12.11.02

O tempo cura tudo sim. Eu me lembro sentada no banco de trás do táxi do meu pai, um fusca, tinhamos ido comprar uma offset Romayor e aquela foi minha primeira vez no Rio e lembro bem de quando passamos pelo elevado Freyssinet. Eu tinha 6 anos e olhei para aquele pedaço de cidade da mesma forma que o fiz 27 anos mais tarde.

O Rio de Janeiro é um mosaico rico, detalhado e intenso. Não há nada que fira as vistas. Até mesmo o feio e o bizarro ficam bem, fazem o conjunto todo ser harmonioso.

Olhe bem, olhe as pessoas, olhe o mar ali na frente, essa gente caminhando no fim da tarde, aquele menininho de shortinho vermelho que persegue a onda, o caminhão percorrendo a areia esvaziando os latões cor de abóbora. O Rio é real, palpável, esta acontecendo naquele momento, não deixou para amanhã ou depois. Dá a sensação de sangue que pulsa nas veias. Faz a gente se sentir vivo.

E minha vontade era andar, andar, andar dia e noite, até entender a geografia e conhecer cada rua desta cidade. Quero subir e descer os morros, quero me fartar com as cores das nuvens no céu que parecem que foram pintadas a mão, quero sentir aquele gelinho na boca do estômago ao olhar as ondas quebrando violentamente lá de cima do Arpoador, as nuvens abraçando o Dois Irmãos, os bondinhos no Pão de Açucar subindo e descendo, os meninos jogando futebol na praia de Botafogo, o cachorro que esta passando pela grade do cemitério dos Ingleses, o homem que esta sentado na porta de uma Igreja Evangélica na rua do Livramente, a igreja vazia, toda branquinha com cadeiras azuis, e mais, os Arcos da Lapa, cinzentos, a chuva que cai, que não perdôa, os sobrados da rua da Alfandega, as capivaras que vivem amigavelmente com os gatos no Campo de Sant'Anna e o pavão branco, ali, majestoso, e os mendigos dormindo nos degraus e uma preta-velha, toda de branco sentada no chão, segurando um quadrinho de Oxum, de quem dizem sou filha, tirando um cochilo no meio da Nossa Senhora de Copacabana, com todo calor do dia. E a qualquer momento você olha para cima e vê o Redentor, os braços abertos. Abre teus braços e descobre tudo. Abre teus braços.

escamoteado de s t r i p p e d e x p o s e d