para Antoniete
Os médicos dizem que as possibilidades são muito remotas. Algo como uma chance em cinco trilhões. Mas ele dera muito azar. Nascera com um pato grudado na orelha direita. Um patinho meio desbotado, as penas cinzas todas eriçadas, com carinha de patinho injuriado. As crianças tiravam sarro na escola. Olha lá o cabeça de pato. Cuem-cuem! Cuem-cuem! Virou seu apelido. Cuem-cuem. Crianças são maldosas como só seres puros e inocentes conseguem ser. Cuem-cuem começou a andar com um chapelão de aba larga que pegara emprestado com seu pai, que era gigolô de cinema americano da década de 70. As crianças, então, passaram a chamá-lo de Cuem-Cuem Chapelão. E Cuem-Cuem Chapelão passou a não mais tirar o chapelão de feltro preto com lantejoulas e alimentava o pato escondido por debaixo da aba, porque muito pior que ter um pato grudado na orelha é ter um pato morto grudado na orelha. Mas a Natureza é mesmo uma coisa espantosa, linda, sábia e gostosuda. Certo dia de muito calor e luminosidade, Cuem-Cuem Chapelão retirou o chapelão que lhe cobria a cabeça, olhou-se no espelho e viu que, miraculosamente, o pato em sua orelha direita desaparecera. Grudado em sua cabeça agora estava um belo e majestoso cisne branco.
28.4.06
27.4.06
É tudo verdade
Carmen Miranda era portuguesa
Fernando I, o Collorido, é carioca
Fernando II, o Car(i)doso, é carioca
Freud era tcheco
Henry Ford odiava judeus
Hitler era vegetariano e adorava astrologia
Humphrey Bogart era campeão de xadrez
Jesus não era cristão
Júlio César era epiléptico
Karl Marx comia a empregada
Maria confundia a trompa de eustáquio com a de falópio
Maomé era pedófilo
Oscar Wilde era socialista
Otto Lara Resende escrevia, no mesmo dia, dois editoriais de dois jornais de linhas políticas opostas
Sidney Magal é a melhor criação literária de Paulo Coelho
W. Bush não é caipira
Zulaiê apaixonou-se por um chantagista
Fernando I, o Collorido, é carioca
Fernando II, o Car(i)doso, é carioca
Freud era tcheco
Henry Ford odiava judeus
Hitler era vegetariano e adorava astrologia
Humphrey Bogart era campeão de xadrez
Jesus não era cristão
Júlio César era epiléptico
Karl Marx comia a empregada
Maria confundia a trompa de eustáquio com a de falópio
Maomé era pedófilo
Oscar Wilde era socialista
Otto Lara Resende escrevia, no mesmo dia, dois editoriais de dois jornais de linhas políticas opostas
Sidney Magal é a melhor criação literária de Paulo Coelho
W. Bush não é caipira
Zulaiê apaixonou-se por um chantagista
25.4.06
O Colecionador da Linha Branca
Eu sei que o carro é um símbolo de status, de liberdade, do tamanho da genitália e tudo mais. É coisa muito apreciada, principalmente pelos machos da espécie. Mas pra mim automóvel é apenas um outro eletrodoméstico. Um videocassete que paga IPVA. Por isso nunca irei entender a paixão e devoção características dos apaixonados por automóveis. De todas as maluquices que os XY padecem essa é uma que decididamente não compartilho (creio que gostaria mais de carros se eles já viessem equipados com assento ejetor e buzina com barulho de metralhadora).
Todo amante de automóveis, é claro, gostaria de ser um colecionador de carros. Anseiam possuir um Jaguar negro, um Aston-Martin prata, uma Lamborghini vermelha ou um Maverick cor-de-abóbora em uma garagem bem grande. Eu fico imaginando essa coleção e o meu pensamento migra imediatamente para um colecionador de geladeiras, liquidificadores ou secadora de roupas. Logo imagino senhores empolgados que levam seus convidados a um enorme galpão onde eles guardam e expõe suas Figidaires vintages, suas Consuls classics e suas Brastemps maravilhosas de três andares e oito portas.
