28.2.06

do grande caralho

O Polzonoff fez uma tentativa de podcast em seu blog. O tema do primeiro programa era mais ou menos sobre a morte da poesia e o enorme esforço que poetas contemporâneos fazem para que ela não ressucite jamais. Não ficou lá muito bom. Eu que - como todos sabem - apenas exerço a crítica construtiva e altaneira *blink* *blink* sugeri, muy modestamente, um outro formato de programa para o podcast literário.

O mapa da mina é: Rápidas entrevistas com diversos autores de vários gêneros literários, feitas por telefone mesmo. Ficariam ótimas principalmente se o entrevistador, completamente bêbado, ligasse de madrugada pra casa do entrevistado.

- Alô?!

- Unh… Aloum… é o Carpinejar?

- Hmmm… sim. Quem está falando?

- É o Paulo. Como você está, cara?

- … Paulo?

- Polzonoff, porra. Olhaí… távamos aqui no bar pensando por que todo mundo fica falando do Ulisses…

- Mas que Ulisses, Paulo? Você está bem?

- Tou uótemo, cara, uóootemo! O Ulisses do Joyce, porra… Puta clássico, né? Mas quem leu aquela merda?

- Paulo… São três da manhã… Minha mulher… (voz abafada) *Não… tá tudo bem, é o Paulo ligando bêbado de novo…*

- …Eu não li. Você leu? Ninguém leu aquela porra! Não leram nem o Finnes … hic… o Fildemans… hic… o Finnegan's Wake…

- Paulo, desculpe, vou ter que desligar. Amanhã — hoje! — eu prometi que iria bem cedinho levar a minha…

- Porra, Carpi, tou falando um troço sério aqui! Troço seríssimo… porra! Tou falando de alta literatura e de… hipocrisias, entende? Hipocrisias, cara… Porque aí chega o neguinho e fala: porra, esse Joyce é do caralho e tal, mas neguinho leu a porra do Aquiles?

- Ulisses.

- É, aquela tranqueira lá… não leu, né? Não é foda?

- É… hu-hum… é complicado, mesmo, Paulo. Escuta…

- Então valeu, velho! Ó, eu gravei tudo aqui nesse coisinho e vou colocar na internet, valeu?

- Se isso te fizer feliz.

- Porra, meu, ficou do grande caralho! Ó… Carpi… um puta baraço… abraço procê, viu?

- Te cuida, Paulo.

- Graaaaaaaande Carpi! Ficou uóotemo, cara! Do grande caralho!

- *suspiro* e *clic*

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Outras opções de entrevistas telefônicas para este podcast literário poderiam incluir:
- Uma operadora de telemarketing gerundista entrevistando o Mirisola, sem que ele perceba.
- Uma sequência de perguntas que seriam sempre respondidas da mesma forma pela secretária eletrônica do Paulo Coelho.
- etc
ratapulgo | Homepage | 28.02.06 - 3:03 am | #

Sugiro Pellizzari cum Mirisola. Entrevista conduzida por um jornalista da Veja.
Artur | 28.02.06 - 10:47 pm | #

Outra idéia interessante, Artur, é o Mirisola ou o Joca Terron ligar para o Reporter da Veja, de madrugada, e fazer sua auto entrevista sem que ele perceba:
- Alo? Quem está falando?
- Exatamente! Foi bom você tocar neste assunto. Nos meus romances a voz do narrador se mistura de tal forma com a das personagens que não se percebe bem quem está…
etc.
ratapulgo | Homepage | 03.03.06 - 5:45 pm | #

23.2.06

Ter medo de boiolice é coisa de viado.

20.2.06

You know what one of the greatest fucking scripts ever written in the history of Hollywood is? Top Gun.

Um filminho besta toda a vida. Sleep with Me. Mas tem uma pequena cena, absolutamente gratuita, na cozinha de uma festa onde o Tarantino (Sid) conversa com um outro bêbado pendurado por lá. Coisa fina, confira:

Sid: You want subversion on a massive level. You know what one of the greatest fucking scripts ever written in the history of Hollywood is? Top Gun.

Duane: Oh, come on.

