The Philosopher's Drinking Song
Immanuel Kant was a real pissant
who was very rarely stable.
Heidegger, Heidegger was a boozy beggar
who could think you under the table.
David Hume could out consume
Wilhelm Friedrich Hegel,
And Wittgenstein was a beery swine
who was just as sloshed as Schlegel.
There's nothing Nietzsche couldn't teach ya
'bout the raisin' of the wrist.
Socrates himself was permanently pissed.
John Stuart Mill, of his own free will,
after half a pint of shandy was particularly ill.
Plato, they say, could stick it away,
'alf a crate of whiskey every day!
Aristotle, Aristotle was a bugger for the bottle,
and Hobbes was fond of his Dram.
And Rene Descartes was a drunken fart:
"I drink, therefore I am."
Yes, Socrates himself is particularly missed;
A lovely little thinker, but a bugger when he's pissed.
Monty Python
26.1.04
6.1.04
Possíveis manchetes do MÍDIA SEM MÁSCARA:
"Subdesenvolvidos fracassados e esquerdistas tentam desestabilizar a produção de carne no País da Liberdade"
"Goebels nunca mentiu"
"Socialistas-caviar caem de trem em Mogi das Cruzes"
"Exército da democracia elimina seis terroristas que se disfarçavam de criança no Afeganistão"
"Canibais socialistas reconhecem a própria incompetência e se retiram da democrática reconstrução do Iraque"
"Mídia esquerdista mente ao dizer que o Santo Papa considera Saddam Hussein um ser humano"
"Fidel, Farc e Arafat sabotam vôo da réplica do avião dos Irmãos Wright, verdadeiros pais da aviação"
"Rede Globo e Veja são agentes da revolução gramsciana"
"Dom e Ravel valem mais que Chico Buarque, socialista ignorante que merecia estar na cadeia"
"Arafat é financiado pelos traficantes do Rio de Janeiro"
Kolima
"Goebels nunca mentiu"
"Socialistas-caviar caem de trem em Mogi das Cruzes"
"Exército da democracia elimina seis terroristas que se disfarçavam de criança no Afeganistão"
"Canibais socialistas reconhecem a própria incompetência e se retiram da democrática reconstrução do Iraque"
"Mídia esquerdista mente ao dizer que o Santo Papa considera Saddam Hussein um ser humano"
"Fidel, Farc e Arafat sabotam vôo da réplica do avião dos Irmãos Wright, verdadeiros pais da aviação"
"Rede Globo e Veja são agentes da revolução gramsciana"
"Dom e Ravel valem mais que Chico Buarque, socialista ignorante que merecia estar na cadeia"
"Arafat é financiado pelos traficantes do Rio de Janeiro"
Kolima
5.1.04
O Vendedor de Catracas e o Imperador do Castelo das 999 Pontes Azuis
Era uma vez Pau-La-Pin, um jovem vendedor de catracas que vivia em um pequeno vilarejo à beira do rio Pin-Hei-Roo. Como nas aldeias da região todos já faziam uso dos seus controladores de circulação, o jovem vendedor de catracas resolveu partir em busca de novos mercados e conquistar negócios mais nobres em terras mais distantes.
Pau-La-Pin despediu-se de sua família. Beijou sua mãe, que chorava copiosamente, abraçou seu pai, que tocava lamentos de despedida em um instrumento feito de ossos de texugo, deu uma rapidinha com suas três esposas. Assim, o jovem vendedor de catracas partiu em viagem rumo ao Castelo das Pontes Azuis, acreditando que o Imperador pudesse - quem sabe - lhe firmar um contrato de exclusividade para as 999 pontes que conduziam ao Castelo.
Durante a longa viagem, por vezes extenuante, passando por desertos escaldantres e pântanos contaminados; atravessando rios caudalosos e furimbundos; ultrapassando montanhas que pareciam lamber os céus; fugindo de baratas, aranhas e pequenos roedores; copulando com preás e flamingos; Pau-La-Pin pensava até em desistir, questionando sua ambição por novos mercados para suas catracas.