- Observem que maravilhas! Essa aqui é uma geladeira dinamarquesa de 1958. A gaveta de frutas é expetacular. Não se faz mais geladeiras assim, não senhor! Nenhuma resfria verduras como ela: repare como ficam geladinhas mas não úmidas. Esta outra aqui - que motor, meu caro, que motor! - tem o congelador que vai de 30 a 0 graus em 9 minutos e 32 segundos. Um fenômeno! Esta outra - você não vai acreditar - eu achei praticamente jogada em numa feira em…
Todo amante de automóveis, é claro, gostaria de ser um colecionador de carros. Anseiam possuir um Jaguar negro, um Aston-Martin prata, uma Lamborghini vermelha ou um Maverick cor-de-abóbora em uma garagem bem grande. Eu fico imaginando essa coleção e o meu pensamento migra imediatamente para um colecionador de geladeiras, liquidificadores ou secadora de roupas. Logo imagino senhores empolgados que levam seus convidados a um enorme galpão onde eles guardam e expõe suas Figidaires vintages, suas Consuls classics e suas Brastemps maravilhosas de três andares e oito portas.
- Observem que maravilhas! Essa aqui é uma geladeira dinamarquesa de 1958. A gaveta de frutas é expetacular. Não se faz mais geladeiras assim, não senhor! Nenhuma resfria verduras como ela: repare como ficam geladinhas mas não úmidas. Esta outra aqui - que motor, meu caro, que motor! - tem o congelador que vai de 30 a 0 graus em 9 minutos e 32 segundos. Um fenômeno! Esta outra - você não vai acreditar - eu achei praticamente jogada em numa feira em…
24.4.06
Roman à clef
Para preservar as pessoas envolvidas, os nomes, a época e os locais serão alterados. A amante será denominada Panda Fenomenal; a ex-Primeira Dama será chamada de Bolo de Fubá; o jardineiro será denominado Peter Potamus ou Seu Malaquias da Vendinha, alternadamente. Carmônio é um acrônimo de Acrônimo. E, para preservar minha privacidade, eu serei chamado de Toshiro Mifune e usarei uma máscara do Dr. Zaius. Todo ato de cópula será substituído pelo nome de algum esporte jogado em dupla, como o ping-pong, tranca ou nado sincronizado. A trama agora se passará em 1783 a. C.. E, por fim, toda a ação externa transcorrerá nos everglades da Flórida e a interna em um mosteiro mal-assobrado na Catalunha em vez do Palácio da Alvorada em Brasília.
23.4.06
Aê, cabeção!
Por que escritores são sempre exibidos em fotos colocando a mão na cabeça? Já reparou? Sempre com um indicador ao lado da bochecha e os outros dedos flexionados, ou então apoiando o queixo nos punhos, ou segurando de algum modo a face, etc. Será que por ser escritor sua cabeça é muito pesada? Não é não. É falta de espinha dorsal mesmo.
poema com fuso
Não sei se minhas Musas são parcas
ou se as Parcas são minhas musas
cortando nos fios de suas facas
os nós destas linhas confusas
Sei lá se as Musas aparecem
nos momentos que me inspiro
ou se são as Parcas que tecem
o fio do meu último suspiro
---
Atendendo à sugestão da meiga Meg tentei deixar nos conformes o poemeto acima.
Ele já era meio um octassílabo de orelhada, precisava de mais um pouquinho de lanternagem, um sotaque lusitano, alguma boa vontade e voilá!
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 |
não| sei| se |mi'as| Mu | sas| são| par| cas
ou | se | as | Par | cas| são|mi'as| mu| sas
cor| tan| do | nos |fios| de |suas| fa | cas
os | nós| des| tas | lin| has| con| fu | sas
sei| lá |seas| Mu | sas| a | pa | re | cem
nos| mo | men| tos| em |que |meins| pi | ro
ou | se | são| as | Par|cas | que | te | cem
o | fio| do | meu| úl | ti | mo |sus | pi | ro
…ou assim parecia.
só que ficou um rabinho de fora, uma sílaba a mais no último verso que não queria encaixar de jeito nenhum e ficava do lado de fora tomando chuva
Talvez se trocasse "último" por "final"… nah. Não bom.
ou eliminasse o "meu"… hmmm… sei não, sei não…
Ou quem sabe se o colocássemos em fôrma maior?
