26.12.02

Como ninguém saiu do barco até agora e também ninguém atende o celular, tomei coragem e decidi:

Vou entrar lá.

Já peguei o laptop da Celeste, uma medalhinha de São Cosme e Damião e um pacote de biscoito maisena.

Boa sorte pra mim.

Se ninguém tiver notícias minhas durante uma semana, por favor liguem para a Gaby e digam que ela sempre foi a mulher da minha vida. Obrigado.

23.12.02

AGORA ENTENDI TUDO!!!!!
DESCOBRI AONDE ESTÃO OS CARAS!!!!!!

Que Paquetá o cacete! Estavam aqui o tempo todo. Debaixo do meu nariz!

Sabem a carteira que eu fui pegar no Galpão do Zé lá no Glicério? Pois é.
O Waldir (sempre com aquela cara de entojo) entregou a bendita pra mim. Ele tinha passado só um paninho por fora, por dentro ela estava toda melecada com aquela gosma verde do ponche. Quando eu fui dar uma geral no conteúdo pra ver o que dava pra salvar (todos os cartões sobreviveram, mas o talão de cheques ficou uma coisa muito triste) eu reconheci o cheiro daquela gosma. NÃO era ponche de abacate. Aquilo é uma batida de cogumelos alucinógenos. Igual àquela que o Zé Luiz tomou antes de descer a Estrada Velha de Santos de carrinho de rolemã. Naquele dia o Zé também não contou nada pra mim e acabei descobrindo pela Sandra que entrou na minha casa - totalmente chapada - pensando que era um cabeleireiro e pediu um tingimento roxo.

Daquela vez me lembro do frio que passamos de noite na Serra do Mar procurando o Zé com umas lanternas vagabundas na neblina. Lembro-me também mais tarde do Zé rindo feito um arara no cio, ainda sob os efeitos dos cogumelos, enquanto eu tomava três injeções anti-rábicas na barriga. Se um chazinho tinha feito tamanho estrago na sanidade já abalada do nosso amigo Zé Luiz, imaginem o que não fez essa gigante tigela dessa pasta de cogumelos?

Eu já disse aqui que o Zé Luiz é um débil mental de beijar PM da ROTA na boca durante batida, mas não imaginava que ele chegaria a esse ponto. Sabe os confetes, aqueles molhados, espalhados pelo Galpão? Eram cartelinhas de LSD. Ninguém me contou. Eu fui lá no Galpão e vi. Ainda tinham várias espalhadas. E ecstasi, provavelmente. Ai, eu cismei. Cheguei mais pra perto daquele barco e comecei a escutar ruídos meio abafados: risadinhas, resmungos, às vezes choramingos...

Sabe o que aconteceu? O Zé, o Anselmo, o Jorge, aquela menina metaleira filha da chacrete, que eu nunca lembro o nome e a Celeste entraram na porra do barco-cesta-de-balão e estão lá dentro até agora!!! Como é que eu sei? Eles estão todos vestidos com os macacões térmicos nas fotos Polaroid pregadas no mural de aviso do Galpão. Todos com um sorriso de beatitude bastante suspeito (exceto o Zé que estava com cara de quem ia espirrar). Provavelmente completamente equipados dentro do balão com comida para mais de três meses, se bem me lembro do manual.

Bati algumas vezes no casco e não obtive resposta. Bati com mais força e juro que ouvi gritarem lá de dentro: "Capitão, estamos sendo atacados! – São os mísseis de Vardok, ele não desistirá! – Tenente Anselmo toda força para estibordo!" e depois uma gargalhada que mais parecia um choro. Ou vice-versa.

Não sabia se chamava os médicos, os bombeiros, os australianos ou um advogado pra mim. Mas quando comecei a escutar cantigas de roda vindas lá de dentro acabei me tranqüilizando. Resolvi voltar pra casa. Amanhã decido o que fazer. Afinal, eles não vão pra lugar nenhum. Espero.

21.12.02

Acharam minha carteira. Waldir, o zelador do Galpão, disse que encontrou ela dentro do ponche (yechh!).

