Depois de mais um post resmungando sobre a inutilidade dos brasileiros, as palavras e os sinais gráficos fazem uma pausa no trabalho e relaxam tomando chá de jasmim sentadas sobre as caixinhas de comentário.
— Achei uma bostinha! — fala a conjunção balançando os pezinhos sobre a caixa de comentários enquanto mistura duas gotas de leite chá.
— O post? — pergunta o ponto de interrogação.
— Não, — diz a conjunção com um gesto vago da colherzinha — os leitores!
O predicado verbo-nominal completa — Eu também achei. Não são péssimos?
— Lamentáveis. — ecoa um advérbio — Você viu o carequinha que tirava meleca enquanto lia? E aquele outro que tinha um programa de mapa astral aberto no fundo da tela? Que gente mais ridícula.
— Yuk! E não é só isso. Tem leitor que vem aqui depois de ler a Veja Online.
— Oh, so disgusting! — tremelica um anglicismo!
— Me dá até uns asteriscos… — completa as reticências.
— Juro! Lêem a sessão de cartas da Veja e vem aqui sem nem mesmo tomar um banho antes, — o expletivo, irritado, pensa em pegar o ponto de exclamação para bater em todo mundo. — Me dá um nojinho! Que bando de corjas!
Uma adversativa tenta amainar — Calma, não é bem assim. Vocês estão generalizando, deve haver algum leitor decente.
— Que nada! São todos, todos, todos péssimos. Olha aquele ali nos espiando com aqueles óculos sujos: mal construído, alegórico, francamente caricato! — reclama o anacoluto.
Um artigo feminino aponta para o monitor com sua serifinha. — E esse que está lendo esta frase aqui, então, que parlapatão! É o pior de todos! Ele é uma verdadeira plétora de pastiches dos piores clichês de leitores. Olha aí, quer até deixar um comentário todo nervosinho.
— Escrever comentários… que indignidade! — indigna-se o expletivo fazendo chacoalhar a xicarazinha.
— Uma indignidade! — ecoa a redundância.
— Feliz era o Goethe cujos leitores liam o Werther e depois se matavam pulando da ponte, bebendo água sanitária, essas coisas. — continua o anacoluto — Aqueles sim eram leitores respeitáveis. Aqui, uns lêem até comendo fandangos sabor churrasco. Aposto que alguns sequer estão calçando sapatos ao ler o texto.
— Ou sequer usando roupas. — resume a conjunção.
A onomatopéia bufa — Pfui.
— É o fim, meus caros, é o fim. — Conclui o ponto final.
12.5.06
Assinar:
Comment Feed (RSS)
|