Acrescentando mais farinha e redundâncias a gosto depositei o pobre num decassílabo safado (aquele que pode ter sílabas tônicas na sétima ou qualquer outro lugar). Ficou assim:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 |
Eu | não| sei| se | mi |nhas| Mu | sas| são | par| cas
ou | en | tão| as |Par |cas | são| mi | nhas| mu | sas
pas| san| do |nos | fi |nos |fios| de | suas| fa | cas
os | nós| des| sas| mi |nhas| lin| has| con | fu | sas
Já | nem| sei| se | as | Mu | sas| a | pa | re | cem
nos| mo | men| tos| em | que| eu | me | ins | pi | ro
ou |se a| pe | nas| são| as | Par| cas| que | te | cem
o | fio| do | meu| der| ra | dei| ro | sus | pi | ro
Meu São Ivan, padroeiro dos trovadores desvalidos,
martelinho de ouro das estrofes amassadas,
ortopedista dos versos de pé quebrado,
valei-me nesta hora de agonia!
--
Humilimamente grato pelas sugestões, Meg e Ivan. Vocês venceram: batatas fritas!
Transformaremos, então, aquelas quadrinhas singelas em um magnífico soneto digno de um Bilac ao acordar de uma ressaca de licor de ovos.
Vejam aí o que vocês acham.
soneto com fuso
Não sei: minhas Musas são parcas
ou são as Parcas minhas musas,
cortando nos fios das facas
os nós destas linhas confusas?
Nem sei se as Musas aparecem
nas horas em que me inspiro,
ou se são as Parcas que tecem
nós de meu último suspiro
Sigo o fio da minha loucura
no labirinto de um touro
Sou como um Teseu que procura
no fim do verso um estouro
Já encontrei a fechadura
mas perdi a chave de ouro
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 |
Não|sei:| mi |nhas| Mu | sas| são| par| cas
ou | são| as | Par| cas| mi |nhas| mu | sas,
cor| tan| do | nos| fi | os | das| fa | cas
os | nós| des| tas| lin| has| con| fu | sas?
Nem| sei|seas| Mu | sas| a | pa | re | cem
nas| ho | ras| em | que| me | ins| pi | ro,
ou | se | são| as | Par|cas | que| te | cem
nós| de | meu| úl | ti | mo |sus | pi | ro
Si |go o|fio | da | mi |nha |lou | cu | ra
no | la | bi | rin| to | de | um |tou | ro
Sou| co |moum| Te | seu|que | pro| cu | ra
no | fim| do | ver| so | um | es | tou| ro
Já | en | con|trei| a | fe |cha | du | ra
mas| per| di | a | cha| ve | de | ou | ro
(Seguindo a onda parnasiana, não percam na próxima semana: Ode a uma estátua-grega-em-posição-de-yoga-com-a-cara-de-uma-modelo-bem-conhecida-aí.)
ou se as Parcas são minhas musas
cortando nos fios de suas facas
os nós destas linhas confusas
Sei lá se as Musas aparecem
nos momentos que me inspiro
ou se são as Parcas que tecem
o fio do meu último suspiro
---
Atendendo à sugestão da meiga Meg tentei deixar nos conformes o poemeto acima.
Ele já era meio um octassílabo de orelhada, precisava de mais um pouquinho de lanternagem, um sotaque lusitano, alguma boa vontade e voilá!
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não| sei| se |mi'as| Mu | sas| são| par| cas
ou | se | as | Par | cas| são|mi'as| mu| sas
cor| tan| do | nos |fios| de |suas| fa | cas
os | nós| des| tas | lin| has| con| fu | sas
sei| lá |seas| Mu | sas| a | pa | re | cem
nos| mo | men| tos| em |que |meins| pi | ro
ou | se | são| as | Par|cas | que | te | cem
o | fio| do | meu| úl | ti | mo |sus | pi | ro
…ou assim parecia.
só que ficou um rabinho de fora, uma sílaba a mais no último verso que não queria encaixar de jeito nenhum e ficava do lado de fora tomando chuva
Talvez se trocasse "último" por "final"… nah. Não bom.
ou eliminasse o "meu"… hmmm… sei não, sei não…
Ou quem sabe se o colocássemos em fôrma maior?