Passo no fim da tarde para buscar, assim que tirar o gesso da perna.

Fora isso, nenhuma notícia do Zé Luiz.
Liguei até para o pronto-socorro municipal de Paquetá.

No news is good news. Deve estar tudo bem.

Eu acho.

20.12.02

Quer saber? Tá todo mundo em Paquetá, né?

Estou mandando o manual por email pra vocês. Mandei uma cópia pro site dos australianos. Estou livre.

Qualquer coisa vocês sabem onde me encontrar:
Na última cadeira à esquerda do cine Lumiere II com o gesso apoiado na cadeira da frente, comendo fandangos murchos.

Evoé. Aí vou.

18.12.02

E ela levou a carteira também? O meu celular ela também levou, e o do Zé não responde desde que a Nossa Senhora Aparecida apareceu. Quanto ao galpão, ninguém sabe, porque o pessoal da ZL baixou lá e fomos todos pra Paquetá. Eu o Zé e os cara.
Dá um pintão.
E mais uma coisa:

CADÊ MINHA CARTEIRA???
Pelo que soube a Baixada do Glicério inundou de novo.
Será que o sumiço geral tem a ver com isso?

Geralmente sou eu o primeiro que eles chamam nessas emergências.

O que está acontecendo??
Voltei pra casa de taxi.

Hoje não consegui falar nem com o Maurício, nem com o Zé, nem com ninguém.

Os telefones só na caixa postal.
Cadê todo mundo!!!!!!!

Alo-ou........... ...........

17.12.02

E o Nelsinho contou:

--- Fala moçada !
Pô faz tempo que agente não se fala.Deixa eu contar uma coisa louca que eu vi ontem. Eu tava na avenida Paulista...( fui comprar um sonsinho de natal pro João Pedro )... e enfrente ao Conjunto Nacional , tinha uma tribo muito loca . Eram mais de dez figuras , com uma espécie de uniforme muito incomum , tocando uns intrumentos mais locos que eles ( sonzaço ) .
--- Bem ...! Aí , eu perguntei pro pessoal em volta,da onde eram aquelas peças raras. Me disseram que era de algum lugar perdido no norte da Africa e que vieram ao Brasil, atrás do nosso glorioso futebol .( uma tribo fazendo turismo ... que maluco heim !? ) .
--- Meu chapa , o som dos caras era maravilhoso, vibrante , e eu me lembro bem da frase em um dialeto estranho que eles gritavam repetidamente ... era mais ou menos assim :'' SOTNAS OÉ ALOB A ÁD MEUQ AROGA ." --- Genial !!
É mês? Tem TV no balão? É o balão mágico? Quem é a Simoní? Cadê o meu chucola?

16.12.02

Mas a histó(e)ria do Flávio, pra variar, não era assim exatamente, fiel à realidade. De fato teve uma puta festa, de fato o Zé nem deu um toque, de fato tinha um monte de confetes pelo chão e de fato o Flavinho apagou, mas acontece que ele esqueceu de mencionar a presença de Anita.
Anita era um lêmure fêmea com uma tendência tênue à ausência quase total de paciência. E ficou sem saco daquele papinho dele e deu um chapéu nele. Acho que foi Rupinol.
E quando ele viu aquela roedora cantando anjuuuuu pra ele, ele pirou o cabeção e jurava por deus que não queria voltar pra casa.
Larguei lá mermo!!!
E ele não contou pra vocês que me ligou chorando que a coelha tinha tirado uma rolinha da cartola na hora agá. E ainda roubou a carteira dele.
Pode?
Olha o que eu achei no bardotonho.blogspot.com (flávio, eu não sei inserir link nesta mierda...):
Viagem pra Piri:
Descobrimos q o efeito da maconha nos cachorros da cidade causam um efeito suicida!!!
hauahaahauhaua.....foram uns tres ou quatro cachorros tentando se matar atropelados.
Um deles simplesmente parou no meio da estrada de costas para nós e soh deu uma olhadinha marota pro carro, como quem diz:"Vai , passa por cima!"
Foi o mais comédia!!!
Como até eu tirar o gesso eu não posso dirigir, o Maurício passou aqui e me levou para tomarmos uns gorós depois da chuva. Fomos no bar do Geraldinho. Enchemos a lata, observamos a fauna do local e discutimos muito Led Zeppelin, acupuntura e a bunda da Kelly Key. Quando deu umas três da manhã decidimos, por unanimidade, que deveríamos ir até o Galpão do Zé Luiz, no Glicério, para mijarmos dentro do Balão.

