13.10.09

Che no cinema

Guerrilheiros da Fuzarca - Irmãos Marx
(An evening at the jungle, EUA, 1954)

Filme menor dos Irmãos Marx. Tem uma única cena divertida: quando Che ataca e mata os soldados bolivianos com seu desodorante avanço da retaguarda vencido. "São as táticas de marketing de guerrilha, nenem." — diz Groucho/Che dando uma longa baforada em seu cachimbo de ópio do povo. Pena que todos morram no final, torturados em Guantánamo.



El Mago de Habana, o Musical - Bob Fosse 
(Porto Rico/França, 1962)

 Três guerrilheiros, Fidel, Che e Curly, caminham sobre o sendero luminoso de pedras amarelas a fim de pedir ao Grande Leviatã um cérebro de ouro, um coração de incenso e a relíquia número 3, o pinto falso do antidopping de Maradona, feito de mirra.

Uma cena memorável é o duelo de trompetes onde Che, apesar da asma, vence Fulgêncio Batista com o apoio estratégico da banda militar As Maracas de Marrocos.

O filme chega ao ápice quando uma multidão coreografada de rumbeiros trotskistas das FARC invade as praias de Tegucigalpa cantando seu refrão imortal: "Jo no puedo bailar, porque soy de Cochabamba." Todos morrem no final.


Ai, Che, que vara! - Davi Cardoso 
(Brasil - 1974)

Pornochanchada com Ali Kamel, o consagrado rei da sacanagem, interpretando Guevara e Paulo César Pereyo no papel de Fidel Castro. Os dois são vendedores de camisetas e chinelos tarancón na praia de Copacabana e se passam por médicos argentinos para levar ninfetas politicamente alienadas (Nicole Puzzi, Henriqueta Brieba e Sasha) para seu abatedouro no Jardim Botânico, onde são seduzidas, descamisadas, drogadas e enviadas para surubas paramilitares com Evo Morales (Mercedes Sosa) no Araguaya. O esquema todo é desmantelado quando Henry Kissinger (Hugo Carvana) invade o aparelho matando todos no final.


Mártir - Costa Gavras 
(Lonely red star - Nicarágua/Albânia, 1979)
Raul Julia interpreta Che Guevara.
Todos morrem no final.




Um Soldado Amalucado - Eddie Murphy 
(Ay, ay, ay, Che! - USA, 1984)

Refilmagem do clássico Guerrilheiros Fuzarca dos Irmãos Engels, agora com Eddie Murphy no papel do capitão Guevara, um soldado muito louco que está sempre aprontando muita confusão. Muitas bazucas e gargalhadas em ação numa floresta pra lá de maluca. Para a criançada de todas as idades, hoje, na Sessão da Tarde.

A cena mais hilariante da versão de Murphy (que faz todos os papéis, inclusive o higiênico) é quando Che não consegue conter os gases e começa a peidar descontroladamente justo quando sua tropa, disfarçada de plantas tropicais, passa em frente aos generais inimigos nas piscinas do Copacabana Palace. Divertidíssimo. No final todos morrem.


O leão e a estrela - Andrei Tarkovsky 
(про пять минут - Russia 1986)

Che Gayvara (Bruno Ganz), homossexual místico e determinado, é um asmático que fuma tão somente charutos com alta concentração de terebentina enrolados sobre coxas das índias virgens de Ipacaray.

Fugindo de seus apóstolos que querem transformá-lo em um vendilhão do templo, Che refugia-se no deserto de Atacama, onde jejua, medita, fuma ayauasca por durante 40 dias e cinco noites, sem café-da-manhã incluído, quando é tentado pelo mercado de consumo norte-americano e ofertas espetaculares do e-bay of pigs. No momento em que sua barba está suficientemente comprida para os padrões talibãs, El Che sai da caverna de Platão para conquistar o Terceiro Mundo e assumir seu lugar definitivo na posteridade. Todos morrem no final.

A caixa de luxo do DVD vem com uma bombinha de asma, um coquetel Molotov e uma réplica do Manual de Guerrilha oficial do governo cubano/programa de governo, autografada por Zé Dirceu, para que você possa começar seu próprio treinamento revolucionário na parede de samambaias da tia Dolores ou no Horto Florestal mais próximo de você.