Porém, depois de meses de longa jornada, o Castelo das Pontes Azuis emergiu na paisagem coroando o mais alto pico acima de um vale profundo coberto de nuvens muito brancas. Suas 999 pontes conduziam a um imenso portão principal com o formato da cabeça de uma garça azul. Tudo estava em silêncio e não se ouvia nem o zumbir de um inseto. Pau-La-Pin atravessou a ponte principal e adentrou o enorme Castelo despovoado. Seus passos ecoavam nas paredes ricamente adornadas. Lá dentro, no centro do Salão Esférico, todo recoberto de ouro e jade azul, encontrou o Imperador em seu manto de seda azul, sentado em seu trono azul, que a tudo monitorava por suas câmeras de segurança azuis.
– Ó nobilíssimo Imperador do Castelo das Pontes Azuis, vejo que possuis muitas pontes que conduzem ao seu castelo. Eu vendo catracas. Tamos aí nessa boquinha?
Ao que o sábio Imperador respondeu:
– Ora, ora, meu jovem e afoito vendedor de catracas… É muita petulância dirigires ao Imperador desta forma. Nós já possuímos um serviço de segurança magnífico, com monitoramento por satélite, infravermelho, raio-laser americano e o escambáu. Por que compraria catracas mequetrefes de um coitado como tu? Saibas que aqui no Castelo das Pontes Azuis apenas aceitaríamos nada mais e nada menos que a Catraca Perfeita. Tens essa Catraca Perfeita em estoque para pronta entrega?
Pau-La-Pin, assustado respondeu:
– Olha, no momento estamos em falta da Catraca Perfeita. Não serviria talvez uma Quase-Que-Perfeita com sensor ótico digital e cinco anos de garantia?
O Imperador levantou-se visivelmente transtornado e bradou:
– NÃO! Somente a Catraca Perfeita poderá ser instalada no Castelo das Pontes Azuis! Ó intrometido vendedor de catracas, se não trouxeres a Catraca Perfeita em exatamente 7 luas mandarei atirá-lo no Abismo das Nuvens Eternas que cerca o Castelo, onde as pessoas demoram 99 anos para atingir o fundo, que por sinal está repleto de cocô de dragão e guimbas de cigarro. Agora vá e não retorne sem a Catraca Perfeita. E com manual de instalação traduzido. Você tem sete luas! Vá!
Como que do ar, materializaram-se em torno de Pau-La-Pin 99 seguranças que o arrastaram até o fim da ponte principal.
Pau-La-Pin desolado, não sabia o que fazer. A lua, que emergia no céu e parecia sorrir-lhe com escárnio, avisava que seu tempo já estava correndo e que ele deveria partir imediatamente em busca da Catraca Perfeita. Claro que todos buscamos a Catraca Perfeita – pensou Pau-La-Pin – mas onde eu poderia encontrá-la?
As luas foram se sucedendo e por muitas terras perambulou Pau-La-Pin. Porém ele não descobriu quem soubesse aonde poderia encontrar essa tal Catraca Perfeita. Isso é apenas uma lenda, diziam. A Catraca Perfeita não existe; mais cedo ou mais tarde todas apresentam algum defeito de hardware, software ou nas partes mecânicas. As coisas tendem a degringolar, é assim mesmo, não tem jeito, é o princípio da entropia e bla bla bla. Mas Pau-La-Pin continuava obstinado em seu propósito de – mais do que agradar o Imperador – encontrar essa tal catraca. A Catraca Perfeita.
Depois de seis luas, com bolhas nos pés e chorando sentado em uma pedra à beira de um riacho, um uirapuru grená pousou no ombro de Pau-La-Pin e lhe disse:
– Crá! Se quiserdes encontrar a Catraca Perfeita deves procurar o Sábio do Condomínio Fechado. Crá!