O Maurício estava muito briaco e minha bexiga queria estourar, mas minha experiência de co-piloto acabou sendo bastante útil e, depois de algumas tentativas, conseguimos encontrar as chaves, o carro, a porta do carro, a ignição, o câmbio, a embreagem, a rua, a calçada, a rua novamente, uma avenida, uma viatura do DSV, a carteira de motorista, duas notas de cinqüenta, a Radial Leste e por fim o Galpão. Depois de abrirmos os portões e alimentarmos a cachorrada que não parava de latir, acendemos as luzes do Galpão na chave geral e surpresa: Aparentemente ali houvera uma festa. Uma bela festa.

Eu já comentei aqui que o Zé Luiz é um débil mental de escovar os dentes com soda cáustica. Contudo também comentei que ele é gente finíssima e bastante generoso, características que tornavam estranho o fato de não termos – nem Maurício nem eu – tomado conhecimento dessa festa no Galpão. Principalmente eu que estou há três dias traduzindo a porra do manual dos australianos!

Além do caos habitual do Galpão somavam-se confetes molhados e serpentinas pisadas, algumas mesas de bar dobráveis, uma grande cumbuca com o que parecia um ponche de abacate, papéis de brigadeiro, máscaras do Bush e Bin Ladden, centenas de latinhas de cerveja, um sutien GG e um vômito. Tudo isso em torno do barco de fibra de vidro, agora transmodificado em cesta gigante de balão. Aproveitei para dar a mijada nele.

O Maurício não estava nem aí. Já tinha encontrado uma garrafa de White Horse e estava de papo pro ar cantarolando baixinho o Ratatanga. Eu puxei uma cadeira e comecei a meditar sobre aquele esdrúxulo barco aéreo enquanto algumas cigarras cantavam, o Maurício ressonava e uma aragem mais fresca entrava pela porta do Galpão. E também acabei capotando.

Acordei hoje de manhã com o Wadir, o zelador do Galpão, me cutucando com o esfregão e com cara de muitos inimigos. Eu, estatelado no chão, como um gambá atropelado duas vezes, só consegui balbuciar:

- E o Maurício, aonde está?

O filho da mãe tinha me deixado lá.
Diário de bordo. 25º dia.

Contei para vocês que uma rajada de vento levou a frasquerinha do Anselmo?
Pois é. O Jorge chegou a esticar o braço mas não deu. Foi uma caixa com
3 embalagems de Signal, um tablete azul de Prestobarba, duas escovas
de dente de cerdas macias, um cortador de unha, um espelhinho daqueles
de feira - moldura laranja e uma medalhinha de São Benedito.
Anselmo chorou copiosamente. Lembrou da mãe, da irmã e de um amigo
da faculdade que recomendou que tivesse muito cuidado nessa viagem.
Anselmo se formou na Uninove. Defendeu uma tese, mas o
juiz mandou voltar. Ficou apenas com o diploma. Selma se mostrou irritada com
a situação. Estava achando aquilo muito viado. Colocou um Judas Priest
na orelha e começou a lamber as tatuagens do seu corpo. A cor do céu
lembrava tarde de inverno.

14.12.02

MANUAL DE INSTRUÇÕES - Mutipropulsor de plasma ionizado.

(...)

Cap. 7.3 - Dos procedimentos de segurança em caso de superaquecimento:

Quando a luzinha do coiso começar a piscar, faça o seguinte:

1- Aperte o botãozinho debaixo do coiso várias vezes.

2- Gire o breguete do lado do troço redondo até o barulho passar de pi-pi-pi para uón-uón-uón-uón.

