31.5.06

A política é o departamento de entretenimento da indústria

F. Zappa

28.5.06

Stephen Colbert

a segregação dos fumantes,



o preço da gasolina,



e marijuana medicial



"I believe the government that governs best is the government that governs least. And by these standards, we have set up a fabulous government in Iraq."

Stephen Colbert at the 2006 White House Correspondents' Association Dinner, April 29, 2006.

25.5.06

O Nome da Cousa

Eu tenho uma mania estranha. (Tá, eu tenho várias manias estranhas. Não farei listinhas e que tais e depois as enviarei para 17 leitores pedindo cataloguem suas 17 manias mais estranhas e enviem junto com a resposta da pergunta "qual o nome do deputado que roubou papéis sigilosos da CPI dos correios e deu para a imprensa divulgar e ninguém deu a mínima pelota para a quebra de sigilo?" para a Caixa Postal do capeta e concorra a uma indignaçãozinha usada. Hoje falarei só de uma mania mesmo. Que nem é tão importante assim, é só à guisa de introdução para falar do livro da Fal. Bom. Onde estava? Ah, então, a mania…)

Eu tenho essa mania meio estranha. Mania antiga, dos tempos de moleque, dos tempos da coleção colorida dos Tesouros para a Juventude, não sei se vocês se lembram dela. Sempre que eu gostava muito, muito, de uma das histórias do livro eu deixava de ler as últimas páginas. Diversos livros, o Corcunda de Notre Dame, o Conde de Monte Cristo, os Três Mosqueteiros, todos ficaram com as últimas páginas incólumes, intocadas. E a mania persistiu na juventude. Não é um fenômeno que ocorre com os livros bons ou muito bons, apenas com aqueles que eu me identifiquei profundamente. Eu não li os finalzinho de dezenas de livros excelentes e que. Crime e Castigo, os Irmão Karamázov, O Jogo da Amarelinha, Cem anos de Solidão, a Bíblia…

É, naturalmente, um sintoma neurótico. Pois se o livro é genial, pra que abdicar do final? Justamente por isso, creio eu. Eu não quero que o livro acabe nunca. Quero que o universo criado pelo autor e compartilhado comigo não termine nunca, por isso essa procrastinação evitando a dor da facada do ponto final. É a suprema eternidade do livro inacabado.

Pois então. Isso tudo é para dizer que o livro novo da Fal, O Nome da Cousa, ficou semanas com a leitura com dez páginas por terminar e eu, incoscientemente, postergando, postergando. Significando o que?

Significa que o livrinho é duca! Eu rrrrecomendo efusivamente!

FAL.jpg

(Putz, não sei linkar direito. A imagem deveria levar para um sistema automático de compras mas acaba linkando para o flickr mesmo)


Um C&P básico:

"Advertência domingueira:
Cuidado com quem não sangra, com quem não tem nenhuma cicatriz, nenhum esqueleto no armário, nenhum corpo no porta-malas do carro, nenhuma marca do tempo e nem arrasta, vez por outra, umas correntezinhas pela casa mal-assombrada. Cuidado, sobretudo, com esses debilóides que repetem o que ouviram alguém mais debilóide ainda dizer "na vida só me arrependo do que não fiz".
Essa gente é um perigo.
Alguma coisa ali é péssima: ou a memória ou o caráter. Hum, ou ambos."



Do Blog para o Livro

A transição do texto que estava flutuando ciberneticamente na blogosfera para a materialidade de um livro é sempre uma espécie de assassinato. O texto inevitavelmente sufocará e morrerá no processo, e será encerrado em seu caixão de papel offset e capa colorida. Os amigos serão convidados ao velório do texto, também conhecido como "noite de autógrafos". Os escritos das orelhas do livro são as elegias. A contra-capa seu obituário. O texto que estava alegre e viçoso em seu blog passa a ter a vivacidade de uma florzinha que é colhida, guardada e esmagada no meio das páginas de um livro.