– Claro! Que 9 mil gafanhotos comam minha túnica! Por que não pensei nisso antes!? O Sábio do Condomínio Fechado saberá me ajudar! Obrigado, uirapuru grená.
– Crá! Obrigado nada, vai... Ah, deixa pra lá! Tou só aqui para encurtar a história mesmo.
Exausto por sua busca interminável, o jovem vendedor de catracas finalmente chegou ao Condomínio Fechado com muralhas de 9 mil metros de altura e, pelo interfone, perguntou:
– O Sábio do Condomínio Fechado está aí?
– Vou ver se ele pode atender. Quem gostaria?
– É Pau-La-Pin.
– De onde?
– Pau-La-Pin, o vendedor de catracas.
O vendedor de catracas escuta pelo interfone vozes abafadas:
– É a pizza?
– Não, ó Grande Sábio do Condomínio Fechado, é um vendedor de catracas.
– Putamerda, de novo! Todo século aparecem esses malas, não faz nem uma década não apareceu aqui o vendedor de filtros de piscina, procurando o filtro de piscina inemtupível? Alou, fala rapaz!!!
Pau-La-Pin gaguejando responde:
– Ó Sábio do Condomínio Fechado, onde é possível encontrar a Catraca Perfeita, satisfazer o Imperador do Castelo das 999 Pontes Azuis e assim conquistar negócios mais nobres em terras mais distantes e por conseguinte ganhar mais um dim-dim para melhor poder sustentar a minha família?
– Hein? Por favor, você pode falar mais perto do interfone? Está com malcontato…
– Sim… Oi, tá me ouvindo? Alou? Viu, seu Sábio, onde é que eu encontro a tal Catraca Perfeita?
– Não é Sábio. É Fábio. Todo mundo acha que é Sábio por que o interfone tá com chiado. Mas é Fábio, viu? Eu sou o Fábio do Condomínio Fechado.
– Ahhh.
– Mas claro… Você deve ser o jovem vendedor de catracas em busca da Catraca Perfeita… Pois muito bem! Ouça com atenção o que tenho a lhe dizer. Só vou dizer uma vez. O interfone tá uma bosta. Tá ouvindo? Pois então, escuta só: Nenhum homem é uma ilha. Tá entendendo? Assim como nenhuma mulher é uma península. Nenhuma criança é um golfo e nenhum Imperador, por mais gordo que esteja, é uma montanha. Tá certo? Mas o soldado raso pode vir a ser um cabo. Entendeu? Bom, então é isso. Se o cara da pizza aparecer diga para passá-la por debaixo do portão, que o botão que abre a porta não tá funcionando direito também. Obrigado e boa noite.
Atônito, Pau-La-Pin apertou mais uma vez o botão do interfone.
– Mas como assim? Como assim? - Mas mais nenhuma resposta foi dada. O interfone realmente estava uma bosta.
Como seu prazo estava se esgotando e a última lua já surgia no céu, Pau-La-Pin decidiu voltar ao Imperador do Castelo das 999 Pontes Azuis e aceitar seu destino.
– E então, vendedor de catracas – disse ríspido o Imperador do Castelo das Pontes Azuis – onde está a minha Catraca Perfeita?
Cabisbaixo, diante do Imperador, Pau-La-Pin se curvou, fez todas as reverências possíveis e quando abria a boca para dizer que não havia encontrado a Catraca Perfeita sua mente se iluminou. Então disse ao imperador:
– A Catraca Perfeita, ó nobre Imperador, está dentro de nós mesmos.
O rosto do Imperador subitamente também se iluminou. Um grande sorriso desabrochou em sua face corroída pelas rugas seculares de preocupação com a segurança de seu castelo.
– Dentro de nós mesmos? - Perguntou, coçando sua longa e fina barba branca.
– Sim. A Catraca Perfeita é a Catraca Interior.
– Puxa vida, legal! - exclamou o Imperador - Bacana isso aí que você falou.