Sid: Top Gun is fucking great. What is Top Gun? You think it's a story about a bunch of fighter pilots.

Duane: It's about a bunch of guys waving their dicks around.

Sid: It is a story about a man's struggle with his own homosexuality. It is! That is what Top Gun is about, man. You've got Maverick, all right? He's on the edge, man. He's right on the fucking line, all right? And you've got Iceman, and all his crew. They're gay, they represent the gay man, all right? And they're saying, go, go the gay way, go the gay way. He could go both ways.

Duane: What about Kelly McGillis?

Sid: Kelly McGillis, she's heterosexuality. She's saying: no, no, no, no, no, no, go the normal way, play by the rules, go the normal way. They're saying no, go the gay way, be the gay way, go for the gay way, all right? That is what's going on throughout that whole movie... He goes to her house, all right? It looks like they're going to have sex, you know, they're just kind of sitting back, he's takin' a shower and everything. They don't have sex. He gets on the motorcycle, drives away. She's like, "What the fuck, what the fuck is going on here?" Next scene, next scene you see her, she's in the elevator, she is dressed like a guy. She's got the cap on, she's got the aviator glasses, she's wearing the same jacket that the Iceman wears. She is, okay, this is how I gotta get this guy, this guy's going towards the gay way, I gotta bring him back, I gotta bring him back from the gay way, so I'll do that through subterfuge, I'm gonna dress like a man. All right? That is how she approaches it. Okay, now let me just ask you - I'm gonna digress for two seconds here. I met this girl Amy here, she's like floating around here and everything. Now, she just got divorced, right? All right, but the REAL ending of the movie is when they fight the MIGs at the end, all right? Because he has passed over into the gay way. They are this gay fighting fucking force, all right? And they're beating the Russians, the gays are beating the Russians. And it's over, and they fucking land, and Iceman's been trying to get Maverick the entire time, and finally, he's got him, all right? And what is the last fucking line that they have together? They're all hugging and kissing and happy with each other, and Ice comes up to Maverick, and he says, "Man, you can ride my tail, anytime!" And what does Maverick say? "You can ride mine!" Swordfight! Swordfight! Fuckin' A, man!

18.2.06

Quando o Homem de Bucareste chegar

Serão tempos dos pulmões de areia e chumbo,
As sementes secarão nas palmas das mãos,
Colheitas se perderão, as frutas murcharão,
Nas casas, uma a uma, todas as janelas se fecharão.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

Ônibus e metrôs correrão vazios e sem direção,
Samurais de papelão e farrapos vagarão pelas esquinas,
Proxenetas se arrependerão, as igrejas lotarão,
Moleques se encharcarão de rum, éter e gasolina.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

Cíclopes reumáticos de eletricidade, serpentes de carvão,
Cães uivarão o Silêncio nas cidades, aves rastejarão,
Dunas de areia invadirão as escolas e prefeituras,
Um vento negro e viscoso soprará quente do sudoeste.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

Não haverá mais Páscoa
Não haverá café-da-manhã
Não haverá mais vitrines
Não haverá mais canções
Não haverá despedidas
Não haverá salvação

Anjos despencarão de suas coberturas,
Lágrimas de querosene as estátuas chorarão,
Silhuetas sujas e desesperadas peregrinarão
por água, provisão e lanternas em vão.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

O asfalto queimará, os bueiros, todos, vomitarão,
Motores soltarão urros furiosos e depois estacarão,
A Lua amarela sangrará, o céu se estilhaçará
Em agudas lâminas de concreto, aço e latão.

Quando chegar o Homem de Bucareste
Quando o Homem de Bucareste chegar

E o Homem de Bucareste,
Com seu sorriso ancestral,
Tirará seus óculos escuros
Que cobre as órbitas vazias,
Acenderá um cigarro sem filtro
E nos consolará dizendo que está tudo bem
que não foi nada,
que já passou,
que a vida continua,
que tudo, tudo se ajeitará.

apenas pedirá para tomar um certo cuidado
pois comentam a boca pequena
que o Homem de Istambul
virá no final da semana.