Acrescentando mais farinha e redundâncias a gosto depositei o pobre num decassílabo safado (aquele que pode ter sílabas tônicas na sétima ou qualquer outro lugar). Ficou assim:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 |
Eu | não| sei| se | mi |nhas| Mu | sas| são | par| cas
ou | en | tão| as |Par |cas | são| mi | nhas| mu | sas
pas| san| do |nos | fi |nos |fios| de | suas| fa | cas
os | nós| des| sas| mi |nhas| lin| has| con | fu | sas
Já | nem| sei| se | as | Mu | sas| a | pa | re | cem
nos| mo | men| tos| em | que| eu | me | ins | pi | ro
ou |se a| pe | nas| são| as | Par| cas| que | te | cem
o | fio| do | meu| der| ra | dei| ro | sus | pi | ro
Meu São Ivan, padroeiro dos trovadores desvalidos,
martelinho de ouro das estrofes amassadas,
ortopedista dos versos de pé quebrado,
valei-me nesta hora de agonia!
--
Humilimamente grato pelas sugestões, Meg e Ivan. Vocês venceram: batatas fritas!
Transformaremos, então, aquelas quadrinhas singelas em um magnífico soneto digno de um Bilac ao acordar de uma ressaca de licor de ovos.
Vejam aí o que vocês acham.
soneto com fuso
Não sei: minhas Musas são parcas
ou são as Parcas minhas musas,
cortando nos fios das facas
os nós destas linhas confusas?
Nem sei se as Musas aparecem
nas horas em que me inspiro,
ou se são as Parcas que tecem
nós de meu último suspiro
Sigo o fio da minha loucura
no labirinto de um touro
Sou como um Teseu que procura
no fim do verso um estouro
Já encontrei a fechadura
mas perdi a chave de ouro
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 |
Não|sei:| mi |nhas| Mu | sas| são| par| cas
ou | são| as | Par| cas| mi |nhas| mu | sas,
cor| tan| do | nos| fi | os | das| fa | cas
os | nós| des| tas| lin| has| con| fu | sas?
Nem| sei|seas| Mu | sas| a | pa | re | cem
nas| ho | ras| em | que| me | ins| pi | ro,
ou | se | são| as | Par|cas | que| te | cem
nós| de | meu| úl | ti | mo |sus | pi | ro
Si |go o|fio | da | mi |nha |lou | cu | ra
no | la | bi | rin| to | de | um |tou | ro
Sou| co |moum| Te | seu|que | pro| cu | ra
no | fim| do | ver| so | um | es | tou| ro
Já | en | con|trei| a | fe |cha | du | ra
mas| per| di | a | cha| ve | de | ou | ro
(Seguindo a onda parnasiana, não percam na próxima semana: Ode a uma estátua-grega-em-posição-de-yoga-com-a-cara-de-uma-modelo-bem-conhecida-aí.)
22.4.06
20.4.06
Bola ou Búrica?
Está aberta a temporada de duelos. Como vocês já devem saber o jornalista e comentarista político Franklin Martins convidou o Diogo Mainardi, calunista social da Veja, para um duelo ao pôr-do-Sol. Se o Franklin Martins levar chumbo ele monta em seu cavalo e abandona a cidade. Por outro lado, se o revólver de Diogo se revelar uma pistola d'água ele deve nos poupar de sua coluna na Veja. Uma proposta muito corajosa de Kid Martins. Parece-me óbvio que o Diogo vai refugar. Pessoas que sempre gostaram de falar de Honra com a boca cheia, desta feita, estarão ao lado do covarde bôbo-da-corte. Compreensível.
Mas talvez vocês não saibam que a Mancha-Verde convidou o time do Palmeiras para um duelo, um jogo beneficente contra o time titular. Se a Mancha perder ou empatar ela pára de vaiar o time e pede desculpas aos jogadores. Já se o time do Palmeiras perder ele deve mandar embora alguns dirigentes e jogadores. Outro duelo que também não ocorrerá, mesmo porque há uma certa desproporcionalidade dos ônus e bônus. Uma pena.
Mas estou empolgado com este clima. Espero que a moda pegue. Sempre achei duelos uma coisa muito linda e muito chique. Muito me encantaria esbofetear algumas pessoas com minhas luvas de amianto e convidá-las a um embate de limeriques à vinte jardas.