– Legal, né? Saquei isso agorinha mesmo. Puta lance místico. Assim, pum, de repente, saquei tudo!
– Superlegal, nossa, muito cabeça mesmo. Catraca Interior, gostei. Olha só: Meu caro vendedor de catracas, agora você passará a ser o Catraqueiro Oficial do Império com direito a prioridade em todos os contratos feitos em todas as pontes do reino e comissão de 7% nos demais equipamentos de segurança instalados. Gostou? Pois agora levante-se.
Pau-La-Pin sorridente ergueu-se sobre suas pernas cambaleantes. O Imperador colocou a mão sobre o seu ombro e ambos atravessaram o portal com formato de cabeça de garça azul e caminharam sobre as pontes azuis suspensas sobre o Abismo das Nuvens Eternas e brancas.
– Está vendo essas 999 pontes azuis? Você terá o controle de acesso sobre cada uma delas. Mas antes vamos só rever esse lance de catraca interior. Quer dizer que a Catraca Perfeita está dentro de você, não é?
– Sim.
O Imperador fez um gesto com a mão. – Seguranças, abram a barriga desse desgraçado. Se não encontrarem nenhuma catraca dentro do infeliz, joguem o corpo no abismo.
E assim foi feito. Como a Catraca Perfeita era apenas uma metáfora muito ruim, até hoje Pau-La-Pin continua caindo em direção ao fundo do abismo onde só há cocô de dragão, guimbas de cigarro e várias carcaças de espertalhões que acharam que poderiam engabelar o Imperador do Castelo das Pontes Azuis com literatura de auto-ajuda terceira categoria.
Pau-La-Pin despediu-se de sua família. Beijou sua mãe, que chorava copiosamente, abraçou seu pai, que tocava lamentos de despedida em um instrumento feito de ossos de texugo, deu uma rapidinha com suas três esposas. Assim, o jovem vendedor de catracas partiu em viagem rumo ao Castelo das Pontes Azuis, acreditando que o Imperador pudesse - quem sabe - lhe firmar um contrato de exclusividade para as 999 pontes que conduziam ao Castelo.
Durante a longa viagem, por vezes extenuante, passando por desertos escaldantres e pântanos contaminados; atravessando rios caudalosos e furimbundos; ultrapassando montanhas que pareciam lamber os céus; fugindo de baratas, aranhas e pequenos roedores; copulando com preás e flamingos; Pau-La-Pin pensava até em desistir, questionando sua ambição por novos mercados para suas catracas.
Porém, depois de meses de longa jornada, o Castelo das Pontes Azuis emergiu na paisagem coroando o mais alto pico acima de um vale profundo coberto de nuvens muito brancas. Suas 999 pontes conduziam a um imenso portão principal com o formato da cabeça de uma garça azul. Tudo estava em silêncio e não se ouvia nem o zumbir de um inseto. Pau-La-Pin atravessou a ponte principal e adentrou o enorme Castelo despovoado. Seus passos ecoavam nas paredes ricamente adornadas. Lá dentro, no centro do Salão Esférico, todo recoberto de ouro e jade azul, encontrou o Imperador em seu manto de seda azul, sentado em seu trono azul, que a tudo monitorava por suas câmeras de segurança azuis.
– Ó nobilíssimo Imperador do Castelo das Pontes Azuis, vejo que possuis muitas pontes que conduzem ao seu castelo. Eu vendo catracas. Tamos aí nessa boquinha?
Ao que o sábio Imperador respondeu:
– Ora, ora, meu jovem e afoito vendedor de catracas… É muita petulância dirigires ao Imperador desta forma. Nós já possuímos um serviço de segurança magnífico, com monitoramento por satélite, infravermelho, raio-laser americano e o escambáu. Por que compraria catracas mequetrefes de um coitado como tu? Saibas que aqui no Castelo das Pontes Azuis apenas aceitaríamos nada mais e nada menos que a Catraca Perfeita. Tens essa Catraca Perfeita em estoque para pronta entrega?