Porque um blog é uma coisa viva, meus caros. Ou vocês não repararam? O blog é uma coisa que a gente fala com ele e ele responde pra gente (têm uns que fingem que não ouvem, não se engane). Agora, experimente conversar com um livro pra você ver só. Os livros falam, mas não escutam. Livros, como estátuas, apenas aparentam estar vivos. Estão lá impávidos, com seus discursos petrificados, eternos e absolutamente surdos. E, ademais, o que são livros senão pequenos sarcófagos? O que são estantes de biblioteca senão grandes cemitérios? Eles estão mortos, embalsamados, they kicked the bucket, they shuffled off their mortal coil, rung down the curtain and joined the choir invisible! São um ex-papagaio. É necessário que se façam certos rituais para que os defuntos que jazem nos livros comecem a falar. E eles falam, falam bem, falam bonito, cousas muito louváveis e inteligentes. Mas falam com a pomposidade dos defuntos. Não me entendam mal. Livro é ótimo. Livro é genial. Livro é tudibom. Livro é fantástico porque eterniza, preserva os textos. Livro é para todo o sempre. Está lá escrito na lápide.

O blog, entrementes, é vivo e sendo vivo é efêmero. Esta é sua mágica. Um dia está lá todo inzoneiro, no outro dia já morreu, estagnou. Ou então - surpresa! - cresceu, amadureceu e até já vai no banheiro sozinho, ó que bonitinho. Todo blog passa por fases, períodos bons e outro nem tanto. Raríssimos são os autores que não oscilam de qualidade em seus textos ao longo dos anos. Quais os melhores blogs? Hoje são esses. Amanhã serão outros diferentes. E, vejam, não digo "amanhã" genericamente, digo daqui a 24 horas mesmo. Outra camada de posts surgirá e desbancará os belos posts de ontem. Pois é o que acontece: a maioria das pessoas lerá somente os últimos posts, que são as flores e as folhas que por último se estenderam em direção à luz. As vegetação antiga, os post velho, escurece e vai se tornar galho e tronco do blog. O blog é uma árvore que disputa darwinianamente a luz com as árvores dos blogs vizinhos. Folhas, flores, joaninhas, pintassilgos e os últimos comentários sobre o PCC, o futebol e a novela.

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Um entomologista espeta a bela borboleta no mostruário. Não é mais borboleta, ela agora é lepidóptero. Colocar o texto esvoaçante de um blog na caixa apertada de um livro é um pequenino crime. Mas com a Falcita de las Canduengas esse assasinato, como o de Thomas De Quincey, é uma das belas artes.
A Fal é soberana da língua internética e O Nome da Cousa é excelente. Ele reúne registros agridoces de uma mulher muito sagaz e talentosa mas que parece destinada a ser uma eterna sparring da Vida.

Beijão, querida!


PS - Ah! Eu terminei de ler as últimas páginas e o nome da Cousa, para quem não sabe, é (SPOILER ALERT!) Janecildes Vieira de Mendonça e Carvalho, Jane, para os íntimos com a cousa toda.

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PS2 - E, aproveitando o intervalo comercial, tem também o da Maira Parula, o NÃO FECHE SEUS OLHOS ESTA NOITE que eu ainda não li mas já adorei.

16.5.06

Tá dominado! Tá tudo dominado!

Exigências feitas pelo Primeiro Comando da Capital que NÃO foram negociadas pelo Governo de São Paulo e NÃO foram atendidas às 16:30hs de ontem, antes do Jornal Nacional.

- Banheiras de hidromassagem nas celas de Presidente Bernardes. Massagem tailandesa. Acupuntura.

- Um telão de plasma em cada cela do "comando" para poder ver a Copa do Mundo. Se possível, Ronaldinho deve, ao fazer um gol, comemorar mostrando a tatuagem do PCC.

- Permissão de visitas íntimas. Da Luana Piovanni, Cleo Pires e Juliana Paes. Na casa delas.

- A retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti.

- Férias remuneradas, décimo terceiro, licença maternidade, vale refeição, plano de milhagem.

- Que os uniformes dos presidiários sejam feitos pelo estilista Rogério Figueiredo.

- Que sejam permitidas duas horas de banho de sol diárias. Em Angra dos Reis.

- Que se instalem imediatamente bloqueadores de celulares no Palácio dos Bandeirantes.

- Que o Cláudio Lembo devolva imediatamente as sobrancelhas ao Boris Karloff.

- Que o Fleury se abstenha de abrir a boca em momentos de crise na segurança pública.

- Que lhes seja oferecida a vaga de vice na chapa de Alckimin.