Procedimento e Honra - S. Spielberg
(The Lord of the I-Chings - EUA/Nova Zelândia, 1995)

Este longa de 7 horas e meia de duração narra a história de um grupo de hobbits judeus sefaradins, que encontram uma relíquia secreta pertencente ao imperador Deng Shiao Ping, que mora na Cidade Proibida, nas montanhas de Sierra Maestra, na Floresta da Tijuca.

Perseguindo uma brilhante estrela no céu, os hobbits peregrinam pelo deserto de Mordor, atravessam o mar vermelho e, no caminho da floresta élfica, eles encontram o treant ardente de Hugo Chávez, que lhes oferta, em troca de kalashnikovs e outros produtos manufaturados, a espada perdida de Simon Bolívar. O místico sabre vorpal de Bolívar, ao ser brandido em batalha, emite El canto de Violeta Parra com o poder de unir os exércitos do MST de toda a América Latina e/ou Caribe e adjacências, dando +7 de carisma até o próximo turno. Todos morrem no final.
O filme nem é tudo isso, mas a fotografia tá ótima. Exatamente como Che.


Che I e II - S. Soderbergh 
(Foro de São Paulo - 2007)
O mais recente filme sobre de Che, filmado por Cronenberg e produzido por Benício, el Toro, é baseado nos livros para colorir do Comandante Marcos, Capítulo sete, versículos 30 a 40. Dividido em duas partes, Che Parte I e Che parte XXVII, trata-se de um épico socialmente engajado concebido pelo Comitê Central do PSOL do B. É uma hagiografia informatizada de Santo Ernesto Guevara produzida com verba da Petrobrás e do Fórum de São Paulo, via Lei Michelet.

No primeiro filme, a parte Cubana, Che é apenas um figurante, mero escada para Fidel Castro e seus macaquitos amestrados. Aquilo tudo: Imperialismo norte-americano, Pátria o muerte, Sartre fazendo reforma agrária na Baía dos Porcos. Sermão da montanha básico.


O segundo filme, a parte Bolivariana, é um thriller-épico-Jim-das-Selvas, tipo um Bruxa de Blair feito por um Michael Moore com labirintite.

O ponto dramático do filme é atingido quando, em uma noite de sonambulismo, Che escapa de seu acampamento na selva, cambaleia até a guarnição do Álvaro Uribe (Andy Garcia) e entrega todo seu exército e inclusive a si mesmo por trinta dinheiros, duas caixas de rum creosotado e uma noite de amor com Ingrid Betancourt e Luis Favre.

No cárcere, compadre Che é torturado por Olavón de Carvalho:

— No crees en Dios? – pregunta el gran inquisidor.
— Muchos en Cuba creen en Dios. — contesta Che.
— Y vos?
— No – explicita Che. —No creo en Papai Noel. No creo en Karl Marx. Lo que creo es que ambos son la misma entidad abstrata y fantasmagorica, entiendes?
— Pero no crees que Fidel és la reeincarnación san Fulgencio, el Baptista? No crees que Ernest Hemingway es el Minotauro de Alexandria? Acaso no crees en Santiago Bernabeu?
— No. Dijo… tal vez. Si la incidência de la luz estiver correcta, Fidel puede efectivamente ser confundido con El Batista. Pero la barba debe estar em llamas.
— Entonces, no crees en absolutamente nada?
— Si, yo creo – neste instante Che semicierra sus ojos mareados. — Yo creo en el hombre.
— Cual hombre? Aquel? — apunta para un joven militar a guardar la puerta del carcere.
— No, aquel no.
— Y aquel otro? — Coronel Olavón apunta para un segundo soldado que limpia los dientes con el cadarzo de su bota.
— Tampoco. El tiene cara de hipopotamo de peruca. No me gustam los hipopotamos de peruca.
El inquisidor esbofetea Che en la face. — No hables asi de los hipopotamos! Son creaturas del señor!
Che cospe-lhe en la cara. — Si son creaturas de Diós, entonces no deberiam usarse las perucas!!!
O inquisidor, limpando a saliva de Che de suas sobrancelhas, sai da casa, batendo a porta, justamente no momento em que o casebre é bombardeado com napalm pelos caças norte-imperialistas.

Para nossa surpresa, Guevara, apesar de carbonizado, permanece vivo na alma e no coração dos que nunca esquecerão o verdadeiro e profundo sentido da palavra esternoclidomastóideo. O espectro de Che continua a rondar a Fashion Rio 2016. E, inevitavelmente, todos morreremos no final.