Mas talvez vocês não saibam que a Mancha-Verde convidou o time do Palmeiras para um duelo, um jogo beneficente contra o time titular. Se a Mancha perder ou empatar ela pára de vaiar o time e pede desculpas aos jogadores. Já se o time do Palmeiras perder ele deve mandar embora alguns dirigentes e jogadores. Outro duelo que também não ocorrerá, mesmo porque há uma certa desproporcionalidade dos ônus e bônus. Uma pena.
Mas estou empolgado com este clima. Espero que a moda pegue. Sempre achei duelos uma coisa muito linda e muito chique. Muito me encantaria esbofetear algumas pessoas com minhas luvas de amianto e convidá-las a um embate de limeriques à vinte jardas.
19.4.06
Allah Made Me Funny
Salam aleikum (salamaleques), irmãos!
Achei sem querer. Três muçulmanos de verdade fazendo stand-up comedy. Não é particularmente hilariante. Mas é bastante curioso. Algumas partes bem divertidas, como a do barbudão descrevendo suas experiências em aeroportos e aviões (se eu fosse um terrorista eu iria me disfarçar _DESTE_ jeito?). Bem interessante.
Achei sem querer. Três muçulmanos de verdade fazendo stand-up comedy. Não é particularmente hilariante. Mas é bastante curioso. Algumas partes bem divertidas, como a do barbudão descrevendo suas experiências em aeroportos e aviões (se eu fosse um terrorista eu iria me disfarçar _DESTE_ jeito?). Bem interessante.
18.4.06
O Olimpo é aqui
Deuses gregos habitam São Paulo. Não, não estou a brincar. Anteontem de manhã, Ártemis, a virgem caçadora, veio a ter comigo na frente da padaria, o filho no colo, precisava de dinheiro para completar a condução até a Parada de Taipas. Foi então que comecei a reparar melhor. Descobri que Hermes trabalha como moto-boy na Entregas Mercúrio e Atena abriu um salão de cabelereiro no Jaçanã. Foi impossível não reconhecer o caolho Hefaísto em uma barraquinha de cachorro-quente na Barão de Itapetininga. Entre mordidas na iguaria, o antigo senhor do Hades confidenciou-me que não são apenas os deuses gregos que habitam estas paragens: Tutatis tem uma borracharia na Vila Carrão; Puzuzu, da Mesopotâmia, é ascensorista na Galeria Pagé; Quetzalcoatl, deus humanizador dos astecas, vende CDs piratas na Lapa de Baixo; Odin ganha a vida como homem-sanduíche, anunciando a compra e venda de ouro e passes de metrô.
Os deuses, eles não estão mortos. Apenas mudaram-se para São Paulo.
Os deuses, eles não estão mortos. Apenas mudaram-se para São Paulo.
12.4.06
quadrinha em situação de rua
Poema aqui no brogue é a maior tristeza
co'as rimas bem abaixo da linha da pobreza
tudo mal-ajambrado, tremendo miserê,
estrofes de pau-a-pique e versinhos de sapé
co'as rimas bem abaixo da linha da pobreza
tudo mal-ajambrado, tremendo miserê,
estrofes de pau-a-pique e versinhos de sapé
11.4.06
10.4.06
A Maldição do Taxista
Vai rolar um momento diarinho misturado com seção esportes e um pouco de parapsicologia. Tenham um pouco de paciência ou a bondade de dirigir-se ao guichê ao lado. Obrigado.
Pois então: eu e a digníssima e encantadora Mrs. Ratapulgo resolvemos torrar os Smiles em Porto Alegre e assistir ao Gre-Nal. Fomos recebidos com toda a pompa e circunstância pelas megeras magrelas Ticcia, Ro e a rechonchuda Solineuzza.
Na saída do aeroporto, o taxista gremista já pressagiava: "Não quero ganhar, quero empatar em 1X1". Este seria o placar mínimo para o Grêmio ser campeão. Menos que isso, insuficiente; mais que isso, desnecessário. A nossa adorada Hooligan Fucsia, com seus cílios de fada e língua de feiticeira arrematou a praga: "Quero o gol de empate aos 52 minutos do segundo tempo feito com a mão enquanto o centroavante tricolor pisa na cabeça do goleiro, só para os colorados ficarem 7 anos reclamando desse jogo".