- Que seja feito filme sobre a história e Glória do PCC feito pela Conspiração Filmes com verbas da Petrobrás. Marcola seria interpretado pelo Gianecchini, o Fernandinho Beira-Mar pelo Marcurélo e o Evo Morales pelo Zacarias.

- Que o Corinthians volte imediatamente à Copa Libertadores. Não, pensando bem, melhor nem jogar. Que mandem entregar a Taça de 2006 diretamente no Parque São Jorge.

atenciosamente,
PCC

15.5.06

Para mim já bastam
um pouco de Marte
e um monte de Vênus

12.5.06

Enquanto isso, naquele blog ali à direita…

Depois de mais um post resmungando sobre a inutilidade dos brasileiros, as palavras e os sinais gráficos fazem uma pausa no trabalho e relaxam tomando chá de jasmim sentadas sobre as caixinhas de comentário.

— Achei uma bostinha! — fala a conjunção balançando os pezinhos sobre a caixa de comentários enquanto mistura duas gotas de leite chá.
— O post? — pergunta o ponto de interrogação.
— Não, — diz a conjunção com um gesto vago da colherzinha — os leitores!
O predicado verbo-nominal completa — Eu também achei. Não são péssimos?
— Lamentáveis. — ecoa um advérbio — Você viu o carequinha que tirava meleca enquanto lia? E aquele outro que tinha um programa de mapa astral aberto no fundo da tela? Que gente mais ridícula.
— Yuk! E não é só isso. Tem leitor que vem aqui depois de ler a Veja Online.
— Oh, so disgusting! — tremelica um anglicismo!
— Me dá até uns asteriscos… — completa as reticências.
— Juro! Lêem a sessão de cartas da Veja e vem aqui sem nem mesmo tomar um banho antes, — o expletivo, irritado, pensa em pegar o ponto de exclamação para bater em todo mundo. — Me dá um nojinho! Que bando de corjas!
Uma adversativa tenta amainar — Calma, não é bem assim. Vocês estão generalizando, deve haver algum leitor decente.
— Que nada! São todos, todos, todos péssimos. Olha aquele ali nos espiando com aqueles óculos sujos: mal construído, alegórico, francamente caricato! — reclama o anacoluto.
Um artigo feminino aponta para o monitor com sua serifinha. — E esse que está lendo esta frase aqui, então, que parlapatão! É o pior de todos! Ele é uma verdadeira plétora de pastiches dos piores clichês de leitores. Olha aí, quer até deixar um comentário todo nervosinho.
— Escrever comentários… que indignidade! — indigna-se o expletivo fazendo chacoalhar a xicarazinha.
— Uma indignidade! — ecoa a redundância.
— Feliz era o Goethe cujos leitores liam o Werther e depois se matavam pulando da ponte, bebendo água sanitária, essas coisas. — continua o anacoluto — Aqueles sim eram leitores respeitáveis. Aqui, uns lêem até comendo fandangos sabor churrasco. Aposto que alguns sequer estão calçando sapatos ao ler o texto.
— Ou sequer usando roupas. — resume a conjunção.
A onomatopéia bufa — Pfui.
— É o fim, meus caros, é o fim. — Conclui o ponto final.

10.5.06

Mamãe Dolores

Já tentei assistir um capítulo inteiro de uma novela. De uma novela qualquer, qualquer novela, não importa qual. Jamais consigo chegar ao fim. Às vezes vejo uma cena ou duas, na terceira me sinto tão vilipendiado e açoitado pelas falas horríveis escritas de um modo porco e ditas de modo tão inadequado que desisto. Cada sentença proferida por um ator de novela é uma cotovelada no estômago, uma britadeira nos tímpanos, uma queimadura de terceiro grau nas mucosas. O esgar de sobrancelhas do ator ao arrematar a frase - sim, isso é interpretação! - é a cusparada final em minha alma vilipendiada.

Foi-me explicado que a seleção de atores para a teledramaturgia nacional tem o seguinte procedimento: eles dizem para o candidato pedir um café. Se o "um cafezinho, por favor" do calouro soar completamente falso e inverossímil então ele está imediatamente contratado; se a frase pronunciada empedrar instantaneamente o fígado do ouvinte e, ainda por cima, afugentar os cachorros do bairro, então já temos o protagonista da novela e cinco estrelas na porta do camarim.

