11.3.04

Procura-se cristão. Limpinho, educado e que durma no serviço.

"Os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca dos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, para o tentar, propôs-lhe esta questão: - "Mestre, qual o mandamento maior da lei?" - Jesus respondeu: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. - Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos."
(MATEUS XXII, 34 a 40.)


Esse é um trechinho famoso que me parece até bastante claro. Os fariseus, a turma judaica dos caga-regras, estavam sempre tentando pegar Jesus de calças arriadas (ou bata levantada, não sei bem). Jesus, de acordo com os evangelhos, costumava se sair muito bem, freqüentemente até com certo humor. Dessa vez Jesus resumiu sucintamente milênios de Judaísmo em dois mandamentos.

Amar a Deus sobre todas as coisas é fácil. Cada um constrói seu Deus como um amálgama de ideais e das coisas que ama e assim é óbvio que fica fácil amar esse constructo tão necessariamente adequado. Se Ele é vagamente semelhante a algo contido na Bíblia é secundário. Até aí tudo bem. Muita gente passaria pela prova desse primeiro mandamento.

Já esse segundo mandamento...

Eu cheguei a conclusão de que não conheço nenhum cristão. Nem acho que algum dia tenha conhecido. Só os da boca pra fora, claro. Esses têm em todo lugar, é pior que flamenguista. Mas cristão, cristão de verdade, nunca vi. Há lendas que tenham existido. Quem sabe? Você já viu algum? Um que ame o próximo como a si mesmo? Ou ao menos um que tente conscientemente, faça um esforço de amar o próximo como a si mesmo? Eu nunca vi.

Porém, mais difícil que encontrar esse tal Legítimo Cristão só mesmo descobrir o Verdadeiro Liberal. Isso sim é uma raridade que deveria ser exibido no Smithsonian. Ou os ossos expostos no Museu de História Natural de NY. Ou talvez até esse Verdadeiro Liberal fosse apenas uma fantasia literária do Adam Smith. Fica pra outro post.