(É importante uma pequena digressão didática a respeito do ludopédio nos pampas. O futebol gaúcho apenas pode ser conceituado como "futebol" num sentido muito generoso e abrangente da palavra, pois ele é, na verdade, uma espécie de rugby que evita conduzir demasiadamente a bola com as mãos. No Rio Grande, a falta é a regra e um Ronaldinho Gaúcho uma total aberração. Praticamente só vale gol de cabeça, por atropelamento ou fratura exposta e ganha o time que terminar a partida com mais de sete sobreviventes em campo. Boleiro gaúcho mesmo, de vera, não calça chuteiras, usa ferradura.)
O Inter, invicto há dois meses, líder de sua chave na Libertadores, buscando o pentacampeonato, enfrentava em seu estádio lotado o Grêmio, um time limitado, recém-eliminado da logo na segunda fase da Copa do Brasil pelo inexpressivo 15 de Novembro. Porém todo clássico é um momento de singularidade. E assim foi, o Inter mesmo não jogando muito bem, dava caneta, dava chapéu; o Grêmio só na base do carrinho. Cumprindo cegamente seu papel no augúrio, o Internacional fez o seu gol em uma bela troca de passes na área, comemorou uma barbaridade, tudo dentro dos conformes, tudo como fora revelado pelas entranhas dos quero-queros. E para a profecia se realizar completamente só faltava aquele meio-gol gremista, e ele veio, de cabeça, em uma cobrança de falta, uma meia-cabeça, um gol de nuca, praticamente com a cervical, um gol tosco, como manda a etiqueta de uma final gaúcha. A Maldição do Taxista e o Augúrio da Megera se cumpriram finalmente e neste dia o pôr-do-sol no Guaíba foi azul.
Pois está escrito que campeonato gaúcho nunca será vencido pelo melhor, mas pelo time mais gaúcho.
Pois então: eu e a digníssima e encantadora Mrs. Ratapulgo resolvemos torrar os Smiles em Porto Alegre e assistir ao Gre-Nal. Fomos recebidos com toda a pompa e circunstância pelas megeras magrelas Ticcia, Ro e a rechonchuda Solineuzza.
Na saída do aeroporto, o taxista gremista já pressagiava: "Não quero ganhar, quero empatar em 1X1". Este seria o placar mínimo para o Grêmio ser campeão. Menos que isso, insuficiente; mais que isso, desnecessário. A nossa adorada Hooligan Fucsia, com seus cílios de fada e língua de feiticeira arrematou a praga: "Quero o gol de empate aos 52 minutos do segundo tempo feito com a mão enquanto o centroavante tricolor pisa na cabeça do goleiro, só para os colorados ficarem 7 anos reclamando desse jogo".
(É importante uma pequena digressão didática a respeito do ludopédio nos pampas. O futebol gaúcho apenas pode ser conceituado como "futebol" num sentido muito generoso e abrangente da palavra, pois ele é, na verdade, uma espécie de rugby que evita conduzir demasiadamente a bola com as mãos. No Rio Grande, a falta é a regra e um Ronaldinho Gaúcho uma total aberração. Praticamente só vale gol de cabeça, por atropelamento ou fratura exposta e ganha o time que terminar a partida com mais de sete sobreviventes em campo. Boleiro gaúcho mesmo, de vera, não calça chuteiras, usa ferradura.)
O Inter, invicto há dois meses, líder de sua chave na Libertadores, buscando o pentacampeonato, enfrentava em seu estádio lotado o Grêmio, um time limitado, recém-eliminado da logo na segunda fase da Copa do Brasil pelo inexpressivo 15 de Novembro. Porém todo clássico é um momento de singularidade. E assim foi, o Inter mesmo não jogando muito bem, dava caneta, dava chapéu; o Grêmio só na base do carrinho. Cumprindo cegamente seu papel no augúrio, o Internacional fez o seu gol em uma bela troca de passes na área, comemorou uma barbaridade, tudo dentro dos conformes, tudo como fora revelado pelas entranhas dos quero-queros. E para a profecia se realizar completamente só faltava aquele meio-gol gremista, e ele veio, de cabeça, em uma cobrança de falta, uma meia-cabeça, um gol de nuca, praticamente com a cervical, um gol tosco, como manda a etiqueta de uma final gaúcha. A Maldição do Taxista e o Augúrio da Megera se cumpriram finalmente e neste dia o pôr-do-sol no Guaíba foi azul.
