16.12.02

Como até eu tirar o gesso eu não posso dirigir, o Maurício passou aqui e me levou para tomarmos uns gorós depois da chuva. Fomos no bar do Geraldinho. Enchemos a lata, observamos a fauna do local e discutimos muito Led Zeppelin, acupuntura e a bunda da Kelly Key. Quando deu umas três da manhã decidimos, por unanimidade, que deveríamos ir até o Galpão do Zé Luiz, no Glicério, para mijarmos dentro do Balão.

O Maurício estava muito briaco e minha bexiga queria estourar, mas minha experiência de co-piloto acabou sendo bastante útil e, depois de algumas tentativas, conseguimos encontrar as chaves, o carro, a porta do carro, a ignição, o câmbio, a embreagem, a rua, a calçada, a rua novamente, uma avenida, uma viatura do DSV, a carteira de motorista, duas notas de cinqüenta, a Radial Leste e por fim o Galpão. Depois de abrirmos os portões e alimentarmos a cachorrada que não parava de latir, acendemos as luzes do Galpão na chave geral e surpresa: Aparentemente ali houvera uma festa. Uma bela festa.

Eu já comentei aqui que o Zé Luiz é um débil mental de escovar os dentes com soda cáustica. Contudo também comentei que ele é gente finíssima e bastante generoso, características que tornavam estranho o fato de não termos – nem Maurício nem eu – tomado conhecimento dessa festa no Galpão. Principalmente eu que estou há três dias traduzindo a porra do manual dos australianos!

Além do caos habitual do Galpão somavam-se confetes molhados e serpentinas pisadas, algumas mesas de bar dobráveis, uma grande cumbuca com o que parecia um ponche de abacate, papéis de brigadeiro, máscaras do Bush e Bin Ladden, centenas de latinhas de cerveja, um sutien GG e um vômito. Tudo isso em torno do barco de fibra de vidro, agora transmodificado em cesta gigante de balão. Aproveitei para dar a mijada nele.

O Maurício não estava nem aí. Já tinha encontrado uma garrafa de White Horse e estava de papo pro ar cantarolando baixinho o Ratatanga. Eu puxei uma cadeira e comecei a meditar sobre aquele esdrúxulo barco aéreo enquanto algumas cigarras cantavam, o Maurício ressonava e uma aragem mais fresca entrava pela porta do Galpão. E também acabei capotando.

Acordei hoje de manhã com o Wadir, o zelador do Galpão, me cutucando com o esfregão e com cara de muitos inimigos. Eu, estatelado no chão, como um gambá atropelado duas vezes, só consegui balbuciar:

- E o Maurício, aonde está?

O filho da mãe tinha me deixado lá.