3- Se a bagaça continuar piscando, puxe o negócio comprido até mais ou menos o meio e dê uma chacoalhada. Aperte bem aquele trequinho que coisa o negocinho preto.

E se ainda assim a luzinha continuar piscando, dê uns tapões bem fortes do lado do aparelho. Geralmente funciona.

Caso nada disso resolva, puxe o plug da tomada.

(...)

12.12.02

Ichhh Que Boston hein?

Diário de bordo. 23º dia.

Henrique Meirelles?

Diário de bordo. Último dia submerso.

Quero avisar meus amigos que me mantiveram esquecido no fundo desta joça que passei
a maior parte do tempo comendo lagosta e camarão. E que se fodam os fuxicos que rolaram aí em cima sobre a minha conduta e personalidade. Sou um homem de bem e ponto final.Agora é o seguinte, vou voltar praquele balãozinho muito mais mordaz, áspero. E prometo enfiar todos os comprimidos de ectasy no cu de quem inventar festinha pra comemorar porra nenhuma. A viagem do ecstay acabou. Tomei muita água e agora tô aqui. Celeste disse que sentiu saudades. Selma também. Jorge continua agachado. Anselmo chora.Eu não quero nem saber. A bicha vai pegar.
Foram anos pesquisando Sunny. Tantas versões... do Léo Jaime ao George Benson eu achei que tinha visto tudo. Mas as vezes a cobra só não morde porque está mesmo perto demais. Puta o Sunny do Stevie Wonder é do caralha! Uma espécia de Austin Powers de gaita. Gaita surpresa. Gaita lembrança.
Bom,
tá aqui o calhamaço, o manual que os gringos fizeram.
E aproveitando que eu tô com a perna pro ar mesmo, mandaram eu traduzir.

Vou fazer o seguinte: vou colocar o texto naqueles sites de tradução automática e foda-se. Huahuahua.

Enquanto isso o Zé foi pro Santo Daime em Atibaia.
É blogger.
Blog o quê?
Bloggerrrrrr.
E ganhei uma garrafa de grapa. Grapa surpresa. Grapa lembrança.
E assim que chegou a tropa, todos perderam os acentos. E suas roupas descosturadas perderam também os pontos e nunca mais se acentuou ou se pontuou nada nem virgula nem ponto de exclamacao nem cedilha nada porra nenhuma mas mudando de assunto a mina me deu um cartao genial a isabel o cartao se transforma em uma maquina fotografica e ele começa a mostrar a imagem pervertida como dizia aquela menina que dizia tambem que um dia era da caca e outro da pesca ou entao que um dia era da caspa e outro da perva sem pontuacao tudo fica igual.
Mas graças a deus que tem pontuação. Ufa!

10.12.02

Como o Zé Luiz consegue tanto dinheiro? Como gasta tanto em extravagâncias? você perguntaria.
Essa pergunta tem múltiplas respostas. Provavelmente todas corretas. Você decide:

a) O Zé ganha muito bem na W/Brasil, trabalha quando quer, é o braço esquerdo do Washington.

b) Ele tem pais miliardários, de família tradicional e que lidam com pedras preciosas.

c) Conseguiu sua independência financeira ao produzir uma peça, escrita pelo Miguel Falabella, com o Ney LaTorraca, Paulo Gorgulho, Antônio Fagundes e Daniele Winitz, chamada Enchendo o Rabo de Dinheiro.

d) Comprou ações da Intel e Microsoft em 1986, muitas ações.

e) O cara nasceu com a bunda virada pra lua. Qualquer coisa que o Zé Luiz faz acaba dando certo (para ele pelo menos). Se decide escrever poesia, recebe o Prêmio Nestlé de revelação. Se decide fazer cooper acaba matando o Luiz Eduardo Magalhães. Se cisma em voar de ultraleve na Antártida, ganha um prêmio pelas fotos aéreas. Se encasqueta de ter aulas de tango, acaba comendo a Luana Piovanni. Assim não é possível!