16.2.06

um crime, uma ofensa a minha pessoa, uma agressão

Rudyard Kipling considerava entrevistas, de um modo geral, uma coisa absolutamente repugnante: "Por que me recuso a ser entrevistado? Porque isso é imoral! É um crime, uma ofensa à minha pessoa, uma agressão, e como tal merece castigo. Isso é desleal e mesquinho. Nenhum homem de respeito pediria uma coisa dessa, muito menos a concederia!"

Tendo estas retumbantes frases ricocheteando em meu crânio, decidi reunir a fina flor da imprensa local para uma coletiva, regada com muito suco de melancia e adubada com deliciosos space-cookies, no elegante jardim da casa de minha faxineira.


A Gazeta de Parelheiros - Em que idade tiveste a tua primeira relação sexual com horti-fruti-granjeiros? Houve reclamações do pessoal do supermercado?

Ratapulgo - Veja bem… (limpa a garganta) Ronald Golias já nos informava, no tomo terceiro de suas obras completas, que a política é coisa suja e rasteira. Eu concordo. Acho uma indignidade ficar discutindo questões políticas no próprio blog. É como criar porcos e ovelhas no tapete da sala. O lugar correto do comentário político é sempre do lado de fora, na caixa de recados do blog vizinho.

Jornal Falha de São Paulo - Quantas andorinhas são necessárias para carregar um coco da África para a Europa?

Ratapulgo - É uma pergunta capciosa. Pessoalmente creio terem sido feitos grandes avanços contra a corrupção durante o governo do PT. Sim, eu sei o que você está pensando. Não adianta fazer esse muxoxo. Eu também acompanhei tudo pela tevê, todo dia, como uma tia-avó se embebedando religiosamente com a novela das oito. Acompanhei com tal afinco que até comecei a fazer as contas: puxa, se no governo FHC um deputado, como o Ronivon Santiago, era comprado por 200 mil por votação e no governo do Lula um deputado passou a custar 30 mil por mês, quer dizer que houve uma economia espantosa de recursos investidos na corrupção dos parlamentares! Em um mês tem quantas votações no congresso? Umas 15, 20? Uma pechincha. Continuando nessa toada em pouco tempo os deputados já poderão ser comprados por três maços de Minister e dois sonhos-de-valsa por semestre.

Jornal O Estado de Espírito (Santo) - Como faz vossa senhoria para que seus cabelos fiquem sempre longos, macios e sedosos?

Ratapulgo - (descruza as pernas, coça o saco e volta a cruzá-las) Creio que a esquerda continuará firme e altaneira em seu novo papel histórico que é o de subornar políticos de direita para que aprovem no congresso projetos neoliberais.

O Nacional de Muzambinho - Qual é exatamente a diferença entre o Ralf Fiennes e o Liam Neeson?

Ratapulgo - Sim. O governo atual é de esquerda. O que não está claro se é da esquerda de quem vem ou de quem vai.

Metrô News - Em terra de olho quem tem um cego… errei?

Ratapulgo - Sem dúvida! (faz uma bolha de sabão com seu cachimbo). A Fernanda Young é o Diogo Mainardi sem calcinhas.

O Acendedor da Opus Dei - Por que todas as suas respostas tentam forçar uma conotação política? Por que essa ira santa? E essa saúde civil? What's your fucking problem, man?

Ratapulgo - A esperança é o único privilégio negado a Deus. Quem foi que falou isso mesmo? Eu anotei aqui num papelzinho e não lembro mais. Não sei se entendi direito, mas é bacana, né? (repete lentamente) A esperança é o único privilégio negado a Deus. (olha para o céu, suspira, olha para os entrevistadores, olha novamente para o céu fazendo a cara que Joey consagrou como "smell the fart". Depois faz um gesto amplo em direção aos jardins) Bom, meus caros, aproveitem o dia, usufruam das comodidades da casa. Temos uma piscina só de loiras, outra de ruivas e uma terceira de very-libertarians brunettes. Voltarei à minha hibernação. Se desejarem a qualquer momento falar comigo é só puxar essa cordinha que rapidamente levantará a grade que os separam de onze dobermans famintos. Obrigado. Até mais. Thank you, sao paolo!!