Pois está escrito que campeonato gaúcho nunca será vencido pelo melhor, mas pelo time mais gaúcho.
8.4.06
Nanoconto
Foi só ao ver a ponta metálica da faca de pão saindo de seu tórax que ele percebeu que a esposa estava falando sério.
7.4.06
Arcano VIIII - O Eremita
Rogério sussurra – Porra, André, o pastor falou pra gente não vir pra cá, cacete!
– Se quiser ir embora, pode ir. Já que é de grátis, eu vou usar meu vale-consulta.
– A gente só vai atrair coisas ruins. Vamos embora!
– Nada, vai ser divertido, se acalma.
– Shhhiu, a mulher vem vindo.
André e Rogério estão sentados em um canapé verde-musgo aveludado. Muitas velas com cheiros imcompatíveis estão acesas em pontos diversos da casa. A luz bruxuleante revela estantes repletas de quinquilharias esotéricas, cortinas com estampas de frutas coloridas, fotos antigas em molduras ovais, flores de plástico, estátuas de santos e relógios. Uma grande coleção de relógios parados. Rogério repara em um canto - Aquele bicho é de verdade ou está empalhado? - Uma sombra grande começa a invadir a sala mal iluminada.
- Por favor, passem à sala de consultas. – Madame Cassandra, uma senhora grotescamente gorda e maquiada indica uma saleta lateral atrás de uma cortina de miçangas.
A pequena saleta está engolfada pelo incenso que cheira a sabonete de rodoviária do interior. Cartas embralhadas. Corte com a mão esquerda. A primeira carta é o O Eremita. Os rapazes se entreolham. A figura da carta mostra a figura um tanto familiar de um velho barbudo carregando uma lanterna e um cajado.
- Há um estranho perseguindo vocês.
- Olha, é mesmo! - diz André rindo e apontando a carta - É igualzinho àquele mendigo maluco.
- E... a senhora… saberia o que esse homem quer com a gente? - balbucia Rogério.
As mãozinhas gordotas viram uma segunda carta. O Louco.
- Este senhor quer recuperar a sua sanidade, sua lucidez. - responde a cartomante com sua voz adiposa.
Terceira carta. Cavaleiro de Copas.
Madame Cassandra aponta para André o seu indicador de unha roxa e anel de hematita.
- E ele deseja transmitir a loucura dele para você, menino – e só para você.
- Opa, que legal! Eu sou esse cavaleiro aqui com a taça dourada, é?
- Meu, se liga! Eu não posso saber o que ele tem para dizer pro André? E por que só o André?
A cartomante vira a carta O Sol onde aparecem duas crianças.
- Por causa do seu irmão gêmeo, menino.
- O Vicente?
Ela vira mais uma carta. É um Três de Ouros.
- Não, o outro. O terceiro gêmeo.
- Putz! Mas ele morreu quando eu e o Vicente nascemos.
A face molenga da vidente faz um muxoxo como quem diz “Sim, mas o que eu posso fazer?"
- E qual que é a carta do Rogério? Aposto que é o Boiola sem Espadas, haha.
- Cara, eu vou te dar uma muqueta na fuça! Mas, afinal, o que o mendigo está querendo dizer para o André?
Madame Cassandra retira mais uma carta do maço mas não a deposita na toalha vermelha. Seu rosto se contrai. Os olhos reviram. Ela grunhe e cai de cara na mesa. A carta ainda em sua mão, virada para baixo.
- Puxa vida, logo agora que eu ia perguntar quem vai ganhar a Copa da Alemanha!
Rogério dá um cascudo em André.
- Ai, cacete!
- Eu avisei. Você não tá vendo que isso é sério?
- Pombas, Rogério, - André baixa a voz - vai dizer que você está acreditando nesse teatrinho?
Rogério não responde. Ele se concentra na carta sob a mão da vidente. Ele cria coragem e a puxa para si, temendo que a carta traga a figura inequívoca da Morte com seu esqueleto risonho e foice. Mas ao virar a carta ele também empalidece.
A carta está completamente em branco.
– Se quiser ir embora, pode ir. Já que é de grátis, eu vou usar meu vale-consulta.
