16.6.06

Desvendando o Código Glauco Matoso

Capítulo 10

Professor Epaminondas examina novamente o documento amarelado e envelhecido. O papel contido no cartucho de Antônio Conselheiro revela-se um antigo decreto das Cortes Portuguesas, rubricado como autêntico pelo Padre Antônio Vieira, traduzido por Glauco Matoso, com prefácio de Raul Solnado e notas de rodapé de Nelson Ned. É um ato oficial do Governo Imperial Português, datado de 1578, tornando inválidas todas as ações administrativas outorgadas ou executadas por maçons.

Professor explica a Buluca que, como Dom Pedro I era maçom, a independência brasileira, de acordo com esse decreto, não poderia ter sido proclamada e estaria, portanto, invalidada, mudando para sempre os destinos de toda a Humanidade e melhorando substancialmente as chances de Portugal na Copa do Mundo.

Buluca fica atônita (de uma maneira nonchalante). "Isso quer dizer que o Brasil ainda é colônia de Portugal!?!?" "Sim! Você sabe o que significa isso?" "Significa que nós, mulheres, não precisaremos mais raspar as pernas nem as axilas?" "Significa que a partir da Independência nada mais na história do Brasil teve validade: a libertação dos escravos, a Proclamação da República, a Revolução de 30, o Maracanazo, Brasília, o Golpe de 64, a tintura do bigode do Sarney, a Xuxa, as privatizações, nada disso valeu, nada disso tem legitimidade, é como se nunca tivessem existido! Você entende isso, Buluca, você compreende as conseqüências disso que estou te dizendo? Você compreende???" "Professor, o senhor está com um pedacinho de couve no meio dos dentes..." "Aqui?" "Não, não, do outro lado." "Hmm… mmm… saiu?" "Ainda não." "Mmmmm… mmmm… E agora?" "Saiu, saiu."

Capítulo 11

Professor Epaminondas ficara com a cimitarra-dourada-faca-guinzo do árabe. Os intrincados arabescos já revelaram que não era uma cimitarra dourada de árabe assassino maluco comum. Parecia a cimitarra de árabe assassino maluco muito especial. Decidiram ir ao Centro de Estudos Secretos Árabes-Portugueses da Cidade de São Paulo e Adjacências, o CESAPCSPA, que se localizava na cozinha do Habib's da rua Augusta. "Você não sabia? O Habib's pertence à Alberto Saraiva, um português. Faz tudo parte do disfarce."

Passam por uma porta lateral do Habib's da Augusta, guardada por dois motoboys. O professor faz um sinal secreto batucando no capacete do motoboy e o este retribui cutucando o sovaco do professor. Eles se esgueiram por uma passagem estreita entre o tabule e a coalhada seca. Ao entrar na pequena cozinha o professor mostra a cimitarra para um sujeito ocupado em rechear esfihas. Esse cozinheiro, velho, magro, careca, óculos pesados, tem um rosto bastante familiar. É? Não é? Sim, é o José Saramago, que os recebe com um gentil e carregado sotaque lusitano. "Entrem, por favor, acaba de sair uma fornada de quibinhos. A menina está servida?"