pela mostarda, para que a coisa tivesse algum sabor. O grupo aceitou, acendendo a bagaça no fogo que saía de um dos bujões de gás do balão.

A coisa rodou na carioca. Anselmo teve o azar de tragar parte do plástico azul do seu antigo barbeador, mas o resto foi bem. A ponta enfiamos no congelador.

Celeste deu bandeira que aquilo tinha começado a pegar. Entrou com um assunto totalmente merda. Observando o azar de Anselmo questionou as diferenças do acaso. Aquela velha estória de por que algumas coisas acontecem para uns e para outros não? Ignoramos a menina e fomos à varanda da cestinha respirar o ar de New Jersey.

- Uia!, gritou Jorge.

Anselmo - Olha o quê?
Jorge - Aquela luzinha.
Anselmo - Quê luzinha?
Jorge - Aquela.
Anselmo - Não tô vendo luzinha nenhuma.
Selma - Eu também não.
Jorge - Não?
Selma e Anselmo - Nãos.
Jorge - Ali. Bem ali.
Selma - Ah, verdinha?
Anselmo - Ah, é.
Jorge - Não, é azulzinha.
Selma - Ah, a azul.
Anselmo - Qual?
Selma - A azul.
Anselmo - Ah.
Jorge - Muito louca, né?
Selma - Muito louca.
Anselmo - Mais ou menos.
Selma - É, não é tão louca assim.
Jorge - É...

Após um breve silêncio.

Eu - Porra Jorge, você tá em pé?

Silêncio.

Celeste - É, tem certas pessoas que tenta consertar as coisas no meio da estória porque se esquece das características básicas dos personagens. Daí fica essa zona. Toca a enfiar frases no diálogo que não tavam no contexto dando uma bandeira de descaso terrível.
Eu - Tudo bem, Celeste. É comigo, né?
Celeste - Claro, porra. Esse seu diário tá com barrigas absurdas. Personagem merece respeito. Até os nossos nomes você esquece.
Eu - Isso foi o Ratapulgo quem trouxe à tona. Eu tinha apagado essa parte.
Celeste - Uma hora é o Ratapulgo o culpado outra hora é a manguaça do reveillon.
A gente merece respeito.

Celeste tirou um batom vermelho do bolso e escreveu em sua testa a palavra respeito
de trás para frente. O resto do grupo concordou com ela, passando todos a escrever respeito em suas próprias testas e a me olhar com aquelas caras de ambulância. Mais uma vez embichei.Virei as costas para o grupo e fiquei observando uma luzinha laranja muito louca que piscava nos os céus de New Jersey.

Não gosto de briga.