9.12.02

Olhei pro mar e pensei: "Como é que que eu vou entrar nessa putaria?"
Tá foda, meu! Tá foda!...
Entre o céu e as águas, fico aqui parada, guardada na minha janela.
A mina lá do prédio da frente, aquele que fica atrás do que tem a sala de 6 metros de largura, não pára de andar na esteira.
O negócio é que o movimento que ela faz, podia ser qualquer coisa, na verdade.
Já o pessoal da varanda não. Tem sempre 6 pessoas jogando carta lá.
Ontem a costureira estava trabalhando à noite. Fazia tempo que isso não acontecia.
As cortinas lá, protegendo.
Antes achei que ela pintava.
Depois da luneta é que vi que ela costurava.
Mas o Natal é essa merda mesmo.
Na sexta, o casal do 12º ficou pindurando as luzinhas.
O cara tava de cueca, mas o Maurício achou que ele tava pelado.
De pelanca já me basta a faxineira maluca.
Vamos ver se acontece alguma treta mais emocionante no flat da esquerda.
Tudo lesma lerda...
Daqui a pouco vou me mandar pro fundo do mar.
Quem sabe as coisas chacoalham mais por lá.
A Injuriada.

8.12.02

Sábado eu fui lá.

Mesmo com a perna engessada num saco plástico, para protejer da chuva, fui lá no Galpão do Zé Luiz na Baixada do Glicério. Seu Juvêncio me deu uma carona na CB400. Disse que os australianos estavam reunidos com o Zé no galpão.

O Galpão fica numa zona meio decadente mas é enorme. Parece que era uma fábrica de sabão. Tem várias correntes velhas e trilhos pendurados no teto. Nesse espaço o Zé vem acumulando trilhares de tranqueiras, rescaldos de aventuras intempestivas e delírios maníacos.
A coleção de badulaques, adquiridos das mais variadas maneiras, inclui:
- Estrutura de um carro alegórico da Vai-Vai com cabeças de unicórnio de isopor.
- coleção de caiaques multi-coloridos
- Três Ford Galaxies sem motor
- Um Maverick v8 laranja, teto de vinil, sem rodas
- Uma réplica (de 3 metros) da estátua da liberdade vestida de Carmem Miranda
- 10 rolos de filmes do Oscarito numa geladeira
- Um mapa gigante da cidade de Budapeste (meio mofado)
- Uma pele de zebra esticada na parede oposta
- Um ultraleve (inteiro, funcionando)
- diversas coleções incluindo discos de 78 rotações e espadas japonesas
- Os cenários completos do 3º ano do Cassino do Chacrinha
- 7 cachorros (dois filas, um ruskie, 3 martins farejadores e um poodle-toy)
- Uma perna mecânica, pertencente ao João do Pulo
- uma grande embaladora de frutas coreana

Todas estas coisas estão acumuladas em ordem mais ou menos cronológica. Ou seja, o Zé Luiz adquire (compra, rouba, empresta) mais um trambolho e todo o resto é empurrado um pouco mais para o fundo, de modo que libere na área perto dos portões uma boa clareira (utilizada como pista de dança e aulas de Taekwondo). Desta forma eu imagino que numa camada arqueológica inferior da pilha de tranqueiras seria possível encontrar o berço de ninar do Zé embaixo do seu primeiro kart.

Pois nesta clareira, na entrada do galpão, encontrei uma equipe de pessoas uniformizadas com soldas faiscantes, placas e plantas. Elas se reúnem em torno de um barco verde camuflado que eu já conhecia. Essa embarcação, feita fibra de vidro feita especialmente para o Exército Brasileiro, serviria para ser transportada de helicóptero para determinadas áreas de difícil acesso da Amazônia e do Pantanal mas acabou sendo leiloada pela extinta Engesa (o Zé queria mesmo era um protótipo de tanque de guerra).

Os australianos, acabei descobrindo, são campeões mundiais de balonismo na categoria horda e estavam transformando a embarcação do Zé numa, sei lá, cabine, cápsula, cesta de balão monstro. Me lembrei imediatamente do Peter Potamus e Tico Mico que voavam em um balão parecido (ou será que era a turma do Zé Colmeia?). De qualquer forma o Zé Luiz tinha visto muito Hanna-Barbera.

