Sábado eu fui lá.
Mesmo com a perna engessada num saco plástico, para protejer da chuva, fui lá no Galpão do Zé Luiz na Baixada do Glicério. Seu Juvêncio me deu uma carona na CB400. Disse que os australianos estavam reunidos com o Zé no galpão.
O Galpão fica numa zona meio decadente mas é enorme. Parece que era uma fábrica de sabão. Tem várias correntes velhas e trilhos pendurados no teto. Nesse espaço o Zé vem acumulando trilhares de tranqueiras, rescaldos de aventuras intempestivas e delírios maníacos.
A coleção de badulaques, adquiridos das mais variadas maneiras, inclui:
- Estrutura de um carro alegórico da Vai-Vai com cabeças de unicórnio de isopor.
- coleção de caiaques multi-coloridos
- Três Ford Galaxies sem motor
- Um Maverick v8 laranja, teto de vinil, sem rodas
- Uma réplica (de 3 metros) da estátua da liberdade vestida de Carmem Miranda
- 10 rolos de filmes do Oscarito numa geladeira
- Um mapa gigante da cidade de Budapeste (meio mofado)
- Uma pele de zebra esticada na parede oposta
- Um ultraleve (inteiro, funcionando)
- diversas coleções incluindo discos de 78 rotações e espadas japonesas
- Os cenários completos do 3º ano do Cassino do Chacrinha
- 7 cachorros (dois filas, um ruskie, 3 martins farejadores e um poodle-toy)
- Uma perna mecânica, pertencente ao João do Pulo
- uma grande embaladora de frutas coreana
Todas estas coisas estão acumuladas em ordem mais ou menos cronológica. Ou seja, o Zé Luiz adquire (compra, rouba, empresta) mais um trambolho e todo o resto é empurrado um pouco mais para o fundo, de modo que libere na área perto dos portões uma boa clareira (utilizada como pista de dança e aulas de Taekwondo). Desta forma eu imagino que numa camada arqueológica inferior da pilha de tranqueiras seria possível encontrar o berço de ninar do Zé embaixo do seu primeiro kart.
Pois nesta clareira, na entrada do galpão, encontrei uma equipe de pessoas uniformizadas com soldas faiscantes, placas e plantas. Elas se reúnem em torno de um barco verde camuflado que eu já conhecia. Essa embarcação, feita fibra de vidro feita especialmente para o Exército Brasileiro, serviria para ser transportada de helicóptero para determinadas áreas de difícil acesso da Amazônia e do Pantanal mas acabou sendo leiloada pela extinta Engesa (o Zé queria mesmo era um protótipo de tanque de guerra).
Os australianos, acabei descobrindo, são campeões mundiais de balonismo na categoria horda e estavam transformando a embarcação do Zé numa, sei lá, cabine, cápsula, cesta de balão monstro. Me lembrei imediatamente do Peter Potamus e Tico Mico que voavam em um balão parecido (ou será que era a turma do Zé Colmeia?). De qualquer forma o Zé Luiz tinha visto muito Hanna-Barbera.
Assim que cheguei o Zé Luiz se aproximou todo esfuziante, levantou a máscara de soldador, e apontando para a gerngonça exclamou:
- Ratapulgo, chegou o momento de conhecermos o mundo de outra perspectiva!
Naquele momento, olhando os caras trabalhando em torno do barco, o cérebro travou e eu só conseguia pensar:
"Oh céus, oh vida, oh dia, oh azar...."
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