Pau-La-Pin, assustado respondeu:
– Olha, no momento estamos em falta da Catraca Perfeita. Não serviria talvez uma Quase-Que-Perfeita com sensor ótico digital e cinco anos de garantia?
O Imperador levantou-se visivelmente transtornado e bradou:
– NÃO! Somente a Catraca Perfeita poderá ser instalada no Castelo das Pontes Azuis! Ó intrometido vendedor de catracas, se não trouxeres a Catraca Perfeita em exatamente 7 luas mandarei atirá-lo no Abismo das Nuvens Eternas que cerca o Castelo, onde as pessoas demoram 99 anos para atingir o fundo, que por sinal está repleto de cocô de dragão e guimbas de cigarro. Agora vá e não retorne sem a Catraca Perfeita. E com manual de instalação traduzido. Você tem sete luas! Vá!
Como que do ar, materializaram-se em torno de Pau-La-Pin 99 seguranças que o arrastaram até o fim da ponte principal.
Pau-La-Pin desolado, não sabia o que fazer. A lua, que emergia no céu e parecia sorrir-lhe com escárnio, avisava que seu tempo já estava correndo e que ele deveria partir imediatamente em busca da Catraca Perfeita. Claro que todos buscamos a Catraca Perfeita – pensou Pau-La-Pin – mas onde eu poderia encontrá-la?
As luas foram se sucedendo e por muitas terras perambulou Pau-La-Pin. Porém ele não descobriu quem soubesse aonde poderia encontrar essa tal Catraca Perfeita. Isso é apenas uma lenda, diziam. A Catraca Perfeita não existe; mais cedo ou mais tarde todas apresentam algum defeito de hardware, software ou nas partes mecânicas. As coisas tendem a degringolar, é assim mesmo, não tem jeito, é o princípio da entropia e bla bla bla. Mas Pau-La-Pin continuava obstinado em seu propósito de – mais do que agradar o Imperador – encontrar essa tal catraca. A Catraca Perfeita.
Depois de seis luas, com bolhas nos pés e chorando sentado em uma pedra à beira de um riacho, um uirapuru grená pousou no ombro de Pau-La-Pin e lhe disse:
– Crá! Se quiserdes encontrar a Catraca Perfeita deves procurar o Sábio do Condomínio Fechado. Crá!
– Claro! Que 9 mil gafanhotos comam minha túnica! Por que não pensei nisso antes!? O Sábio do Condomínio Fechado saberá me ajudar! Obrigado, uirapuru grená.
– Crá! Obrigado nada, vai... Ah, deixa pra lá! Tou só aqui para encurtar a história mesmo.
Exausto por sua busca interminável, o jovem vendedor de catracas finalmente chegou ao Condomínio Fechado com muralhas de 9 mil metros de altura e, pelo interfone, perguntou:
– O Sábio do Condomínio Fechado está aí?
– Vou ver se ele pode atender. Quem gostaria?
– É Pau-La-Pin.
– De onde?
– Pau-La-Pin, o vendedor de catracas.
O vendedor de catracas escuta pelo interfone vozes abafadas:
– É a pizza?
– Não, ó Grande Sábio do Condomínio Fechado, é um vendedor de catracas.
– Putamerda, de novo! Todo século aparecem esses malas, não faz nem uma década não apareceu aqui o vendedor de filtros de piscina, procurando o filtro de piscina inemtupível? Alou, fala rapaz!!!
Pau-La-Pin gaguejando responde:
– Ó Sábio do Condomínio Fechado, onde é possível encontrar a Catraca Perfeita, satisfazer o Imperador do Castelo das 999 Pontes Azuis e assim conquistar negócios mais nobres em terras mais distantes e por conseguinte ganhar mais um dim-dim para melhor poder sustentar a minha família?
– Hein? Por favor, você pode falar mais perto do interfone? Está com malcontato…
– Sim… Oi, tá me ouvindo? Alou? Viu, seu Sábio, onde é que eu encontro a tal Catraca Perfeita?