Assim que cheguei o Zé Luiz se aproximou todo esfuziante, levantou a máscara de soldador, e apontando para a gerngonça exclamou:

- Ratapulgo, chegou o momento de conhecermos o mundo de outra perspectiva!

Naquele momento, olhando os caras trabalhando em torno do barco, o cérebro travou e eu só conseguia pensar:
"Oh céus, oh vida, oh dia, oh azar...."

6.12.02

Caro amigo zé Luiz,

Agora vejo que você começa a tocar a superfície (não ainda o fundo) do azul. À medida que você se aprofunda a luz diminui, o frio aumenta, mas estamos muito confortáveis por aqui, na areia rala do fundo. Leia Ulisses, cheire vinícius. Depois de algumas horas, eu e a mulher do Herbert, conseguimos acomodar a banheira (sempre cheia) do poeta perto da gente, e ele não para de reclamar da falta de whisky (vê se traz), saravá!
Claro que o pessoal do Kursk tem muita Vodka. Todo dia eles chegam com umas três garrafas debaixo do braço. E nunca respondem quantas eles ainda tem. Sempre aquele papo de Stolaya Procshasca, que significa alguma coisa como: De onde esta veio, tem muito mais...
pinta aí...

5.12.02

Diário de bordo. 21º dia.

Vejam vocês, Maurício e Ratapulgo.
A verdade aqui entre o iodo e o sal é única.
Estou de colant preto da Ralph and Rommel.
Os tubarões só querem saber dos golfinhos.
Estou me sentindo só.
Parece que fui transferido pra Penitenciária de Presidente Prudente
Os Alkimins estão chegando
Não estuprei nnguém
As lulas comem salmão
O blue merlin é ilusão da Barsa
E eu não vou aguentar nenhum cd do paralamas se algum ultraleve cair por aqui
Na verdade, estou lendo Ulisses
E apalpando a ex-namorada do filho do Abílio
O fundo do mar é escuro
Cadê o Picon?
Recebi várias mensagens do Zé Luiz (muitos emails repetidos e um telegrama animado com um palhaço-médico, quase dei-lhe um murro no nariz quando começou a batucar no meu gesso) avisando que ele ficou em quinto lugar na etapa de Birigui do Campeonato Brasileiro de Balonismo.

Já parabenizei - várias vezes - e aproveito a oportunidade de fazê-lo em público novamente. Meus parabéns, Zé, ótimo, muito bem, você é o Imperador da Queijadinha Amarela!! Pronto.

Agora, esse papo de ir para o Galpão na Baixada do Glicério, só pra você assinar meu gesso, está meio estranho...
(reticências triplas) ... ... ...

4.12.02

Ainda estou com a perna engessada.

O Zé Luiz, com a publicidade do pouso forçado, agora tá que tá. Foi ontem para Pindamonhangaba e tb vai participar de uma etapa aí do campeonato brasileiro de balonismo.

Jorge disse que ele contratou uma equipe australiana, com engenheiros, nutricionistas e o escambau (?!?), mas ele está todo cheio de segredinhos. Melhor assim: prefiro não ser incluído em seus planos mirabolantes (haha, até parece!!).

Enquanto isso, aproveitando a calmaria, vou dar uma garibada no Copy & Paste e ver os DVDs do Eisenstein.



Diário submerso nº zilfs.

Romeu fez comentários jocosos, falava que o triunfo da poesia pura poderia
ser reacionária e que era melhor eu fazer as pazes com Mercúrio. Podei o
purismo de Romeu. Bani-me. Saí de mim com os outros. Me apaixonei. Embichei.
Joguei um véu branco sobre mimesma. Traguei o cigarro do zelador.
Assei linguiças.

Os patins ainda repousavam no quintal. Vesti-os de risólis e deslizei.
Disse eu assim molhada: escorreguei com lábios de mentira: um romance
inadequado.

Urge
quando a garrafa
vestir jarro

A primeira demão ficou muito boa.


3.12.02

Diário de bordo. 1ª dia submerso.

Puta falta de ar!
Diório de bordo. 20º dia.