– A gente só vai atrair coisas ruins. Vamos embora!
– Nada, vai ser divertido, se acalma.
– Shhhiu, a mulher vem vindo.
André e Rogério estão sentados em um canapé verde-musgo aveludado. Muitas velas com cheiros imcompatíveis estão acesas em pontos diversos da casa. A luz bruxuleante revela estantes repletas de quinquilharias esotéricas, cortinas com estampas de frutas coloridas, fotos antigas em molduras ovais, flores de plástico, estátuas de santos e relógios. Uma grande coleção de relógios parados. Rogério repara em um canto - Aquele bicho é de verdade ou está empalhado? - Uma sombra grande começa a invadir a sala mal iluminada.
- Por favor, passem à sala de consultas. – Madame Cassandra, uma senhora grotescamente gorda e maquiada indica uma saleta lateral atrás de uma cortina de miçangas.
A pequena saleta está engolfada pelo incenso que cheira a sabonete de rodoviária do interior. Cartas embralhadas. Corte com a mão esquerda. A primeira carta é o O Eremita. Os rapazes se entreolham. A figura da carta mostra a figura um tanto familiar de um velho barbudo carregando uma lanterna e um cajado.
- Há um estranho perseguindo vocês.
- Olha, é mesmo! - diz André rindo e apontando a carta - É igualzinho àquele mendigo maluco.
- E... a senhora… saberia o que esse homem quer com a gente? - balbucia Rogério.
As mãozinhas gordotas viram uma segunda carta. O Louco.
- Este senhor quer recuperar a sua sanidade, sua lucidez. - responde a cartomante com sua voz adiposa.
Terceira carta. Cavaleiro de Copas.
Madame Cassandra aponta para André o seu indicador de unha roxa e anel de hematita.
- E ele deseja transmitir a loucura dele para você, menino – e só para você.
- Opa, que legal! Eu sou esse cavaleiro aqui com a taça dourada, é?
- Meu, se liga! Eu não posso saber o que ele tem para dizer pro André? E por que só o André?
A cartomante vira a carta O Sol onde aparecem duas crianças.
- Por causa do seu irmão gêmeo, menino.
- O Vicente?
Ela vira mais uma carta. É um Três de Ouros.
- Não, o outro. O terceiro gêmeo.
- Putz! Mas ele morreu quando eu e o Vicente nascemos.
A face molenga da vidente faz um muxoxo como quem diz “Sim, mas o que eu posso fazer?"
- E qual que é a carta do Rogério? Aposto que é o Boiola sem Espadas, haha.
- Cara, eu vou te dar uma muqueta na fuça! Mas, afinal, o que o mendigo está querendo dizer para o André?
Madame Cassandra retira mais uma carta do maço mas não a deposita na toalha vermelha. Seu rosto se contrai. Os olhos reviram. Ela grunhe e cai de cara na mesa. A carta ainda em sua mão, virada para baixo.
- Puxa vida, logo agora que eu ia perguntar quem vai ganhar a Copa da Alemanha!
Rogério dá um cascudo em André.
- Ai, cacete!
- Eu avisei. Você não tá vendo que isso é sério?
- Pombas, Rogério, - André baixa a voz - vai dizer que você está acreditando nesse teatrinho?
Rogério não responde. Ele se concentra na carta sob a mão da vidente. Ele cria coragem e a puxa para si, temendo que a carta traga a figura inequívoca da Morte com seu esqueleto risonho e foice. Mas ao virar a carta ele também empalidece.
A carta está completamente em branco.
4.4.06
Portrait of the artist as a foam gargoyle
eu não fico procurando crescer minhas asas nem invejo quem as tem.
mas me interessa o motivo daquele sujeito ali ter um bico de pelicano, uns dentes afiados que crescem ao lado da têmpora e olhos na palma da mão.
mas me interessa o motivo daquele sujeito ali ter um bico de pelicano, uns dentes afiados que crescem ao lado da têmpora e olhos na palma da mão.
3.4.06
Teste para ateus:
Você assinaria um contrato trocando sua alma imortal por R$ 18,00 ou o equivalente em cerveja?
1.4.06
Romance deformação
Livro essencial é aquele antigo, bem grosso, com encadernação de couro, que você tira da estante e o teto desaba.
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