– Não é Sábio. É Fábio. Todo mundo acha que é Sábio por que o interfone tá com chiado. Mas é Fábio, viu? Eu sou o Fábio do Condomínio Fechado.
– Ahhh.
– Mas claro… Você deve ser o jovem vendedor de catracas em busca da Catraca Perfeita… Pois muito bem! Ouça com atenção o que tenho a lhe dizer. Só vou dizer uma vez. O interfone tá uma bosta. Tá ouvindo? Pois então, escuta só: Nenhum homem é uma ilha. Tá entendendo? Assim como nenhuma mulher é uma península. Nenhuma criança é um golfo e nenhum Imperador, por mais gordo que esteja, é uma montanha. Tá certo? Mas o soldado raso pode vir a ser um cabo. Entendeu? Bom, então é isso. Se o cara da pizza aparecer diga para passá-la por debaixo do portão, que o botão que abre a porta não tá funcionando direito também. Obrigado e boa noite.
Atônito, Pau-La-Pin apertou mais uma vez o botão do interfone.
– Mas como assim? Como assim? - Mas mais nenhuma resposta foi dada. O interfone realmente estava uma bosta.
Como seu prazo estava se esgotando e a última lua já surgia no céu, Pau-La-Pin decidiu voltar ao Imperador do Castelo das 999 Pontes Azuis e aceitar seu destino.
– E então, vendedor de catracas – disse ríspido o Imperador do Castelo das Pontes Azuis – onde está a minha Catraca Perfeita?
Cabisbaixo, diante do Imperador, Pau-La-Pin se curvou, fez todas as reverências possíveis e quando abria a boca para dizer que não havia encontrado a Catraca Perfeita sua mente se iluminou. Então disse ao imperador:
– A Catraca Perfeita, ó nobre Imperador, está dentro de nós mesmos.
O rosto do Imperador subitamente também se iluminou. Um grande sorriso desabrochou em sua face corroída pelas rugas seculares de preocupação com a segurança de seu castelo.
– Dentro de nós mesmos? - Perguntou, coçando sua longa e fina barba branca.
– Sim. A Catraca Perfeita é a Catraca Interior.
– Puxa vida, legal! - exclamou o Imperador - Bacana isso aí que você falou.
– Legal, né? Saquei isso agorinha mesmo. Puta lance místico. Assim, pum, de repente, saquei tudo!
– Superlegal, nossa, muito cabeça mesmo. Catraca Interior, gostei. Olha só: Meu caro vendedor de catracas, agora você passará a ser o Catraqueiro Oficial do Império com direito a prioridade em todos os contratos feitos em todas as pontes do reino e comissão de 7% nos demais equipamentos de segurança instalados. Gostou? Pois agora levante-se.
Pau-La-Pin sorridente ergueu-se sobre suas pernas cambaleantes. O Imperador colocou a mão sobre o seu ombro e ambos atravessaram o portal com formato de cabeça de garça azul e caminharam sobre as pontes azuis suspensas sobre o Abismo das Nuvens Eternas e brancas.
– Está vendo essas 999 pontes azuis? Você terá o controle de acesso sobre cada uma delas. Mas antes vamos só rever esse lance de catraca interior. Quer dizer que a Catraca Perfeita está dentro de você, não é?
– Sim.
O Imperador fez um gesto com a mão. – Seguranças, abram a barriga desse desgraçado. Se não encontrarem nenhuma catraca dentro do infeliz, joguem o corpo no abismo.
E assim foi feito. Como a Catraca Perfeita era apenas uma metáfora muito ruim, até hoje Pau-La-Pin continua caindo em direção ao fundo do abismo onde só há cocô de dragão, guimbas de cigarro e várias carcaças de espertalhões que acharam que poderiam engabelar o Imperador do Castelo das Pontes Azuis com literatura de auto-ajuda terceira categoria.
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