O Jorge não quis contar. O fato é que durante a parada do êxtase
eu me lancei ao mar. Então, se agora as palavras chegarem molhadas,
pega um paninho.
hahaha.
pára com isso, seu Juvêncio, todo mundo sabe que é você!
hehehe.

abraços,
ratapulgo

2.12.02

É. Isto sem falar no zepelin da Globo.
Mas o caso do zepelin está absolutamente legalizado, uma vez que o alvará (recentemente renovado pela prefeita) foi emitido com a anuência da delegacia de mares e ares da comarca de São Sebastião (que é a comarca correta neste caso).
Sinto informar-lhes que o fato ocorrido no teto da assembléia (muito pouco noticiado nos jornais desta semana passada) configura crime contra o espaço público aéreo, cabível de multa, apreensão do veículo e encarceramento.
A ABB não é (e nem nunca foi) credenciada para emitir alvarás de qualquer gênero e Rodolfo Juvêncio de Lima (Seu Juvêncio) é um impostor procurado por pelo menos 32 municípios do interior de Minas e São Paulo.
Caso este desserviço à comunidade continue eu pessoalmente pretendo mover uma ação contra os infratores e coniventes.

Atenciosamente,

Delegado Peixoto
E para todos que escreveram perguntando da legalidade do vôo de balão dentro do perímetro urbano de uma cidade como São Paulo, informamos que essa curta viagem foi supervisionada pela ABB (o seu Juvêncio é um dos fundadores) e obteve a aprovação prévia do Serviço de Proteção ao Vôo. O SPV nos esclareceu, inclusive, que este seria apenas o segundo vôo de balão na história (!) que sobrevoaria a cidade de São Paulo.
O balão, que parecia desgovernado, acabou pousando algumas dezenas de metros mais adiante no teto da Assembléia Legislativa de São Paulo. Dizem que o deputado Afanásio Jazade ficou bastante impressionado e até teve uma ereção quando viu os peitões da Ellen Roche passando pela janela do gabinete, mas não sei se é verdade.

O Jorge depois veio me informar que como o pouso foi considerado perfeito para um balão pilotado por apenas uma pessoa, o Zé Luiz, em vez de ir para a cadeia, terminou por RECEBER O BREVÊ DE PILOTO.

Vamos ver se o hospital me deixa ficar aqui mais uns meses.
E, lentamente, uma a uma, as garrafas foram caindo.
Calangos
E o barbeiro se apriximava dizendo:
- I´m going to shave your soul...
E ele me mostrava uma embalagem vazia de prestobarba (aquele da primeirafaztchan). E o comercial acabava com uma dezena de gremlins na fruteira e os dizeres "É barbada!!!" e a mulher do concorrente aparecia tentando (em vão) eliminar uns pelinhos indesejáveis... com o produto do marido dela. o du caralho é que ela é ação e personagem.

- Mas larguei esta vida. Comercial não orna. O bom mesmo é filmar em 16mm com um orçamento de R$32.000,00!!! Isto é do caralho!
Estou agora preparando um documentário sobre a vida da Eureka.
- Desculpa amigo, mas eu acho que você devia pensar e fazer alguma coisa mais importante, não acha?
- Mais importante que a vida da Eureka!!!!
- Sei lá... a história do Rodrigo pessoa...
- O escritor?
- Não o cavaleiro.
- Não conheço... Mas a Eureka é muito mais que ele.
- Cavaleira?
- Como assim, a Eureka?
- Olha amigo, eu nem lhe conheço, mas tu é chato pá dedéu hein... Quem é o bosta da Eureka que cê tanto fala...
- Eureka, amigo. Uma das 4 maiores empolhadoras de Presidente Prudente e região. É mais de dúzia por hora... tudo branquinho.
- Caralha, mais de 120 por dia?
- É.. e tamo fazendo em película. Tá lindo.

1.12.02

Estou escrevendo do laptop da Celeste aqui no hospital. Não quebrei a perna, só torci o tornozelo, mas tive que engessar a perna assim mesmo.