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PS - As línguas maledicentes insinuam que a escolha dos atores costuma ser feita através do teste dos descamisados e só passa quem tem barriga de tanquinho. Não é certo. Minha barriga, mais que um tanquinho, já é uma autêntica divisão Panzer e nem por isso recebi qualquer convite da Grobo.

9.5.06

Karol Wojtyla:

o homem que mostrou a Stálin quantas divisões tinha o Papa.

5.5.06

Três bolas na trave e uma para fora

1 - O Corinthians é uma estátua com cabeça de ouro, torso de prata, pernas de bronze e salto alto de vidro. Chama o Zveiter!

2 - Getúlio Vargas era um volante de contenção que de vez em quando fazia uma jogada de efeito. Dava um lançamento de trivela, como o Dunga, que também era gaúcho. Mas sua especialidade era o tiro livre da marca do pênalti.

3 - Pai Ratapulgo prediz: O Campeonato Carioca de 2007 terá na decisão o time dos casados contra o dos sem camisa. Que vencerão respectivamente o time da contabilidade da Riotur e o dos veteranos do Olaria nas semifiinais.

Mas há sempre que se retomar os crássicos

O "Ronaldinho em Corinto" de Eurípedes, por exemplo, é uma pequena obra-prima da literatura universal. Salientando o lado mais humano-a-mano de Ronaldinho, mostra a paixão, ascensão e queda do Menino-Mito da arquibancada do Corinto durante o jogo contra o Atlético de Siracusa. Um crássico.

Outra obra fundamental do ciclo ronaldineano é a peça "Ronaldinho-Meu-Rei" de Sófocles. Nele, a luta contra o Destino Arretado é o eixo central. Em sua fuga para Bahia, num ônibus do Expresso Brasileiro, Ronaldinho descobre que é filho de sua própria mãe, prostituta e dançarina de axé no Oráculo de Feira de Santana. Aperreado com a revelação, fura os olhos de seu compadre Severiano Tirésias, só de farra. Depois dá três tecos na Esfinge-Traveca de Itaparica e torna-se Imperador-da-cocada-preta da Bahia do Egeu, Jônico e adjacências. Crássico dos crássicos.

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2.5.06

Nefelibata de carteirinha

marcelinaraczita03.jpg

Para que toda essa arte abstrata aí se existem nuvens? Mesmo na mais pavorosa cidade há nuvens. Mesmo a massa cinza de uma nuvem amorfa ainda será dezenas de vezes superior a um Rothko, a um Pollock, a um Mondrian. A sua janela já é uma moldura. Aliás, minto. A moldura é que foi criada para assemelhar-se a uma janela. Veja as nuvens douradas do crepúsculo. As brancas-carneirinhas do meio-dia. As plúmbeas de chuva. Aquela parece um dromedário e a outra lembra o ex-ministro Reis Velloso. As descabeladas Cirrus radiatus; as translúcidas Stratus undulatus; as elegantérrimas Altocumulus; e, claro, as poderosas e imponentes Cumulonimbus, minhas preferidas. A natureza tem coisas bonitas pra caramba. As nuvens estão dando espetáculo permanentemente. Sem cobrar ingresso. É arte subsidiada vinda diretamente da palheta divina. Para que ficar sujando telas com arte abstrata, então? Só para movimentar a indústria de vinhos brancos horrorosos das vernisages? Nah! Não vale a pena. O cavalheiro aí do fundo levantará a mão e dirá que há pessoas que não têm janelas, que têm muros de tijolos altíssimos cercando suas casas; ou que existem pessoas vivendo em containers lacrados amarradas em cobertores de lã espessa. Mas será que essas pessoas, meu gentil cavalheiro, não têm sequer dinheiro para comprar um bom microscópio e colocar um inseto, qualquer inseto, sob as lentes em suas horas de lazer? Se o senhor quer arte abstrata de altíssima categoria repare nos detalhes dos omatídeos de um pirilampo comum. Ou, se houver pelo menos uma fresta de janela em sua casa, repare nas nuvens que passam agora sobre seu bairro. Deixem as paredes em paz, eu digo, elas são suas amigas, elas não fizeram nada contra vocês, não as queiram mal, não as torturem. Abdiquem da arte abstrata e vão olhar pela janela. As paredes agradecem.


Semana que vem: as 293 vantagens da lareira sobre a TV aberta.

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A pedidos:

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