10.5.06

Mamãe Dolores

Já tentei assistir um capítulo inteiro de uma novela. De uma novela qualquer, qualquer novela, não importa qual. Jamais consigo chegar ao fim. Às vezes vejo uma cena ou duas, na terceira me sinto tão vilipendiado e açoitado pelas falas horríveis escritas de um modo porco e ditas de modo tão inadequado que desisto. Cada sentença proferida por um ator de novela é uma cotovelada no estômago, uma britadeira nos tímpanos, uma queimadura de terceiro grau nas mucosas. O esgar de sobrancelhas do ator ao arrematar a frase - sim, isso é interpretação! - é a cusparada final em minha alma vilipendiada.

Foi-me explicado que a seleção de atores para a teledramaturgia nacional tem o seguinte procedimento: eles dizem para o candidato pedir um café. Se o "um cafezinho, por favor" do calouro soar completamente falso e inverossímil então ele está imediatamente contratado; se a frase pronunciada empedrar instantaneamente o fígado do ouvinte e, ainda por cima, afugentar os cachorros do bairro, então já temos o protagonista da novela e cinco estrelas na porta do camarim.

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PS - As línguas maledicentes insinuam que a escolha dos atores costuma ser feita através do teste dos descamisados e só passa quem tem barriga de tanquinho. Não é certo. Minha barriga, mais que um tanquinho, já é uma autêntica divisão Panzer e nem por isso recebi qualquer convite da Grobo.