Tenho que admitir, a foto do Ibirapuera tirada do balão ficou ótima. Como nesse blog não está aceitando imagens, confiram as fotos na (atual? próxima?) edição da Trip. Reparem na minha feição de desespero agarrado às ferragens amarradas na corda, tentando não olhar para o parque 20 metros abaixo. A seqüência de fotos do Zé Luiz em que eu estou caindo no lago também ficou ótima.

O trepa-trepa estava meio enferrujado e, no segundo tranco da corda do balão, metade da ferragem foi alçada pelos ares. Crianças gritavam tão agudo que só os cachorros escutavam. Contrariando todos os instintos de sobrevivência eu agarrei nas barras do trepa-trepa (opa!) e fomos todos para cima.

É óbvio que não olhei mais para baixo e só consegui deduzir a altura que alcançamos pelas fotos do Zé, mais tarde, no hospital. Eu gritava para o Zé, que apenas dava muita risada e ouvia o Seu Juvêncio berrando "Solta, solta logo". Como eu cerrava os olhos com mais força tentando lembrar alguma reza (mas a música em alto volume do Padre Marcelo não deixava me concentrar) não queria largar de jeito nenhum as ferragens do trepa-trepa. O Zé começou a tacar algumas coisas que ele tinha no balão em cima de mim pra ver se eu me desgrudava. Quando finalmente a embalagem de dois litros de Gatorade acertou minha cabeça eu acabei soltando e despenquei no lago. Só escutando as gargalhadas do Zé Luiz.

Diário de bordo. 19º dia.

Considerando o estímulo como uma emissão de energia sonora de módulo constante e frequência e tempo de emissão variáveis, eu e Anselmo nos dirigimos ao computador, a fim de localizar o Maurício para que a questão de nosso GPS fosse solucionada.
I = Kft. Pela lei de Fechner S = LI + C, ou S = Lf + Lt + C.
Como a sensação é saturável, me explicou Anselmo, St = Se - at, sendo S a sensação inicial e St a sensação após um tempo de exposição.
Assim, St = (Lf + Lt + C ) + e - at (df/fdt = 1/t ) ou P = e - at ( df/ ftd + 1/t - a ( Lf + Lt + C).
Propondo a fórmula acima como a da percepção a um estímulo sonoro, plugamos o headphone de Celeste no computador. Anselmo levou-o aos ouvidos e aguardou ansioso por um contato do Maurício. Uma hora se passou e nada. De repente, o alívio. Um grunhido entrou. Perguntei ao Anselmo mais detalhes. Ele me disse que estava conseguindo decifrar alguma coisa. "OK!", gritou ele. " É o Maurício. É ele, em voz e osso ". " Voz e osso?", exclamei. " Ele está dizendo que o nosso GPS está setado errado. Por isso, resolveu alugar um jato da FAB e está voando em nossa direção com o seu Juvêncio ". Neste momento a conexão caiu. Anselmo tirou o headphone e olhou fixamente para mim. Misturava alegria e apreensão.

Perguntei como poderia ser feita a baldeação de duas pessoas de um Jato para dentro de um balão. Anselmo riu. Me lembrou que o seu Juvêncio saberia perfeitamente como fazer isso. Bem, não precisamos dizer que a notícia se espalhou rapidamente por todo o balão. Nossa cestinha balançava de tanta alegria. Selma tirou a saia e a blusa, ficando só de calcinha e sutiã. Celeste agradecia ao Rajneesh, dançando uma Nataraj de fazer inveja a qualquer um. Jorge resolveu levantar, deu um forte abraço em todos e voltou para o seu canto, onde abriu as Sidras reservadas para o nosso Natal.

Achei que a comemoração poderia ser mais esfusiante. Lembrei que tinha guardado 643 comprimidos de ectasy no fundo da mala. Os mesmos que utilizei juntamente com o Ratapulgo na saída do Campo de Marte. Dei quatro pra cada um. Selma preferiu tomar logo oito. Jorge não aceitou. Pegamos o cálice de Sidra, brindamos e blog. Coisa pra dentro. Meia hora depois a coisa já tava complicada.

Prudentemente, deixo para o Jorge contar como foi.